— Não tem medo? Eu... E se algo acontecer? Eu não sei tudo o que posso fazer...
— Você tem medo de me matar, Gael? — questionou Matteo, ainda mantendo suas mãos sobre a face de Gael. — Você poderia ter me matado em qualquer momento. Eu te dei espadas, uma arma, deixei que estivesse com elas em mãos enquanto estava comigo, mas você não me matou, mesmo que a oportunidade estivesse bem diante dos seus olhos.
— Eu... Acho que sim... Acho que tenho medo de mim agora... Como se lembrar que fui projetado para matar me fizesse... Ter medo desse objetivo... E o que me impede de te matar a qualquer momento?
— Por que não me diz você? — Matteo se levantou da cama e pegou a arma, destravando-a e colocando sobre as mãos de Gael, fazendo-o mirar em seu coração. — Puxe o gatilho.
— Matteo, eu não... Não posso fazer isso...
— Por que não? Você não é uma arma feita só para matar? Então atire bem aqui e me mate de uma vez. — Matteo levou sua mão boa até o cano da arma e a manteve apontada para si. — Vamos, puxe o gatilho.
— Porque.... Porque eu não quero te matar, eu não... Não quero te perder — afirmou Gael, sua mão soltou a arma e a deixou cair contra o chão. — Eu tenho medo de não ter mais você comigo.
— Não é essa a resposta que queria? — perguntou Matteo, seu pé afastou a arma para mais longe. — Se você não quer me matar, você não precisa o fazer, você está no controle do seu corpo, só mate quando for necessário.
— E se algum dia eu não estiver no controle?
— Se isso acontecer, eu estarei com você para te trazer de volta ao controle — afirmou Matteo subindo novamente na cama. — Você confia em mim o suficiente para isso? Para deixar o medo de lado e se permitir ser mais do que uma arma? Se permitir ser humano?
— Eu confio...
— Então podemos recomeçar? Quero te provar que seu corpo é muito mais do que uma arma, tem outras funções além de matar.
— E quais as outras funções do meu corpo?
— Primeiro, vou te mostrar como seu corpo tem a função de sentir — pontuou Matteo voltando a se ajeitar no colo do outro, seus lábios roçaram contra os de Gael, sua língua deslizou sobre a pele. — Depois como pode sentir muito mais do que meus toques, como é sentir prazer.
— E o que eu faço?
— Faça o que quiser fazer, mas não precisa fazer nada por agora, apenas me deixe aproveitar um pouco de você — pontuou Matteo, suas mãos acariciando o corpo maior, enquanto roçava ainda mais seus lábios sem realmente aprofundar aquele toque.
Gael respirou fundo e ergueu sua mão de forma hesitante, talvez por medo, ou pelas palavras ainda ressoarem tão claras em sua mente. Por que havia se lembrado daquilo justo nesse instante? Lembrava em breves lampejos daquele momento, de olhar seu corpo nu em um espelho, exposto a força e obrigado a se encarar, os cortes e incisões ainda bem presentes contra sua pele.
E não estava só. Talvez fosse aquele detalhe que houvesse desencadeado a memória, ver seu corpo despido de parte de suas vestes na frente de outro alguém. Claro que eram situações completamente diferentes, mas haviam seus quês de similitude.
O corpo menor se apoiou sobre o maior, suas mãos deslizando pelo pescoço e o puxando para si, tornando a lhe tomar os lábios com sede. Seu quadril se remexia e se ajeitava sobre o colo dele, roçando com afinco a parte despida do outro com a sua sob os panos. O frio já começava a não fazer qualquer diferença pelo calor que começava a subir por seu ventre.
Matteo deixou sua língua passear faminta pela boca de Gael, explorando cada canto inexplorado, indo fundo e dançando sensualmente em companhia do músculo úmido do outro. Seus dentes rasparam contra os lábios do rapaz maior e um riso empolgado e solto deixou sua boca ao senti-lo ofegar entre seus beijos.
Podia sentir o volume tomar forma sob seu corpo e, cada vez que roçava contra ele, parecia que uma calorosa festa entrava em polvorosa em seu interior embriagado e ladino. Era só mais uma prova para si de que Gael sentia, de que suas partículas também reagiam a si, que seus toques tinham efeito. Era como estar no céu, mesmo vivendo no próprio inferno.
Se havia um céu na terra, talvez existisse um céu no inferno e ele sentia que presenciava tal benção divina, apesar de não acreditar em algo além da maldição que lhe foi incubida no nascimento.
Matteo levou uma de suas mãos para o meio das pernas de Gael, tocando o membro com seus dedos, rodeando-o e acariciando lentamente. Pelo toque, pode perceber que aquela região não parecia revestida de titânio, assim como as partes dobráveis de seu corpo.
E tal fato só ajudou a colocar mais lenha no fogo crepitante em seu baixo ventre. Se não havia o revestimento, Gael definitivamente sentia seus toques naquela região, o que tornava tudo mais excitante.
A mente de Matteo era um turbilhão de pensamentos, ideias e teorias, todas rodeando sua mente embriagada e explodindo em emoções difusas e desordenadas. Estava afoito, ávido a levar aquilo adiante.
Seus joelhos tornaram a deslizar pelo colchão, alcançando o chão e sua boca se abriu levemente em expectativa.
— Tudo bem se eu continuar? — questionou Matteo, seu olhar subiu para o rosto de Gael em anseio.
— Tudo bem... Eu... Pode continuar.
Matteo deixou sua língua deslizar para fora de sua boca e lambeu a extensão do membro dele, ouvindo sua respiração mudar de tom quando o fez. Seus dedos passearam pela parte de trás do joelho do outro, acariciando a região.
Sua boca lentamente se encaixou sobre o pau de Gael, deslizando-o para o interior quente e molhado até acomodá-lo por completo ali. Em seguida, subiu e desceu em uma cadência tranquila, deixando-o quase escapar por seus lábios e retomar a devorá-lo.
As mãos de Gael repousaram sobre os fios escuros, embrenhando-se ali, a mente tentando assimilar as reações e sensações singulares que percorriam seu corpo. Gael podia sentir o toque quente reverberar por todo o seu interior e seu fluxo sanguíneo se acelerar, percorrendo cada canto, ativando a sua percepção sobre tudo o que acontecia consigo.
— Matteo... — A voz sempre tão linear soara sutilmente trêmula, seguida de um respiro mais profundo.
— Você consegue sentir? — questionou Matteo retirando o pau dele de sua boca em um estalo molhado, sua língua lambeu toda as extensão, deixando-o mais úmido. — Está bom para você desse jeito?
— Consigo... Está, estava melhor com a sua boca.
Matteo deu uma baixa risada com o comentário, achando graça na forma sincera e quase ingênua com que ele dissera aquilo. Logo tornou a colocá-lo em sua boca e chupar com cada vez mais avidez aquela região tão atrativa para si.
Sua língua passeava pela extensão conforme seus lábios deslizavam para cima e para baixo, suas unhas raspavam pela epiderme da área sensível. Podia sentir a mão de Gael se afundar cada vez mais em seus cabelos, em um quase desespero afobado e inconsciente, como se seu corpo reagisse quase por vontade própria.
As reações mínimas do outro já eram um gigantesco incentivo para Matteo que o chupava com cada vez mais dedicação, enfiando-o fundo em sua garganta. Sua boca sugava com avidez e sede, devorando-o completamente, se perdendo naquele ato.
Era bem melhor do que imaginara que seria, era tão único, singular e tão humano tê-lo entre seus lábios que a conversa anterior havia se perdido no espaço. Ele era realmente só uma arma? Então por que seu gosto era tão humano? Tão distinto?
Suas mãos se agarraram as coxas, sentindo a dureza do titânio ali, uma lembrança de que também havia aquela mistura maquinal e robótica do outro, mas que definitivamente não cancelava toda sua humanidade.
Cada vez mais que o conhecia, mais tinha a certeza de que ele sentia tanto quanto a si próprio, apenas não sabia expressar por sua face ou compreender na totalidade e correlacionar as reações as emoções.
Sua boca deslizava ainda mais afoita e afobada, querendo saborear tudo o que podia dele, provar ao máximo o que Gael poderia lhe oferecer. Seu próprio membro parecia clamar por atenção, mas estava tão imerso no que fazia que não se importava em aguentar mais naquela agoniante sensação de excitação.
— Matteo... — chamou Gael, a voz tremulando e seus dedos se prenderam mais aos fios escuros, tentando afastá-lo em uma clara confusão. — Espera, eu... Matteo...
Matteo riu baixo, fazendo o membro dele vibrar com sua ação, podia perceber pela forma como o seu corpo estava agitado e afoito que deveria estar prestes a gozar e, possivelmente, o desconhecimento do que significa as reações intensas daquele momento o levassem a querer afastá-lo.
— Relaxa, deixe vir — pontuou Matteo se concentrando na glande, deixando sua língua rodear a região. — Não precisa ter medo de me machucar, é só o seu corpo reagindo ao que estou fazendo.
Gael assentiu e soltou o ar em seus pulmões, seus olhos se fecharam involuntariamente quando sentiu a pressão em seu interior subir por seu ventre, deslizando para fora e preenchendo os lábios do outro.
Quente, espesso e viscoso, assim como o de qualquer pessoa comum, o gosto levemente amargo que se impregnava por completo na boca, escorrendo pela garganta e deixando seus resquícios.
Matteo se deixou ficar ali, aproveitando os últimos sabores do local, percorrendo com sua língua toda a extensão do membro do outro, sem deixar qualquer vestígio para trás. Seus lábios continuaram em seu entorno até que sentisse que começava a voltar a flacidez típica.
— Pareceu bem humano para mim — pontuou Matteo lambendo os lábios e voltou a subir na cama, aproximando seu corpo de Gael. — Ainda estou vivo... O que prova que você é muito mais do que uma arma.
Gael respirou ofegante, seu coração batia acelerado em seu peito e, apesar de seus batimentos não transpassarem pelo toque, Matteo imaginava quais eram suas reações internas.
— Eu... Obrigado por isso... Eu posso te beijar? — questionou Gael, seu olhar se chocando com o de Matteo que abriu um largo sorriso e selou seus lábios.
Suas mãos se apoiaram nos ombros de Gael e o empurraram para trás até que deitasse completamente na cama. Suas pernas deslizaram sob seu corpo, mantendo seu peso sobre ele enquanto o beijava com ainda mais afinco e empolgação.
Matteo se afastou levemente, respirando ofegante pelo exercício e afobação. Seu olhar percorreu a face apática do outro, mas parou abruptamente ao notar o pequeno acúmulo de umidade em suas orbes que parecia que transbordaria a qualquer instante.
— Ei, você está chorando — mencionou Matteo, seus dedos tocaram a face dele e capturou a lágrima pouco depois de deixar o olhar, mostrando para o outro.
— Eu... Estou? — Gael levou seus dedos para o rosto, tocando na região úmida. — Estou triste?
— Não, eu acho... Quer dizer, ninguém fica triste depois de um boquete... Podemos chorar por outros motivos — mencionou Matteo, seus lábios tocaram as bochechas dele em pequenos selares. — Felicidade, alívio... Choramos quando o sentimento não cabe mais dentro da gente e precisa sair de alguma forma.
Gael pareceu pensar a respeito de cada uma daquelas palavras, buscando o sentido daquilo, daquela maneira tão humana e singular de transpassar os sentimentos, de transbordar para fora de seu corpo em forma de água.
— É salgado... — comentou ao sentir uma das lágrimas cair sobre seus lábios e adentrar em sua boca. — Sentimentos são estranhamente salgados.
— Porra, Gael, você é tão fofo — comentou Matteo, seu rosto se enterrando na curvatura do pescoço do outro. — Eu... Acho que estou me apaixonando por você... — murmurou baixo, sua voz sendo abafada contra a pele de Gael.
— Isso é algo bom? Se apaixonar por alguém? — questionou Gael, sua mão voltou a repousar sobre os cabelos de Matteo em breves afagos mecânicos.
— Depende... Se apaixonar é... Bom quando é algo recíproco, mas pode ser doloroso se não for.
— Então eu preciso me apaixonar por você para ser algo bom?
— Não... Nós não controlamos nossos sentimentos, então... Vou ter que lidar com o fato se você não me corresponder... Você não é obrigado a sentir o mesmo que eu.
— Mas eu quero, quero que seja algo bom para você, quero saber como é me apaixonar por você também.
Matteo abriu mais um largo sorriso e passou a distribuir beijos animados por todo seu rosto.
— Já me parece bom o suficiente que queira. Vou me esforçar para que se apaixone por mim — pontuou Matteo, seu corpo deitou ao lado dele e encarou o teto por longos segundos antes de se dar conta de que deveria ser tarde demais naquela altura. — Vamos descansar um pouco, amanhã vai ser um longo dia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
inafetivo
Science FictionNaquele mundo em que sobreviver era a lei, os afetos são esquecidos e abandonados desde o berço. Amar se torna um peso, algo difícil de se carregar, uma cruz a qual poucos conseguem lidar. A guerra, a morte e a violência se encontram em cada esquin...