Capítulo 2: Rainha misteriosa

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"Uma larva esmagada rasteja com seu corpo ferido, como uma alma condenada que procura forças para viver. Ela é indesejada, pois é marcada de sofrimento. Seu olhar adiante lhe traz tristeza. Só o que lhe resta é acreditar que há motivos para prosseguir. Ao menos um significado."

Estrofe I - Solidão Rastejante

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Apoiada num móvel de madeira sob a luz da lamparina gasta, Susanna desenhava calmamente

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Apoiada num móvel de madeira sob a luz da lamparina gasta, Susanna desenhava calmamente. A pequena de cabelos ruivos, já vestida para dormir, lamentava que seus lápis vermelhos sempre acabassem primeiro. Constantemente tinha que misturar outras cores para chegar ao tom de sangue que lhe agradava.

Mesmo que estivesse focada, não demorou a notar a contínua movimentação de seu pai, que vez ou outra passava na frente do quarto, acumulando malas no outro lado da tenda, próximo à saída.

Mamãe vai viajar outra vez?, pensou a garota. Seria uma pena ter que ver sua mãe partir sabe-se lá pra onde — Se bem que talvez não fosse tão ruim, contanto que ela retornasse com algumas caixas de lápis vermelhos.

Aos nove anos de idade, Susanna possuía marcas irreversíveis; cicatrizes avermelhadas em suas palmas que a lembravam de uma terrível visão. Embora ela ainda tivesse pesadelos todas as noites, registrando-os em desenhos, as vozes em sua cabeça se silenciaram e já não mais sentia como se alguém estivesse ao seu lado o tempo todo. Ela tinha medo de falar sobre esse assunto com seus pais, então não falava. Nunca revelou os motivos por trás de seu primeiro desaparecimento na floresta, do que viu e ouviu naquele túmulo, e de suas queimaduras, pois nem mesmo ela entendia.

Apesar de toda solidão, Susanna se considerava feliz. Desde a recuperação das mãos, não parava de desenhar. Riscava muitas folhas por dia. Também aprendeu a ter muita paciência ao escrever em seu caderno de memórias. Cada linha demorava duas vezes mais para ser feita sem grandes tremulações em decorrência dos nervos danificados. Os desenhos e a escrita funcionaram muito bem para distraí-la do terror que aquilo envolvia.

— Filha, o que está desenhando? — Ivan passou por ali, parecendo apreensivo. — Já não te disse pra parar de desenhar essas diabruras?

— Não é uma diabrura, meu pai, é a verdade — respondeu calma, concentrada em pintar. Não se abalou por ele já ter saído do quarto e provavelmente não escutado a resposta.

"Eu arrumo as coisas dela", ouviu sua mãe dizer no outro lado da tenda. Depois de alguns minutos, a matriarca se aproximou e se sentou ao lado dela, ficando em silêncio por alguns instantes, apenas observando-a desenhar o último de seus pesadelos: um monstro de sombras lutando contra uma rainha coroada. O monstro tinha sangue na boca e vários chifres; a rainha carregava um bebê.

— O que esse desenho significa? — Kahli perguntou de maneira atenciosa, ajeitando os fios de cabelo ruivo da garota, herdados de seu pai. No primeiro momento, não foi respondida. Susanna estava quase chegando ao tom de vermelho que queria. — Você é essa mulher? — Kahli apontou no papel, indicando a rainha coroada.

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora