Capítulo 33: Santuário Ancestral parte 2

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Outono, 93° dia.

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Gritos e mais gritos eram ouvidos, assim como sons de múltiplos disparos. O espiritualista domador da ave na qual Susanna estava amarrada se estarreceu conforme seus aliados morriam no céu. Ele parecia distraído, de modo que a dominação empática usada em Susanna diminuía pouco a pouco. A mística sentia a dor de cabeça deixando-a conforme suava frio. Com o tempo, passou a enxergar sem que isso lhe causasse desconforto, então pôde discernir melhor tudo que acontecia.

Uma grande aeronave sem asas atirava de suas torretas externas presas a carenagem hexagonal, rasgando o céu além das torres de pedra das ilhas de Kunabree. Atingia grande velocidade, porém da perspectiva de Susanna, a ave é que parecia lenta. O veículo imponente parecia vencer o espaço sem grande esforço, dando uma volta completa e depois passando próximo ao bando de aves espiritualistas no céu. A nave se distanciou, indo além, mas ainda sim, evidenciou-se as pequenas máquinas voadoras que saíram daquela porta aberta com humanos pilotando-as.

Susanna não entendia muito bem o que via. Sua mente ainda se acostumava a todos aqueles processos mentais após as dores do domínio empático; porém jurava ter visto Leonor pilotando uma das máquinas.

— Susanna!! — o grito de Eric a acordou por completo. Ela remexeu-se para o outro lado, presa por cordas na cintura, e o avistou lutando contra seu captor espiritualista numa das aves que compunham o céu. Ela se incentivou a fazer o mesmo, pois, seu captor estava distraído, comandando a ave que a mantinha a centena de metros do rio lá em baixo.

Ela pensou por um momento. Estava livre da dominação, mas no instante que usasse sentimentos seria notada pelo espiritualista. Então foi rápida, agindo com o que tinha. Torceu o tronco, de modo que ficasse sentada, parcialmente de lado para o inimigo a sua frente. Seus punhos estavam colados um ao outro, presos por um grilhão de ferro. O inimigo se virou, ainda atônito pelo que acontecia no céu. Susanna usou os grilhões em seus pulsos como um martelo, golpeando o rosto de seu captor. Ele vacilou, tonto pelo golpe; tentou acionar a lança presa à lateral de seu corpo, mas a mística o impediu e desferiu outro poderoso golpe que lhe afundou a máscara e o rosto, banhando-o com sangue. O corpo desacordado tendeu para um lado, caindo da ave. Susanna agiu em tempo de impedir que a lança caísse também. Em seguida, usou a lâmina afiada da arma para desprender-se das cordas.

A ave continuava seu voo sozinha, mas se irava com a morte de seu antigo dono. Susanna segurava às suas penas com esforço, vendo-a ave tomar caminhos duvidosos no ar, quase derrubando-a com alguns agitos do corpo e inclinações mais agressivas nas curvas. O vento passava forte por ela. O som de seu coração preenchendo os ouvidos. Susanna se agarrou bem às rédeas; pôs em ordem seus sentidos e buscou forças para domar a ave ou acabaria sendo derrubada.

Fechou os olhos ao tocar nas penas do pescoço da ave raivosa. Pensou no que havia feito na arena espiritualista mais cedo; em como havia domado aquela ave. Ela retornou seu pensamento àquele sentimento nostálgico, do tempo em que era criança e dominava parcialmente tal habilidade. Um misto de tristeza e alegria. A alma dela se aquietou; os efeitos da Tristeza dando a ela sensibilidade ao mundo espiritual, a alegria aperfeiçoando o controle de seu corpo. Ela sentia as garras, o bico e o corpo quente do animal. Projetou sua aura, seus sentimentos, ao bicho; então o niemerin teve as íris de seus olhos transformados para a cor verde.

Isso fez com que Susanna tivesse seus olhos inundados por lágrimas conforme cortava os céus. Por um minuto, a alegria imensa elevava seu espírito de modo que ela se esquecia de toda a tragédia. O vínculo entre ela e aquele animal... Era como se ela voltasse a ser de Helonys outra vez. Susanna tomou conta de si, para que não se distraísse, e voltou a atenção para a batalha.

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora