Capítulo 9: Amaldiçoada

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Em outra época, Kaedra foi alvo de guerras trazidas por invasores distantes

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Em outra época, Kaedra foi alvo de guerras trazidas por invasores distantes. Sombras do passado vieram a se tornar ruínas; outras, memórias intactas, ainda vivas no coração do planeta. Portais, estruturas circulares de pedra formando quase que uma paisagem natural entre as dunas e o céu amarelado. Naves imensas parcialmente afundadas na areia, corroídas pelo sal e pelo tempo.

Talvez por isso, Kahli adorava ir até o alto deserto de Hermene. Era como se ela estivesse no museu da história kaedrina. Durante todos seus anos como exploradora, encontrou muito mais do que gostaria de ter visto. Por muitas vezes, foi aos lugares mais distantes do mundo e, por causa disso, sentia-se privilegiada. Conhecia culturas, anotava o que via e relatava ao chefe-explorador em Cayena, contribuindo para o enriquecimento da maior biblioteca de Kaedra. Todas essas viagens, no entanto, traziam uma maldição: ela se afastava de sua única filha, Susanna.

Kahli caminhava sobre as dunas, o vento quente aquecendo a túnica vermelha que envolvia seu rosto. Já havia algum tempo que ela não bebia água, esquecendo-se do quanto podia ser mortal se privar do líquido por longas horas. Não tinha mais tempo para si mesma, apenas para o rombo em seu peito. Seus livros escritos não eram lidos e ela perdia continuamente o que mais amava. Quantas vezes pensou: "Por que viver do passado e perder meu presente?". Ela se achava a pior historiadora do mundo. No fim de tudo, sua visão sobre isso chegou a uma definição, o que justificava as lágrimas em seus olhos.

Que tipo de mãe abandonaria sua filha em um momento tão crucial?

Kahli sempre gostou de aventuras, aprendendo o ofício de seus pais ainda nova. Achou que nunca amaria tanto algo na vida, até o dia em que Susanna nasceu. Quando a pequena veio ao mundo naquela noite fria de inverno, tudo pareceu ter ganhado ressignificado. Nada mais era tão importante para ela. Nem seu trabalho. Nem mesmo sua própria vida.

"Por que viver do passado e perder meu presente?"

Ela rezava para que o que Ivan, seu marido, acreditava fosse realmente verdade; que ele obtivesse êxito em sua missão e que tudo o que faziam fosse para o bem de sua filha.

Mesmo assim, sentia muita falta de sua pequena. Seu Raio de Sol.

Ao fim da árdua caminhada, Kahli avistou um majestoso paredão de pedra vermelha rompendo o horizonte, onde havia uma caverna: a conhecida cidade antiga do deserto, e atual abrigo para exploradores. Não muito distante dali estava a Porta de Lars, talvez o principal símbolo exploratório de Kaedra. O fim da jornada. Muito além do mago de Akzar e de toda a sua reputação, ela ambicionava respostas. Queria ter um motivo, alguma razão para todo seu sacrifício.

Cercada pelas fortificações de pedra, ela foi até um bebedouro na encosta da montanha e se aliviou da queimadura nos lábios. Havia uma porta ao lado, uma que levava para o interior da cidade cavernosa. Faltava pouco para ela saber a verdade.

Kahli caminhou por sobre a areia fina para o interior da cidade, buscando com os olhos ferozes aquele a quem chamavam de "o mago dos magos". Tudo era muito escuro. Ela se aproximou das duas tochas postas em volta de um círculo de pedra, as únicas acesas. A sua volta, um absoluto breu e o completo silêncio.

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora