A porta da sala de bugigangas foi aberta e Matteo e Íris se voltaram para as novas três presenças, notando que Eva parecia mais irritada que o comum. Não era difícil supor que a causa estava ali, com os longos fios negros presos em duas tranças laterais e um sorriso mordaz e desafiador.
— A partir de hoje não deixe o Neko sozinho. — Afirmou a azulada olhando diretamente para Matteo. — Essa aqui tentou se aproveitar dele para arrancar informações.
— Pensei que fosse ficar de olho nela para evitar que isso acontecesse — rebateu a raposa suspirando baixo, seus dedos retirando os óculos de proteção mais uma vez e os deixando de lado.
— Eu estava, mas... Aconteceu um imprevisto.
— Você dormiu?
— Dormir é uma palavra muito forte... Eu só fechei os olhos um pouco.
Matteo ergueu a sobrancelha em pura descrença, enquanto Íris e Yatagarasu caiam na gargalhada pela resposta dela.
— Ela estava dormindo que nem uma pedra, não mexeu nem um milímetro quando passei a mão na frente do rosto dela — dedurou a de cabelos escuros.
— Você não mudou nada, continua uma bocuda de marca maior.
— Faz parte do meu trabalho — respondeu Yatagarasu se aproximando da janela, o som de asas batendo se fez presente assim que ela se inclinou para fora.
— Parte do seu trabalho? O que quer dizer com isso, Ya? — Íris se sentou sobre a mesa e balançou suavemente as pernas.
— Passar informações e descobri-las é o que eu faço. Independente do lado — pontuou a morena estendendo o braço e uma ave mediana e de penas tão escuras quanto seus fios repousou com sua única perna. — Sou uma mensageira, afinal.
— Mas existe algum lado para o qual tem preferência? Você pode ser uma mensageira, mas seus ideais e objetivos devem estar alinhados com algum deles. — Íris se adiantou em perguntar, tomando completamente a frente da situação.
— Não estou contra vocês, se é o que quer saber — respondeu, sua mão livre pegando o pequeno papel amarrado na perna da ave, abrindo-o e lendo. — Obrigada, Hugin, pode ir.
O corvo deu um grasnado e se afastou batendo as asas com firmeza, saindo pelo mesmo local que entrara.
— Pelo jeito, conseguiu treiná-lo melhor — comentou Eva assim que a ave partiu.
— Também consegui treinar o seu, mas não sei se Munin te obedeceria. Os treinei para seguirem apenas as minhas ordens.
— Munin e Hugin são os nomes dos corvos? Ele parece bem treinado pela forma como só apareceu quando te viu.
— Sua curiosidade é uma graça, Neko. São, o Hugin desde o início era meu, minha terceira perna e olhos, e o Munin, o da Zu, mas ela achou difícil demais ensiná-lo e deixou comigo — afirmou Yatagarasu dando um sorriso de lado. — Você acha? Demorei um bom tempo até que eles aprendessem o básico. Hoje em dia é algo raro passar mensagens por animais, então é a forma mais segura de encaminhar qualquer informação confidencial.
— Um aparelho de comunicação sempre está sujeito a ter escutas... É inteligente de sua parte usar algo tão... Antiquado para se comunicar — comentou Matteo, seus dedos batendo suavemente contra a mesa.
— Seus amigos são tão fofos e cheios de elogios — pontuou Yatagarasu se aproximando de onde os demais estavam.
— A mensagem que recebeu agora é tão confidencial para ter sido mandada dessa forma, Ya?
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inafetivo
FantascienzaNaquele mundo em que sobreviver era a lei, os afetos são esquecidos e abandonados desde o berço. Amar se torna um peso, algo difícil de se carregar, uma cruz a qual poucos conseguem lidar. A guerra, a morte e a violência se encontram em cada esquin...