Capítulo 28: Decisão

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Duas estações depois...

Outono, 90° dia.

~•~

No fim de tarde, após as atividades rotineiras, a família Bornot se reuniu no salão de celebrações para prestigiar o aniversário de treze anos de Eric, idade qual se comemorava a chegada da maioridade mística. Um belo banquete era montado. Os criados iam e vinham o tempo todo e a cozinha fervia sem parar.

Susanna se detinha a algumas frutas. Passava o garfo no prato vazio, com a mente distante. Havia muitas noites que ela não dormia bem. Eric, ao seu lado, a via com preocupação. Susanna devolvia o olhar, mas se sentia estranha. Depois que ela compartilhou seu segredo com ele, seus sentimentos estavam nele. Ela tinha um cúmplice, não tendo costume com isso ainda.

Leonor se acomodava em sua cadeira alta a ponta da mesa. Seus cabelos já totalmente grisalhos amarrados num coque com muitas tranças. As duas gêmeas, de quatro anos de idade, sentavam-se próximas a anciã. Uma criada as servia com doses adequadas de legumes e castanhas. Klaus sentado mais distante, próximo da entrada abastava o salão de histórias contadas à luz das três lareiras. Até que alguns empregados afoitos se encaminharam até a porta principal e fizeram um anúncio rápido ao abri-la.

— Senhores do Vale, um visitante, amigo da casa, acaba de chegar — após uma reverência, cederam espaço a quem vinha.

Klaus se pôs de pé para ver quem era. Susanna deixou seus talheres de lado por um momento, afinal não era rotineiro dar boas vindas a visitas.

Do sexo masculino, cabelos castanhos longos, pele bronzeada. Embora o tal homem não tivesse barba, era nítida a marcação. Pose rígida, mas elegante. Vestia um sobretudo azul profundo sobre roupas pretas. Trazia um sorriso simpático. Seu olhar direcionado para Klaus e Leonor demonstrava que se sentia à vontade.

— Crianças, este é Andreas Schalcon, um grande amigo e magnata da indústria tecnológica. Fabricante de veículos e armas — Klaus se gabou.

— Não esqueça das baterias atômicas. Elas vão mudar o mundo — Schalcon adicionou. Sua voz era grave e agradável.

Susanna congelou. Um humano de grandes fábricas estava diante dela. Vinha a sua mente uma memória de anos atrás. Quando visitou Maya em sua casa, ainda pequena. Um homem na capa de uma revista que se parecia muito com o tal "Schalcon". Nesse dia, ela teve o único contato com o monstro de sombras de seu pesadelo mais tenebroso, pois o viu na capa dessa mesma revista.

— Schalcon também foi meu antigo chefe — continuou Klaus. — Por muito tempo trabalhei como gestor em sua fábrica. Além do mais, Susanna, antes de você nascer, seu pai trabalhou com ele...

Por um instante, ela não ouvia mais nada. Recebeu um sutil toque no ombro de Eric quando se dispersou demais.

— Venha! Sinta-se à vontade — Leonor convidou o humano à mesa.

Depois do que havia sido dito sobre seu pai, Susanna dispôs mais atenção ao que era conversado entre eles. Normalmente, não falava muito durante as refeições. Os outros também não falavam muito com ela. Os jantares pareciam ser uma espécie de momento tradicional muito mais enraizado em Klaus e Leonor, cheios de bebedices e apego ao gosto de carne mal passada.

Klaus começou apresentando seu filho ao convidado.

— Este é Eric Wondart Bornot. Meu primogênito e orgulho!

Susanna não pôde deixar de notar como Klaus parecia totalmente interessado em passar boas impressões, o que para ela era bem ridículo.

— Então este é o rapaz que faz aniversário — comentou Schalcon, indo até Eric e apertando sua mão. — Prazer em conhecê-lo, meu jovem. Pedirei que te entreguem um presente após o jantar.

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora