Capítulo 7: O corvo e a mariposa

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Dia seguinte, ainda bem cedo, Eric não havia chegado à sala de aula e Leonor aguardava pacientemente em sua mesa

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Dia seguinte, ainda bem cedo, Eric não havia chegado à sala de aula e Leonor aguardava pacientemente em sua mesa. Já mais habituada, Susanna sabia que não deveria dizer nada; somente se ajeitou o mais rápido possível, pondo seu casaco de lã no encosto da cadeira e seus materiais sobre o apoio da carteira.

O braço enfaixado ainda doía um pouco. Evitava mover desnecessariamente o braço esquerdo. Ela desviou seus olhos da anciã que a observava, levando-os à janela, podendo apreciar a paisagem lá fora e as árvores que se agitavam com o vento. Além do som natural, apenas o badalar do relógio de parede era ouvido. Susanna pegou seu caderno de memórias e o folheou calmamente à procura das suas primeiras anotações. Passou por lembranças, rabiscos, até que se deparou com um desenho: um monstro de sombras atacando uma mulher coroada que segurava um bebê.

Ela se lembrava. Tratava-se de seu último pesadelo antes de fugir de Helonys com sua família. Algo tão marcante ao ponto de ela tê-lo registrado através de um desenho colorido. Em sua antiga casa, Susanna costumava fazer isso: acordava durante a madrugada, enquanto a memória estava fresca e se dedicava a desenhar. Quando seus pesadelos eram transferidos para o papel, sentia-se livre deles. Mas este era diferente. Não parecia com os rabiscos rápidos e despretensiosos que ela fazia. Tinha riqueza de detalhes, traços firmes, como se tivesse o objetivo de retratar da forma mais fiel possível, mas ela não se lembrava o porquê.

Uma rainha que segurava um bebê e lutava contra um monstro. Era inegável que aquela mulher parecia ser a própria Feltis.

Susanna recordou de sua mãe tê-la perguntado sobre o significado, e ela respondeu:

"Eu acho que sou o bebê deste desenho".

Começava a fazer sentido. Agora, como uma rainha morta se comunicava com ela através de sonhos e visões? Talvez Eric estivesse certo sobre sua sensibilidade. Com relação ao monstro... Susanna o havia retratado como sendo formado por sombras e possuindo sangue na boca. Ela não o conhecia. Nunca o tinha visto.

Pouco antes do horário pré-determinado para o início da aula, Eric apareceu por ali, apressado, logo se ajeitando também. Ao soar do alarme, às 7h da manhã, Leonor levantou-se e apagou o restolho de giz do quadro-negro. Susanna notou que Eric estava bem feliz. Diferentemente das outras ocasiões, eles compartilhavam alguns olhares. A garota deixou escapar um sorriso contido. Em sua vida curta, poucos foram os momentos onde ela pôde desfrutar da amizade de alguém. E, apesar de suas dúvidas e medos, ele parecia ser sincero.

— Vó — disse Eric, chamando a atenção de Leonor. Parecia não se conter.

— Sim, querido? — respondeu ela, de maneira séria, olhando para trás.

Leonor trajava um vestido preto com detalhes em prata. Em seu cabelo escuro, uma adornada presilha prateada com jóias vermelhas. Nem de longe ela aparentava ter os duzentos anos que Klaus havia sugerido.

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora