Capítulo 28

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*Marília*

Ouvi a voz do Henrique na ligação com Almira, não conseguia acreditar que mais uma vez ele iria trair o sentimento e carinho que eu tenho por ele, não é possível que ele está envolvido nisso tudo.

Queria muito desviar meus pensamentos, e pensar em coisas boas naquele momento, ou focar em algum momento bom que vive com Maraisa, no entanto nada me tirava da cabeça a conversa de Almira com Henrique.

Sempre pedi para todos serem otimistas sobre a vida, porém agora eu que estava sendo pessimista, tentei me mexer em busca de uma posição confortável, minhas costas já gritavam de dor, já estava a tanto tempo nessa posição e tudo que queria era ver o sorriso da minha pequena.

— Por quanto tempo eu fiquei desacordada? — perguntei para o rapaz que havia tirado minha mordaça.

— Tempo suficiente. — ele respondeu.

— Eu preciso ir ao banheiro, você poderia me desamarrar?

— Eu não posso fazer isso.

Olhei pra ele, o mesmo rapaz que me defendeu horas atrás, queria chorar, mais não conseguia, já havia chorado todas as lágrimas possíveis e meu peito doía.

— Por favor, eu prometo que não vou fazer nada pra te prejudicar.

Ele ponderou a minha proposta, e veio até mim, soltando meus braços e pernas.

— Por favor, não faça nada idiota.

Eu tinha certeza que não conseguiria andar sem cair no chão, mais precisava tentar, forcei meu corpo, e gemi de dor, senti uma pontada forte e dolorosa no pé da barriga, como se alguém estive-se enfiando uma estaca em mim.

— Ei tudo bem aí Marília?

Neguei com a cabeça, minha barriga latejava e eu sentia o sangue pingar no chão embaixo de mim. Eu já estava ficando fraca e sabia que não aguentaria mais por tanto tempo.

— Quer ajuda pra ir até o banheiro?

— Sim... sim por favor. — gemi de dor de novo.

Ele me pegou no colo e me levou até o banheiro.

— Vou te esperar aqui fora, qualquer coisa me chama.

Eu não pude responder, pois mais uma vez a onda de dor veio certeira pelo meu ventre e eu não pude conter o gemido de dor que escapou pelos meus lábios.

Senti outra pontada na barriga, foi tão dolorido que os meus batimentos cardíacos aumentaram, a garganta se fechou, como se alguém estivesse me sufocando.

— Por favor feijãozinho, por favor, aguenta só mais um pouquinho, mamãe tá lutando por você. — acariciei minha barriga, tentando respirar fundo.

Eu pedi para qualquer entidade que pudesse me ouvir, mas o rastro de sangue que saía do meu útero descia pelas minhas pernas. Eu arfei de dor e meus olhos se encheram de lágrimas no mesmo instante. Uma nova onda de dor veio até mim e eu queria me encolher, mas não podia.

- Não, por favor, fique aí, não, não...

A cada ar que invadia meus pulmões, pareciam chamas em brasa, queimando cada extensão do órgão, até respirar doía, não conseguia me acalmar, era impossível quando se estava preste a perceber que aconteceu uma coisa que há tempo temia acontecer, eu estava perdendo meu bebê.

— Não, não, por favor. — minha voz saiu falha, segurei o choro o máximo que consegui.

Levei a mão até a boca, sentindo o peito se apertando, enquanto batia incansavelmente, minhas mãos tremiam e a mente estava em choque, os pensamentos evaporaram assim que os ouvidos capturaram perfeitamente a voz exaltada de Almira, não conseguia pensar e era bastante difícil até de respirar.

— VOCÊ PERDER O SEU FILHO É CULPA SUA MARÍLIA. — Almira entrou no banheiro gritando.

— Por favor Almira, por favor. — os soluços não me deixavam falar direito. — Por favor, por favor, me tira aqui — eu pedi — Eu não falo nada para ninguém, por favor, por favor. Eu não quero... Eu não quero perder meu bebê, por favor.

Abaixei a cabeça e fechei os olhos, suspirando longamente em uma tentativa falha de me acalmar, repetindo diversas vezes, tanto por pensamento quanto pelos lábios, que tudo ficará bem, o ar penetrou minhas narinas e antes de chegar aos pulmões, parecia que algo bloqueava sua passagem, fazendo meu corpo se contorcer em soluços que ardiam o peito.

Meu corpo tremia e meus olhos começaram a derramar lágrimas ao pensar em tudo o que eu iria perder. Eu não teria mais meu bebê em meus braços ou veria seu rosto em meses.

Eu só queria descansar e fazer com que a dor fosse embora e então eu deixei de resistir. A inconsciência finalmente veio e dessa vez eu não tentei lutar contra, e o último rosto que vi antes de desmaiar novamente foi o de Henrique, atrás de Almira.

De quem é a culpa?Onde histórias criam vida. Descubra agora