Capítulo 34: Santuário Ancestral parte 3

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Outono, 93° dia.

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Susanna se aproximou do acampamento espiritualista, tendo todos os efeitos do Rancor mais uma vez em seu corpo. Ela não esperava sair ilibada daquele santuário; tinha tomado um caminho sem volta a muito tempo, que nem mesmo a Máscara poderia ajudar.

Através da alta sensibilidade ao sexto sentido provocada pelo sentimento rancoroso, todas as almas ficaram sob sua percepção; e ela as lia, vendo de forma clara suas feridas, percebendo seus sentimentos mais profundos.

Com a visão totalmente obstruída pela máscara, ela sentimentalizou, concentrando-se apenas a percepção fraca que sentia chegando a sua pele. Ela se tornava um receptor ultra sensível, como uma aranha parada em sua teia. O corpo físico de Susanna estava escondido na alta vegetação, enquanto suas percepções permeavam o acampamento espiritualista, navegando por emoções, em busca de medos e traumas. Eram como cheiros para ela; sinais em seu cérebro indicavam o caminho mais doloroso, e ela sentia em seu corpo os sentimentos de cada lembrança.

Em meio às percepções, Susanna sentiu a alma inocente de uma criança. Ela se afligia por algo que nunca havia acontecido, mas alimentava em sua mente. O medo da retribuição de Feltis. Através da alma, Susanna deduzia que seu alvo tinha por volta de sete anos. Estava no colo de uma mãe espiritualista na porta de uma das tendas.

O plano de ação estava alçado. Muitas moscas em sua teia.

Susanna não tinha acesso a compaixão naquela circunstância, pois a havia perdido totalmente quando usou a Máscara do Rancor. Racionalmente, ela tinha uma certa consciência, que sussurrava em seu ouvido para não avançar. Num flash de memória, fruto de intuição, veio a mente dela seu último pesadelo: um esqueleto que lhe servia com uma bandeja de prata.

"Eis aqui, madame, seu coração. Você o esqueceu largado entre as traças e ele já não pulsa. Não esqueça dele. Embora você não precise, é bom tê-lo por perto..."

Susanna sentiu seus olhos molhados detrás da máscara branca que, representativamente, tinha marcas de sangue escorrendo das joias vermelhas incrustadas no lugar dos olhos. O receio de Susanna mudou de forma quando sentiu Karl Fenna, a sacerdotisa espiritualista, pousar com seu niemerin no meio do acampamento. A audição de Susanna era muito ruim, mas ela pôde ouvi-la ordenando que aquela horda levantasse voo e matasse os humanos e místicos invasores.

Nesse momento, Susanna se sentiu induzida a agir.

Abrindo os lábios, ela provocou uma maldição:

— Campo de Medo.

Um campo sentimental oriundo do sentimento da criança que Susanna absorveu foi formado, estendendo-se a todos ali, afetando suas almas e mudando suas percepções.

Todos sentiam a mesma aflição da criança.

Na visão deles, o céu se tornou azul índigo, dando um ar melancólico e sobrenatural à floresta. O sol se tornou como sangue. Não havia mais batalha, apenas um estranho silêncio. Ventos tenebrosos vindos das montanhas como sussurros.

Nesse momento, Susanna percebeu que eles se acometiam pelo sentimento capaz de formar delírios na mente. Alguns deles desenvolviam paranóias mediante aquela sensação estranha de perigo. Olhavam de um lado para o outro, perdidos, sem saber o que acontecia.

Da água corrente, aparentemente acalmada pela visão, viu-se a água se agitar por uma explosão repentina.

Susanna sentia os temores e as dúvidas, pois nenhum deles entendia o que estava acontecendo. Todas sensações eram absolutamente reais. Com mais uma maldição, ela aproveitou o estado vulnerável das mentes para inferir uma maldição em todos.

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora