Capítulo 25: Outrora e Momento

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17° dia de Primavera.

~•~

Por duas semanas, Klaus esteve mais sisudo com seus jovens pupilos; sempre exigindo cotas de abates nas caças. Claro que ainda precisavam comer, porém Susanna não fazia questão de tanta carne o tempo todo. As caçadas eram uma obrigação hostil. Mais claro que isso somente o fato de que a opinião dela não importava.

Eric havia se acostumado a tomar algumas medidas rebeldes e Susanna o seguia. Juntos, percorreram dois ou três caminhos errados, saindo do alcance do grupo de caça de Klaus. A garota achava engraçado como ele parecia mais louco próximo a ela; não sabia exatamente quando ele deixou de ser o garoto certinho. Mesmo assim, talvez Eric fosse o único que a valorizava, o que era bom, mas ela se chateava por morar num lugar onde não se sentia a vontade.

A trilha dos jovens motineiros acontecia de forma silenciosa. Eric concentrava-se em achar o caminho. Tratando-se de exploração em mata fechada, havia um sério risco em se perder. Coisa de maior risco para quem já estava infringido as regras. Susanna sentia certa solidão apenas o acompando. Ela era tão distante de todo mundo; não queria que ele a visse da mesma forma que os outros. Pensou que seria boa ideia contar a ele o pesadelo de dias atrás, talvez uma forma de criar um vínculo.

Ahh... Por que ele vai querer saber desses meus sonhos idiotas?

Só então ela percebeu que não tinha nenhum traquejo social. Ela não sabia muito bem como conversar, até mesmo com ele.

No fundo, a garota de Helonys queria viver sua vida em paz, sem todas as angústias que a acompanhavam. Em sua infância também foi da mesma forma; tinha medo de contar seus pesadelos para seus pais. Eles sempre se preocupavam, e já bastava a maneira esquisita como todos do vilarejo olhavam para ela. Sempre esteve sozinha nisso e não sabia como sair desse ciclo.

Adiante na caminhada dos dois, chegaram até onde iniciava a estrada de ferro entre as árvores verde-musgo. Susanna se sentiu bem por terem se localizado com algo. Seguiam para a mesma cidadela humana que somente haviam avistado de longe na última vez. Ela sentia um frio na barriga, um arrepio. Queria conhecer sua prima humana, assim como Eric havia prometido, mas tinha medo de como ela poderia ser.

Andando pela trilha de paralelepípedos postos entre os trilhos e as árvores altas, foi fácil notar que estavam nas proximidades da cidadela de Onosis. Havia o som de máquinas, e colunas de fumaça branca estendidas sobre as copas.

Em pouco tempo, chegaram a cidadela. O lugar era um estreito comercial no meio da floresta. Pavimentos feitos de aço-negro em ambos os lados do trilho e, logo acima, ocupações humanas de pedra e ferro se consolidavam entre as raízes das altas árvores antigas que os cercavam.

— Você está bem? — perguntou Eric, notando que ela parecia temerosa.

— Sim... Só estou um dia pouco nervosa... — disse Susanna, ajeitando o cabelo. Nunca tinha visto os humanos de tão perto. Tinha medo de como poderia ser vista por eles. Após uma respiração profunda, ela estava bem o suficiente para lidar com a situação.

Eric a acompanhou, então ambos subiram por uma escadaria metálica chegando ao patamar de aço-negro, largo o suficiente para acomodar as idas e vindas de humanos aos montes. Muitos deles carregavam carrinhos com mercadorias, sacolas, vestindo roupas de tecido com cores vivas. Outros dentro de cabanas abertas entre a relva. Algumas com braços hidráulicos, forjas e maquinários de todos os tipos.

Eric a convidou até uma loja de brinquedos, mostrando um material lustroso presente nos produtos que lhe chamou a atenção. Pelo cheiro, Susanna tinha a impressão de ser algo não natural. Ela tocava naquelas coisas e não sabia muito bem o que era.

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora