Capítulo 3: Inadaptável

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O vento forte soprava

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O vento forte soprava. Seus assobios entre as frestas das pedras que compunham a arquitetura da mansão deslizavam pelos arcos adornados de longos corredores e desapareciam em amplos salões. Aquela noite, ausente de estrelas, estava sendo particularmente escura, dando um aspecto de vazio às salas iluminadas por lâmpadas fracas e seus zunidos irritantes.

Ali, cercada pelas sombras das paredes, Susanna corria pelo infinito corredor. Várias de suas lágrimas deixadas ao longo do caminho até que chegasse a um lugar afastado, onde poderia se esconder. Chegou a um cômodo estreito e escuro, com uma lareira apagada. Após girar a chave de ferro da porta atrás de si, garantiu que ficaria sozinha. A luz da lua transpassando a única janela a iluminava timidamente. Susanna se lançou ao chão, abraçando os joelhos, ainda chorando bastante.

Ela não sabia ao certo onde estava. A frente da entrada e ao lado da janela, viu com seus olhos adaptados ao escuro uma porta robusta e adornada que se encontrava trancada. A garota não se importou em ficar ali, mesmo com o odor de tapetes velhos, pergaminhos antigos em uma estante e da madeira podre do piso que começava a se soltar. Ela não queria contato com o céu ou com o cheiro da chuva, pois esses sinais somente serviam para lembrá-la do momento em que viu seus pais a deixarem para trás. As marcas das lágrimas em suas bochechas manchadas, seus olhos âmbar encharcados. Ela era uma pequena joia despedaçada.

— Isso não está acontecendo... não... Eu quero ir pra casa! — relutante, ela batia no chão, esperneava de raiva. A cabeça doía. — Por que eles me deixaram aqui?!

Algumas vezes, ouviu o som de batidas na porta por onde ela havia entrado, mas apenas ignorou. Pensava no que poderia ter acontecido com seus pais, quais riscos corriam.

"Pra sua segurança, é melhor que fique aqui", lembrou-se das palavras.

Lamentava não ter sido avisada previamente. De repente tudo que conhecia desmoronava.

Após quase um dia inteiro naquele quartinho, foi acometida pelo cansaço. Dormiu e acordou algumas vezes sem que percebesse. As costelas doíam pelo mal jeito de estar deitada no chão. Até o ar ficou escasso. Foi quando ela escutou a porta sendo aberta contra sua vontade. Já era meados da noite. Quem se aproximava era o filho daquele senhor místico. Ele carregava uma bandeja e uma vela. Inerte pela fraqueza, Susanna viu o garoto pelo reflexo do móvel polido ao lado de onde se encontrava deitada.

— Você precisa comer — disse ele, demonstrando preocupação. O de cabelos negros pôs a bandeja de prata ao lado da garota largada. Sabia que ela não estava dormindo. — Você está bem? — guardou no bolso a chave-mestra utilizada para abrir a porta.

Susanna não respondeu. A voz dele, por mais que fosse doce, irritava sua paz. Ela parecia querer ficar naquele estado límbico, esperando que, por algum milagre, tudo voltasse a ser como era. Alguns dias antes, ela lia em seu quarto, quando tudo parecia normal. Ao fechar os olhos, podia se imaginar lá.

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora