Han'yo e a primeira missão

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O silêncio dominava o pequeno cômodo. O olhar afiado e sagaz de raposa encarava aquele que viera do alto, os olhos escuros e opacos de uma apatia gritante, os fios curtos e encaracolados pareciam bem cuidados e a pele escura limpa de toda a poluição da cidade baixa reluzia com a iluminação fraca do teto. 

Eva jogou seu corpo sobre a cama, disposta a ignorar completamente aquela figura inoportuna e que os seguira até ali. Havia perdido totalmente seu interesse ao notar que, no fundo, o outro não estava envolvido naquela luta. 

A mulher de fios desbotados era uma forte e imbatível lutadora do submundo de Unova e ganhava sua vida daquela forma: vencendo lutas e recebendo o dinheiro por suas vitórias. Apesar de seu jeito entediado, tinha um olhar atento e interesse por coisas que brilhavam em relação à luta, assim como um corvo se interessa por objetos que reluzem. 

Entretanto, o brilho que vira no outro era apenas um fraco reflexo bem focalizado que por um tempo a cegou e a fez acreditar que era real. 

— É sua vez de tentar, Karasu — insistiu o moreno de madeixas mais longas, seus olhos de um tom amarelado mantendo a atenção no invasor. 

— Já me cansei disso. Se ele quer ficar aí plantado, deixa ele. Pouco me importa — reclamou a mulher enquanto virava-se de lado, demonstrando total desinteresse em continuar tentando expulsar o desconhecido de onde estavam. — Pode usar de decoração. 

— Não vamos deixar um amnésico, robótico que só sabe o próprio nome e tem fatores completamente estranhos ficar no meu quarto — pontuou, seus pés o levando até o outro homem, suas mãos repousando sobre o ombro dele e tentando girá-lo em direção a saída. — Vá embora, anda. Por que está nos seguindo? 

— Porque parece a melhor opção para ficar vivo por aqui — comentou sem muito interesse, sua voz saindo em uma linearidade quase robotizada. 

— É claro que somos, ninguém sai vivo se entra no nosso caminho — afirmou a mulher, voltando a girar seu corpo até que observasse os outros dois. — Por que não tenta sobreviver sozinho? Você tem potencial para isso. 

— Porque eu não entendo nada sobre a cultura de vocês, na prática — explicou o do alto, seu corpo não movendo um milímetro sequer com a tentativa de Matteo de expulsá-lo. — Não saberia arranjar um lugar para ficar, comida ou água.

— Você pode ficar em qualquer canto abandonado, ninguém liga onde as pessoas ficam, somente quando também querem ficar com o mesmo canto e só se resolve quando um lado morre. E comida e água... Há 3 opções: roubar, matar ou comprar — pontuou Matteo, erguendo cada um de seus dedos robóticos conforme as enumerava. — Agora que sabe, pode dar o fora. Vai arranjar algo para fazer. 

— Esse lugar em que estamos... É abandonado? — perguntou enquanto olhava as paredes descascadas, a evidência de que há muito fora esquecido e que carecia de cuidados.

— É — respondeu a mulher com desinteresse e dando um leve bocejo. 

— Então posso ficar aqui. 

— Não pode — replicou o de olhos amarelados, seus braços se cruzando em frente ao corpo. 

— Mas você disse que eu podia ficar em qualquer lugar abandonado. Aqui é um lugar abandonado. 

— Touché — sibilou a de madeixas azuladas, suas mãos apoiando embaixo de sua cabeça. 

— Eu não quero que fique, esse canto é nosso.

— Devo entender isso como uma forma de dizer que vamos resolver quando um de nós morrer? — questionou em um tom neutro, as mãos fazendo menção de se moverem. 

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