Inugami, o Deus cachorro

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A bala ensanguentada caiu no chão em tilintares metálicos acompanhados pelo grunhido de dor e a pinça que utilizara para retirar a cápsula da coxa. Matteo respirou ofegante e pressionou a ferida pouco depois de derramar a única coisa que tinha pela proximidade para desinfectar: uma velha garrafa de bebida. 

Em seguida amarrou um pano na região e deitou exausto sobre a cama. Sentia seu corpo totalmente dolorido e por alguns longos minutos sua mente se permitiu relaxar apesar da dor. 

Estava em casa e seguro, apesar dos machucados daquele dia e da exaustão, e podia não se preocupar, ao menos um pouco. Entretanto, alguns momentos daquela missão ainda permaneciam rodeando a sua mente. 

Primeiro havia Yuki-onna que não sabia do paradeiro, talvez estivesse soterrada pela estrutura que desabou ou estivesse viva em algum canto, mas esperava não a encontrar tão cedo. Sabia de todo o histórico da mulher de aparência fofa e sua extensa pesquisa sobre toxinas, era uma especialista em ataques que envolviam venenos, seja por gás ou em armas e de fato sua estratégia era perigosa para qualquer um. 

Não sabia qual era o limite para o que a mulher era capaz de fazer e só de conseguir transformar toxinas em flocos de neve para adentrarem no corpo pelo mínimo contato já era algo assustador, se não tivesse a menor noção de com quem estavam lidando possivelmente estariam mortos aquela altura. 

Outro ponto que não saia de sua mente era Gael. Não somente ele, mas tudo que o envolvia, toda sua história sobre não se lembrar de sua vida, seu jeito impassível e sem sentimentos, mas que estranhamente sentia que havia algo ali, mesmo que não ficasse evidente. Ele os havia salvo sem titubear e oferecido para os levar de volta e em segurança, mas ainda restava a dúvida se aquela reação era só algo programado em si ou se realmente teve a vontade de salvá-los. 

Deveria confiar mais nele depois disso? Ou ao menos dar o primeiro passo para confiar? Afinal, colocara suas vidas nas mãos dele e sobreviveram.

O som de batidas em sua porta o fez sentar novamente e falar um sério "pode entrar", enquanto alcançava sua arma por pura precaução. 

A madeira se abriu e Gael entrou em passos tranquilos, seus olhos passeando pelo cômodo e parando sobre a mão alheia que segurava a pistola. 

— Represento um perigo para você? — questionou voltando o olhar para o rosto de Matteo, recebendo as orbes astutas atentas a si como resposta. 

— No momento não, mas não sei se posso confiar em você. Não ainda. 

— Por que não? O que te faz não confiar em mim? 

— Não consigo saber quando está mentindo ou não — afirmou o moreno, seus pés se apoiando contra o chão. — Até que ponto tudo o que disse e faz são reais ou apenas enganação... Não sei qual o seu objetivo. 

— Eu lhe disse tudo o que eu sei, Kitsune. Não iria mentir para você ou para Karasu. Tudo o que fiz ou falei são a realidade que conheço. E meu objetivo é sobreviver, apenas isso. 

— E por que não? Seria fácil mentir para quem você acabou de conhecer. 

— Porque eu devo minha vida a vocês. Posso não sentir muitas coisas, mas eu entendo o conceito de ingratidão e lealdade. Vocês me deixaram ficar aqui e até mesmo arranjaram algo para que eu fizesse. 

O moreno respirou fundo com aquele comentário, seu corpo se inclinando levemente para frente e seu olhar ficando mais sério e tenso. Em seguida se levantou e se aproximou, ficando frente a frente com o maior, seu rosto se erguendo para encará-lo. 

— Falei algo errado, Kitsune? 

— Matteo. Meu nome é Matteo — pontuou o menor tornando a se afastar. — Não que signifique algo de importante... Ainda precisamos ir até Han'yo, então, irei verificar se a Karasu está acordada para partirmos. 

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