muito mais do que uma arma

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— Esse é o quarto que a Íris fica quando vem para o Norte — comentou o nortista apontando para a primeira porta do corredor e, em seguida, olhou para trás onde o grupo estava o seguindo, vendo Eva abraçada aos ombros de Íris praticamente dormindo confortavelmente ali. — Acho que nem preciso perguntar quem ficará aqui com ela... Aquele é o quarto reserva, vocês podem ficar nele. — Hermodr sinalizou para os dois homens e voltou sua atenção para a última mulher restante. — E o mais ao fundo é o meu quarto, caso precisem de algo, sabem onde procurar. 
— Nos vemos amanhã para iniciar a missão, então, descansem bem e fiquem aquecidos, as noites são muito frias por aqui — mencionou Íris que acenou brevemente em despedida e abriu a porta do quarto, puxando Eva consigo para dentro do cômodo. 
— Não se atrasem, certo alguém sempre dorme demais e acaba chegando por último — murmurou Eva de forma sonolenta, seu rosto se esfregou contra o ombro da mulher mais baixa.
— Auto conselhos são imprescindíveis, Karasu — mencionou Matteo dando uma risada ao receber um balançar de mão contrariado por parte da mulher. — Durmam bem, até amanhã. 
As duas desejaram boa noite e logo a porta se fechava, deixando os quatro seguirem com as divisões. Matteo e Gael ficaram no quarto do meio, enquanto o homem do Norte e Yatagarasu foram para o do fundo. 
— Tem algumas roupas mais quentes nesse armário, talvez fiquem grandes demais para você, mas devem aquecer bem mais que essas que está usando — falou o homem assim que entraram no cômodo, monstrando o local que estava se referindo. 
— Pensei que fosse nos aquecer com o calor de sua alma para provar que eu não tinha que duvidar, homem do Norte — pontuou a mulher morena dando um lento giro pelo quarto, observou a decoração simples do lugar, vendo um caderno apoiado sobre a escrivaninha. — O que é isso aqui? Um diário? 
— Você não disse que era para te provar agora. Não acha que está sendo muito imediatista? — replicou o homem abrindo o armário e pegando um largo casaco antes de se virar para ver do que a mulher falava. — Não exatamente, são alguns rabiscos ruins. — O nortista se aproximou mais e pegou o caderno, o guardando na gaveta, em seguida, repousou o casaco sobre os ombros da mulher, o que a fez se inclinar levemente pelo peso inesperado do objeto e o quão alto o outro era tão perto de si. — Então, por que está aqui também? Íris me contou sobre os outros e seus motivos, mas nada sobre você. 
— Não deveria ser? Pensei que homens do Norte não voltassem atrás com suas palavras, mas vou entender se não conseguir provar — provocou a mulher, suas mãos seguraram o casaco e o ajeitaram melhor sobre seu corpo. — Então, você é um artista? Adoraria ver esses rabiscos ruins que disse. — Yatagarasu se sentou sobre o colchão, sentindo a dureza do objeto, não sendo tão diferente assim das camas do Leste. — Você e a Íris são mensageiros, não é? Eu também sou, apesar de não ter começado do lado em que estou agora. 
— Não voltei, apenas não pensei que fosse para provar tão logo... É só um hobby para passar o tempo, às vezes o frio é tão rigoroso por aqui que não temos como sair de casa... Uma distração para não enlouquecer demais. — Hermodr imitou a mulher e sentou na cama, encarando-a por longos segundos, analisando-a lentamente. — Também não comecei do lado em que estou agora, pelo contrário. 
— Estou pronta para quando quiser me provar... Parece uma distração interessante... Os meus hobbies são menos criativos... Quer me contar sua história? 
— E você quer me contar a sua? — respondeu o homem quase de imediato, seu olhar parando nas manchas avermelhadas recentes e expostas por algumas frestas das roupas. — Ou em que incêndio se meteu recentemente? 
— Quem sabe outro dia... Por que quer saber? Ficou interessado em vê-las? — questionou enquanto tocava em sua pele recém marcada, as manchas avermelhadas próximas ao seu pescoço. 
— Curiosidade... Não precisa me contar senão quiser. 
— Foi em um incêndio que eu mesma provoquei... Mas não alcancei meu objetivo, por isso, estou aqui. 
— E o que seria seu objetivo? 
— a IUS, ela é o meu objetivo, a droga que torna as pessoas imparáveis durante seu efeito. 
— E por que está atrás dela? 
— Porque... Em partes, ela foi criada por culpa minha e é o meu dever destrui-la antes que caia nas mãos erradas. 
— Sua culpa? O que você tem a ver com ela? 
— Sabe... Quando eu era pequena conheci a Zu... A Karasu e o Tengu, vivíamos como irmãos, mas nossos princípios sempre foram muito distintos... A Karasu se desentendeu muitas vezes com o Tengu até que decidiu se afastar de vez e eu permaneci ao lado dele porque era conveniente — explicou a mulher, seus pés se desfizeram dos sapatos, seu corpo se apoiou sobre o colchão. — Nisso eu me envolvi como espiã nos Rebeldes, não que essa parte seja tão relevante para o assunto... Eu sempre quis ser imparável, poder fazer tudo ao mesmo tempo e ser boa no que me propusesse a fazer... Tengu sabia disso e pensou em uma forma para atingir esse objetivo... Mas foi ganhando dimensões que pareciam fugir do controle, do meu controle, na verdade, acho que nunca esteve... Não conte isso para a Zu, não quero que ela me odeie, só estou te contando porque perguntou e porque imagino que não confie em mim o suficiente, por isso, não negou que eu viesse para o seu quarto. 
— Parece que a raposa tinha razão... As mulheres do Leste são perigosas pela perspicácia... Mas é um objetivo válido, querer fazer tudo, acho que muitas pessoas desejam isso... O que quis dizer com "cair em mãos erradas"? 
— A ideia de que a droga estava sendo produzida e testada vazou e algumas pessoas vieram atrás, o que foi uma brecha para Tengu se espalhar e se conectar com o resto da cidade, em uma tentativa de controlá-la por completo... Entre essas pessoas têm gente do alto, é isso o que quis dizer. 
— Acha que eles usariam para o quê? Guerras? 
— Não, eles não são tão idiotas assim... Guerras geram dinheiro, muito dinheiro e eles ganhariam bem mais fortalecendo a indústria bélica, criando armas de destruição em massa, do que usando drogas para tornar soldados imparáveis, gastar dinheiro em drogas para perder vidas em uma guerra não vale em questão de lucro. Além do mais, eles têm outras formas de fazer um soldado imparável que seja menos arriscado do que usar uma droga que não se sabe ao certo como controlar.
— E o que pensa que eles podem fazer? 
— O que for mais lucrativo, uma mão de obra barata e imparável rende mais do que gastar milhões em máquinas tecnológicas para, por exemplo, cavar buracos a torto e a direito procurando por boatos de jazidas de petróleo em uma temperatura extremamente baixa. Não acho que seja tão barato assim produzir máquinas que suportem um frio como o daqui. 
— Hm... Faz sentido, ainda mais se eles colocaram as pessoas do Norte que já estão acostumados ao frio, seria uma forma de economizar tempo, dinheiro e pesquisa. 
— O máximo que precisariam fazer seriam arranjar uma máquina ou outra para auxiliar e para extrair o petróleo, alguma que possa ser descartada caso quebre com o frio ou simples o suficiente para que alguém de Unova possa consertar. 
[...]
Matteo sentou na cama, um pequeno sorriso embriagado dançando em seus lábios, enquanto balançava os pés e seus olhos seguiam pelo cômodo até chegarem em Gael. O homem robótico parecia pensativo, observando o quarto. 
— No que está pensando? — questionou Matteo retirando os sapatos e apoiando os pés sobre o colchão. — Você está mais quieto desde que chegamos aqui. 
— Ah eu estava pensando sobre o que aconteceu quando entramos no Norte. 
— Sobre o que aconteceu na fronteira? Você e a Íris foram muito rápidos em perceber que era eu ali — comentou Matteo dando leves tapinhas no colchão ao seu lado. — Sente-se aqui comigo. 
— Não, não foi bem isso... Não foi difícil perceber olhando para seu braço — pontuou Gael se direcionando para a cama e sentando-se ali. — Era sobre a jazida de petróleo, eu realmente não sei como eu sabia dessa informação... E não consigo me lembrar, mesmo me esforçando para isso. 
— Sabe o que eu estava pensando sobre isso? Parece que suas memórias voltam quando algo específico acontece, quando você dormiu e se lembrou de seu passado, ou da música que pareceu familiar ao escutá-la, como se algo as acionasse, como um gatilho — disse Matteo, as palavras se embolando conforme falava mais rápido e empolgado com seu "descobrimento" em meio a embriaguez. — Faz sentido para você? 
— Falando assim, faz, faz sentido... Se coisas diferentes acontecerem, mais coisas irei me lembrar? 
— É possível... Quando usou as espadas na base do Tengu, veio alguma memória ou algo assim? 
— Hm... Acho que foi mais uma memória muscular... Como se meu corpo soubesse exatamente o que fazer naquele momento. 
— Você sabe usar uma arma? — perguntou Matteo ao pegar sua arma.
— Não tive experiências o suficiente com uma para afirmar ou negar.
— Podemos testar amanhã, ver se seu corpo se lembra do que fazer. 
— Certo, podemos testar... 
Matteo deu um largo sorriso e se aproximou mais, suas pernas passaram sobre o homem robótico e se ajeitou em seu colo, ficando de frente para ele. 
