Capítulo 3

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Ando de um lado para o outro no meu quarto, ansiosa pela chegada da minha amiga, Natália, que chegará a qualquer momento. Sei que ela chegou cedo na casa do seu pai, pois me enviou uma mensagem logo cedo. Tem um tempo que Natália não visita o pai e com certeza estão colocando os assuntos em dia, assim sou obrigada a esperar.

Em cima da mesa, onde fica meu notebook, está o suco de melão que minha mãe preparou para mim, e só de me lembrar do cheiro da fruta, a náusea volta a me dominar. Fecho os olhos e respiro fundo diversas vezes, até que meu estomago se acalma.

A porta do quarto se abre e minha mãe entra, seus olhos logo alcançam o suco intocável, já é a terceira vez, essa semana, que não sou capaz de me livrar de seus sucos antes dela perceber.

Noto o seu olhar triste.

— Nós vamos ver o Dr. Horácio, venho notando que você não está se alimentado — conclui e se aproxima, então eleva sua mão até minha testa.

Eu me afasto, já não suporto mais essas atitudes exageradas da minha mãe.

— Quando a senhora e o papai vão se dar conta de que estou perfeitamente bem? — indago, no limite da minha paciência.

Minha mãe recolhe a mão e leva até o peito e começa a chorar.

— Você não entende, nós só queremos o melhor para você, minha filha. Esqueceu que tem a saúde frágil? — pergunta e passa a mão em seu rosto para secar suas lágrimas. — Gostaria que fosse tudo diferente, que fosse saudável como seus irmãos, mas infelizmente não é, o próprio Dr. Horácio afirmou isso.

Só de falar no meu médico sinto um arrepio de repugnância. Eu detesto aquele homem. Cheguei a comentar com minha mãe sobre ele, porém, como sempre, ela não me deu a chance de explicar como me sentia.

Eu puxo ar até meus pulmões, sento na minha cama e fecho os olhos, não estou me sentindo bem, mas escondo meu incomodo. Então volto a abrir os olhos e minha mãe está parada e me observa com atenção.

— Eu não vou mais no Dr. Horácio, me recuso a ser atendida por ele e vocês não vão me obrigar — acentuo, decidida.

Minha mãe arregala os olhos.

— Você não pode simplesmente se negar a ir ao médico.

Sem deixar de encarar minha mãe eu me levanto.

— Sim, eu posso, mãe! Já sou maior de idade e não sou obrigada a fazer o que não quero — declaro. Vejo que ela se espanta, essa é a primeira vez que dou voz a minha vontade. Não sei o que me acontece, mas sinto nascer em mim uma coragem, uma ousadia que nunca senti antes. — Acabou, mãe. Passou da hora de eu decidir minha vida.

Ela me encara, então dá aquele sorriso falso, de que está tudo bem e com um passo, para na minha frente. Ela ergue a mão e acaricia meus cabelos.

— Tudo bem, filha! Não vamos brigar. Não quero que você se aborreça — completa, dá um beijo em minha face e sai do quarto.

Eu me sinto uma idiota, com vontade de gritar.

Continuo parada no mesmo lugar, sem acreditar que mais uma vez, minha mãe ignorou tudo o que disse, então escuto uma batida na porta e vou atender, sei que não se trata dos meus pais, pois eles nunca batem. Quando abro vejo Natália. Ela me encara com as sobrancelhas elevadas e um sorriso desconfiado. Como não digo nada, ela entra e volto a fechar a porta.

— Aconteceu alguma coisa? Porque é a primeira vez que seu pai permite que eu venha até seu quarto — conta e eu balanço a cabeça.

— Eles não querem me aborrecer, afinal a qualquer momento posso cair morta — comento com acidez.

Um Herdeiro para o MagnataOnde histórias criam vida. Descubra agora