a festa do Tengu

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As batidas eram fortes e frenéticas no subterrâneo, as luzes piscavam multicoloridas iluminando as pessoas com as faces recobertas pelas máscaras de tengu, deixando à mostra somente parte de seus queixos e lábios. Daquela forma ninguém conhecia o rosto de ninguém, eram todos iguais à primeira vista, no meio da bebedeira e da música. 

Após a saída de Tengu da sala, os três restantes colocaram suas máscaras e logo saíram, mas já era tarde demais e o haviam perdido de vista, assim como perderam Matteo. 

Para não se afastarem e se perderem também no meio daquelas pessoas, Íris segurou os dois pelas mãos e os puxou para dançar, afinal, sabiam que o homem estava ali e que possivelmente o veriam novamente. 

— Não sabia que tinha um irmão — comentou Gael se aproximando da azulada que acabou soltando um resmungo baixo e irritado. 

— Ele não é meu irmão — afirmou a mulher, seu olhar percorrendo todo o local em busca de qualquer sinal de Matteo, sentia-se ansiosa e nervosa com a ausência do outro, sem saber onde estava ou o que fazia. — Não de sangue, muito menos de consideração. Crescemos juntos por parte da nossa infância... Éramos três crianças abandonadas a própria sorte que não viram outra alternativa além de se unir. A ideia de irmandade só tem na mente dele.

— Ele tem uma aura muito caótica, apesar de não aparentar — disse Íris balançando os braços dos dois. — Disfarcem um pouco ou vão desconfiar da gente. 

— Caótica é pouco... Não sei se acho uma boa ideia o que Kitsune fez... Só deixou Tengu mais irado... Ao menos nos salvou rápido de sermos descobertos — falou a de madeixas azuis, tentando acompanhar de sua forma a música rápida. 

— Ele vai ficar bem, deveria confiar mais em seus aliados. — Íris pontuou, seus dedos soltando por curtos segundos a mão do homem para dar um leve peteleco no nariz da máscara da mulher. 

— Nós seríamos descobertos? Quando? — perguntou Gael relembrando de todos os passos que deram e o que falaram até ali, tentando encontrar em que momento aquele fato ocorrera. 

— Quando ele te perguntou seu nome. Se dissesse Bakeneko não teríamos uma segunda chance, a festa teria acabado naquele exato momento. Kitsune sabia disso, por isso não deixou que falasse nada. 

— Então o antecessor do gatinho tinha um nome reconhecido por aqui? Vocês do Leste têm muitos segredos escondidos.

— Não só ele, Kitsune também, apesar de ter perdido um pouco o reconhecimento depois que Neko foi morto e talvez passasse despercebido agora, mas Bakeneko definitivamente é um codinome marcado no submundo — explicou a de madeixas azuis, seus olhos se estreitando ao ver de relance alguém parecido com Matteo, mas percebeu que não o era no instante seguinte. — Talvez seja pesado demais para você carregar esse nome. 

— Não devo me apresentar assim então? 

— Não se não quiser todas as armas desse lugar apontadas para sua cabeça. Você pode ser revestido de titânio, Neko, mas eles são revestidos de teimosia, ódio e vingança e esse tipo de homem é o pior que tem para se enfrentar. 

— Ele era alguém tão ruim assim para ser odiado? O que ele fez para eles quererem se vingar? 

— Bakeneko era um rebelde, não como Kitsune ou eu agora, ele era definitivamente um líder e muitas casas como essa vieram abaixo por causa dele, muitos como Tengu perderam seu poder. Ele já era reconhecido antes de conhecer Kitsune e antes que eu os conhecesse. Desde que o conheci, pensei que ele fosse imortal e eterno... Mas no final ele era como a maioria de nós: de carne e osso.

— Você fica tão sexy sendo séria assim — provocou Íris, sua mão girando a maior. — Você disse que eram três, não é? Além de você e Tengu há mais alguém. — Aquilo não fora uma pergunta e Eva não se deu ao trabalho de respoder. 

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