Pena que ele não iria começar comigo.

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MAGNUS

Decepção foi a primeira coisa que senti quando abri os olhos.

Esmagadora decepção.

Eu não queria estar vivo.

Eu não queria estar no hospital.

Eu queria estar morto. Os mortos não precisavam lidar com perguntas — porra de humilhação atrás de humilhação.

Os médicos fizeram perguntas.

As enfermeiras fizeram perguntas.

A polícia fez perguntas.

Todos fizeram perguntas e todos receberam a mesma resposta: silêncio.

Eu sempre falei demais. Sempre fiz muitas perguntas. Alec estava sempre rosnando para eu parar de falar.

Pela primeira vez na minha vida, eu fodidamente escutei.

Eu não tinha o escutado antes – eu não tinha ficado quieto quando ele me disse para ficar.

Agora? Era tarde demais. Eu aprendi minha lição. Mas pelo menos eu poderia me salvar de mais vergonha e humilhação mantendo a porra da minha boca fechada.

— Você está se sentindo bem para receber visitas? – uma enfermeira perguntou, suave e como uma mãe.

Todos foram solidários, mas ela foi a mais empática. Foi ela quem afugentou o policial quando ele não calou a boca, me incomodando com o que eu lembrava, e pedindo que eu prestasse queixa e o ajudasse um pouco lhe dando algo para trabalhar. Não. Não, eu não podia.

Foi ela quem se certificou de que eu estivesse envolto em uma pilha de cobertores e travesseiros para tentar aliviar um pouco a pressão no meu corpo maltratado.

Foi ela que apagou as luzes, puxou as cortinas e gritou para o médico baixar a voz.

E agora, ela estava agachada ao lado da cama, então ela estava no nível dos meus olhos em vez de ficar em cima de mim como eles faziam.

Fechei os olhos em vez de responder. Por mais legal que ela fosse, eu já tinha decidido. Eu não estava dizendo uma palavra de merda para ninguém.

O sussurro de seu uniforme percorreu o quarto e a porta se abriu e fechou.

Eu exalei, abrindo meus olhos novamente para olhar para a lasca da cidade que eu podia ver sob a sombra da janela.

Já era noite. Já? Eu estive inconsciente por horas.

Trazido inconsciente pela ambulância, mantido inconsciente pelos médicos. Tempo passou. O mundo seguiu em frente.

Mas eu estava suspenso entre aquele beco e a morte que me foi negada. Mais uma vez, eu estava fodidamente impotente. Fraco. Impotente. Patético.

Eu não conseguia lutar de volta.

Eu não conseguia morrer.

Qual diabos era o ponto de tudo isso?

Alguém engasgou à minha esquerda. Eu sabia sem virar que era Catarina. Fechei os olhos novamente, esperando que ela fosse embora.

— Magnus? – Era Raphael, porque Catarina já tinha começou a chorar. – Você está acordado?

Eu não respondi.

Eu não me movi.

Eu não poderia me mover, mesmo que eu quisesse. As drogas que eles usaram me fizeram uma lesma, um pedaço de carne apenas existindo, exatamente como antes.

De Joelhos (Malec)Onde histórias criam vida. Descubra agora