Capítulo 6: Mito da aura dominante

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Susanna decidiu dar atenção ao que Eric dizia, pois tinha desistido de tentar entender por conta própria a razão do garoto estar tão animado com uma possibilidade sobre ela

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Susanna decidiu dar atenção ao que Eric dizia, pois tinha desistido de tentar entender por conta própria a razão do garoto estar tão animado com uma possibilidade sobre ela. Eric falava sobre o que leu a respeito de místicos de sensibilidade incomum. Não que Susanna desacreditasse totalmente da teoria de que ela era especial de alguma forma, mas precisava de algo além dos ânimos aflorados de um garoto que lhe tirou da enfermaria para contar histórias.

— Vamos à biblioteca. Eu te mostro! — Eric propôs, puxando-a pelo braço que não estava enfaixado com a intenção de levá-la.

— VOCÊS... — ela resistiu ao puxão e abaixou o tom quando percebeu que falava muito alto — têm uma biblioteca?

Susanna conhecia o conceito de biblioteca através das histórias das aventuras de sua mãe. Sempre tendia a imaginar uma torre importante na parte mais alta e protegida de uma cidade, onde todos poderiam contemplar o conhecimento armazenado dos sábios. Jamais pensou que teria acesso a uma.

— É claro que temos uma biblioteca — Eric respondeu com atenciosidade. — Venha comigo. Vou te levar até lá.

Prontamente, Susanna se pôs a segui-lo pelos corredores escuros da Mansão.

De fato, as lâmpadas nas paredes de pedra e acabamentos em madeira não iluminavam tão bem, ao invés disso emitiam um zunido aflitivo que incomodava a garota. Eric ia logo a frente, clareando o caminho com a lamparina; seus cabelos negros se camuflando com a escuridão. A garota apertou o passo e o segurou pela barra da camisa. Aqueles corredores a assustavam. Lembrava-de sua primeira noite ali quando teve que enfrentar as sombras dançantes e os vultos que vez ou outra jurava ver pelos vitrais. Vários quadros de ancestrais da família que pareciam observá-la.

Enquanto todos dormiam, havia muito silêncio na Mansão, exceto pelo som da madeira rangendo abaixo dos pés e o assovio do vento entre as frestas do teto. Eric, todavia, não tinha medo e também não se importou pela garota estar puxando sua camisa. Eles passaram por tantos caminhos que Susanna não tinha certeza onde estava. A ideia de se deparar com uma biblioteca, no entanto, a motivava a seguir.

— É por aqui... — disse Eric, passando por uma porta barulhenta de madeira e ferro. Após a passagem por um vão de pedra, chegaram a um pequeno cômodo soturno cheio de tralhas que Susanna tinha como familiar.

— Esse lugar... Foi onde eu me escondi quando cheguei aqui — ela comentou baixo. Reparou na lareira apagada e no sofá vermelho que já tinha lhe servido de cama. Só então entendeu que aquele cômodo era uma sala de espera. Talvez ela o tivesse achado confortável por não haver lâmpadas.

— Não precisa mais sussurrar, ninguém vem aqui já há um bom tempo. Somente algumas das faxineiras ou até mesmo eu, às vezes — comentou o garoto sorridente. — Vêm! — Eric passou por outra porta, uma que anteriormente Susanna conhecia como "a porta que está trancada".

Ela o acompanhou, e seus olhos se encheram com a visão de um grande salão, mais alto do que qualquer outro lugar da mansão. Vários andares de estantes, de modo que escadas eram necessárias para alcançar os níveis mais altos próximos a cúpula de pedra cinzenta. Susanna caminhava com certa pressa, a fim de não perder de vista o garoto apressado no meio daquele labirinto. Mesmo assim, ela se permitiu apreciar as fileiras extensas lotadas, os vitrais no topo, os castiçais nas colunas de pedra, as esculturas douradas de águias nas galerias, o carpete verde, e os belos móveis ao longo do pavimento. Ela usou sua mão não enfaixada para tocar a lombada de vários livros, de capa grossa ou fina. Nenhum parecia empoeirado, apesar de ter alguns já velhos.

O Rancor da Mariposa (Saga Kaedra - Lembrança)Onde histórias criam vida. Descubra agora