imperdoável

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A tensão se estendeu por longos minutos até que a música se findasse e recomeçasse mais uma vez. Ninguém parecia que diria nada naquele momento. Han'yo suspirou e tornou a encher os copos com o líquido avermelhado, em seguida apoiou suas mãos sobre o balcão, seus olhos passeando pelos três a sua frente. 

— Sabe, é difícil para uma mãe não saber do paradeiro de seu único filho... Nem ao menos sei se ele está bem ou se alimentando direito. Você sabe que ele sempre teve esse jeito explosivo e briguento, me preocupo se ele não tem mexido com pessoas perigosas demais para ele  — pontuou a mulher, seus dedos batendo suavemente contra a madeira envelhecida do balcão. 

— Deve ser complicado para você. Ainda mais agora que Ushi-oni está morto... Para onde ele foi depois que o chefe dele morreu é uma questão difícil de responder — comentou Eva, sua mão virando o líquido para sua garganta. 

— Aceite que ele já não é mais seu filho, Han'yo. Pelo menos não o que você conheceu... E ele está envolvido até o pescoço com gente perigosa, inclusive ele mesmo.

— Eu sei que ele não é mais o mesmo depois que foi embora de casa, mas ainda é o meu garotinho... 

Matteo nada disse, apenas se voltou para sua bebida e a ingeriu, encarando com evidente raiva e irritação o copo vazio. 

— Ele foi embora faz tempo? Não lembro de o ter visto por aqui. Não nos últimos dois anos — questionou Eva, deixando um pouco de lado as irritações alheias e tentando se focar em arranjar mais detalhes sobre o paradeiro do outro. 

— Faz pouco mais de três anos... Quando ele se juntou ao Ushi-oni... Ainda não entendo o porquê ele fez isso. Não tinhamos a melhor vida, mas não era tão ruim assim para que ele me deixasse sem qualquer aviso. 

— Por isso pediu para irmos até Ushi-oni? Para saber sobre seu filho? — Gael se adiantou em perguntar, juntando os fatos passados com extrema facilidade. 

— Sim, desculpe omitir essa parte de vocês, contudo eu tinha certeza que seria complicado convencê-lo se tivesse dito a verdade. 

O moreno rangeu os dentes em irritação e apoiou sua mão robótica sobre o balcão, em um baque alto e duro. Seu olhar se desviou para um canto qualquer do bar e um suspiro frustrado deixou seus lábios. 

— Por que precisa tornar isso tão difícil, Kitty? Vocês eram tão próximos... Ele ainda deve frequentar os mesmos lugares ou manter algum esconderijo que você saiba o paradeiro. Eu entendo que tem coisas que os filhos não contam para suas mães. 

— Éramos, mas agora não temos mais vínculo algum. Inugami não significa nada para mim além de um maldito desgraçado que eu mataria se pudesse — vociferou o moreno, seus dedos mecânicos se fechando em punho. 

— Está se exaltando demais, não acha? Não se fala algo do tipo para a mãe da pessoa... — disse Eva um tanto atordoada com a raiva alheia sendo despejada de forma tão clara, normalmente Matteo reagiria com sarcasmo e ironias ou apenas daria as costas para ir embora. — Acho que é hora de ir para casa... Estamos todos cansados e estressados... 

— Deixe-o falar, não tem problema... Inugami não é uma flor que se cheire, sei disso muito bem, afinal, eu que o criei — afirmou Han'yo. 

— Me exaltando? Estou muito bem controlado se comparado ao que ele me fez... — Matteo se levantou, dessa vez espalmando suas mãos sobre o balcão, mantendo seu olhar fixo na enorme mulher a sua frente. — Eu nunca vou perdoá-lo pelo que ele me tirou e se quer que eu o traga aqui, o trarei igual ele. — O moreno apontou para a cabeça decepada de Ushi-oni. 

— O que ele te fez de tão imperdoável assim? Pelo que entendi vocês eram amigos no passado agora parece que ele é seu inimigo número 1 — comentou Gael, o olhar indiferente se encontrando com os olhos em chamas de irritação. 

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