— Estou te incomodando desse jeito? 
— Não, pode ficar como quiser, não me incomoda. 
Matteo deslizou sua língua por seus lábios lentamente, afastando a arma para longe dos dois, afinal, naquele momento não precisariam dela. Seus dedos tocaram o rosto dele, deslizaram pela pele gélida pelo clima, aproximando sua face do outro, deixando suas testas se encostarem. 
— Podemos testar outra coisa agora? 
— O que seria? 
— Quero te beijar e ir um pouco mais além — pontuou Matteo, seus dedos desceram para os lábios dele, acariciando a região. — Se estiver tudo bem para você... Desculpa, isso foi muito repentino, vou entender senão quiser. 
— Tudo bem, podemos fazer — afirmou Gael, suas mãos pousaram sobre as bochechas de Matteo. — Você pode tentar o que quiser comigo. 
— Eu não quero tentar o que eu quiser, Gael, eu quero que você também queira, que seja um desejo seu me tocar e ser tocado — comentou Matteo, a voz se tornou baixa e se desfez pouco a pouco no ar. — Quero que me queira como eu te quero agora. 
— Eu quero, eu gosto da sensação da sua língua na minha ou dos seus dedos me tocando. 
Matteo alargou o sorriso e se aproximou, grudando os lábios ao dele em um beijo afoito, deixando sua língua deslizar para dentro e acariciar o músculo úmido, passeando pelo interior molhado. 
Suas mãos desceram pelos braços do outro até chegarem a área mais sensível, acariciando o local, raspando as unhas contra a epiderme e fazendo seus pelos se arrepiarem. 
Seu corpo se colou mais ainda contra o dele, um arfar baixo deixou seus lábios ao roçar seu membro sob os panos, friccionando com movimentos afoitos. Seus dedos seguiram para as calças de Gael, apalpando seu membro e abrindo a peça para se livrar logo daquilo que o atrapalhava. 
— Me avise se eu estiver indo rápido demais — galou Matteo após se afastar dos lábios dele e deixar suas pernas escorregarem pelo colchão até tocar no chão frio, ajoelhando-se até ficar entre as coxas do outro. 
Matteo puxou a calça de Hael, a retirando quase por completo e encarou por longos segundos o volume encoberto pela cueca, engolindo a saliva que começava a se acumular em sua boca. Sua mente girava em ideias empolgadas e embriagadas, seus dedos ansiosos para retirar a última peça e dar mais um passo naquela situação.
Era evidente para si que Gael reagia fisicamente aos seus toques e esse fato o excitava de mil formas diferentes, era como saber que de alguma maneira aquilo era recíproco, ao menos o desejo físico estava ali. 
Suas mãos, enfim, retiraram a peça faltante e seus lábios foram umedecidos inconscientemente com sua língua. Em seguida, sua boca se aproximou cada vez mais, seu olhar acompanhando o rosto dele como se esperasse alguma repreensão, alguma negação. 
Foi só quando seus lábios tocaram o membro de Gael que o sentiu o afastar, a mão fria segurou seu rosto e o manteve para trás. 
— Desculpa, eu... — Gael parou de falar, podia ouvir dentro de sua mente uma voz ecoando e dizendo "você é uma arma, Gael, armas não sentem, seu corpo foi feito para matar e só isso. Se alguém lhe tocar, independente de onde, está assinando uma sentença de morte, entende isso?". — Eu sou uma arma... 
Matteo franziu o cenho em confusão, sua mente alcoolizada tentando fazer as palavras criarem algum sentindo em sua mente. 
— Você é uma arma? Por causa do seu corpo? — Gael assentiu em silêncio, acompanhando com o olhar Matteo voltar para a cama e colocar suas mãos em suas bochechas. — Seu corpo ser modificado, ter revestimento e órgãos artificiais não faz de você uma arma exclusivamente falando. 
— Como não? Eu fui feito para matar... Eu... Parece tão óbvio agora... 
— Você acha que eu sou uma arma? — questionou Matteo e logo Gael negou. — Ora, por que não? Eu também tenho minhas modificações. — Matteo ergueu o braço robótico, mostrando do que falava. — Ainda assim, acha que não sou uma arma? 
— É diferente... 
— Não vejo a diferença. Você é tão humano quanto eu, só tem mais modificações que podem ser usadas ou não como armas — pontuou, seus dedos deslizaram pela pele. — Seu corpo é igual ao meu, reage ao toque, sente, dói, respira, transpira. 
— Matteo... Tocar em mim é como uma sentença de morte... — repetiu as palavras que ainda rondavam sua mente, aquela voz que era a mesma de sua infância. 
— Onde eu assino minha sentença? — brincou Matteo, seu polegar passeou pelo lábio inferior. — Não me importo de arriscar minha vida para te provar que você é muito mais do que uma arma, Gael.

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