Prólogo

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"Frio intenso

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"Frio intenso. Noite gélida. Os dias pareciam horas e as horas pareciam anos. Eu não lembrava do meu nome. O medo e o desespero estavam por toda parte, e eu vagava no vazio, sem destino, sem saber o porquê. A única coisa que me guiava era a visão de uma mariposa branca voando entre as sombras enevoadas e as árvores que me sufocavam.

"A mariposa deixava rastros luminosos até que se apagaram. Eu perdi ela de vista ou será que desapareceu? Não sabendo como agir, sentei sobre uma pedra e esperei que minha mente compreendesse o que acontecia.

"Nada naquele lugar parecia ser real. Folhas e galhos mortos flutuavam e se comportavam de maneira estranha. No primeiro instante, eu pensei que fosse apenas um sonho, mas era tudo tão intenso naquela floresta de modo que pude sentir o frio congelando meus ossos.

"Uma voz sussurrava em minha cabeça, como um chiado distante, indecifrável. Até que, dentre as árvores petrificadas, vi uma mulher de longos cabelos negros. Suas vestes eram claras como a luz e ela me chamava pelo nome.

"Frio intenso. Noite gélida.

"Rompendo o solo, criaturas nefastas surgiram, com braços longos e olhares vazios, então passaram a me perseguir. Considerei estar fugindo sozinha, mas conforme eu adentrei a floresta de sombras, a voz em minha mente se tornou mais presente. Avistei outra vez a mulher na entrada de uma passagem subterrânea, onde ela desvaneceu e desapareceu como fantasma.

"Ouvi os monstros da floresta gritarem trás de mim. Meu corpo todo se arrepiou. Sem ter para onde ir, adentrei a caverna sob a relva, seguindo por um túnel de tijolos e ar congelado. Quanto mais me afastava, mais frio sentia, e quando me dei por conta, estava sozinha em meio ao silêncio.

"No final do que parecia ser um templo antigo, havia uma porta circular de ferro reforçada como a de um cofre. Ao redor dela, runas inscritas num idioma que eu não conhecia. Aproximei-me e passei as mãos pelo metal. Fechando meus olhos, pude ver um belo colar dourado ornado com uma grande joia verde e reluzente lá dentro. Suas chamas, como fogos-fátuos, dançavam sobre a pilha de ossos jogados ao chão. Era um túmulo. As chamas se estenderam e ganharam forma, tomando toda a sala. Tão claro quanto a própria realidade, vi a chama verde se transfigurar naquela mulher. Sua voz se tornou tudo que eu pude ouvir, me trazendo uma dor insuportável.

"'Enfim te encontrei... ', ela disse.

"Eu a sentia me dominar. Perdi minha respiração, minhas forças, então caí ao chão, logo notando que minhas mãos que tocaram na porta estavam queimadas em carne viva.

"Meus olhos se encheram com a luz que parecia vir da sepultura, quase queimados também.

"Frio intenso. Noite gélida.

"Presa entre a realidade e o imaginário, eu já não sentia frio, nem medo. Eu não sentia mais nada..."

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora