Capítulo 60

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*Maraisa*

O fato da Marília fazer tantos shows está me deixando completamente irritada, ela quase não fica em casa com a gente, a maior parte do tempo nossas folgas não condizem, mesmo depois do Léo ela continua trabalhando no mesmo ritmo, na mesma intensidade.

Durante essa manhã eu tentei ficar calada e não entrar nesse assunto com ela, mas foi impossível quando ela fez aquele comentário com minha irmã. Tentei me manter calada, mas falhei na missão.

— E esse almoço, sai ou não sai? Achei que eu ia chegar aqui e vocês já estariam comendo! — Marília falou entrando na cozinha.

— Aí meu bebê que saudade. — tia Ruth abraçou ela com força.

— Meu Deus, como eu senti falta desse abraço mamãe. — falou apertando mais o abraço.

— HA! — João Entrou de supetão no cômodo, gritando e assustando a irmã que estava encostada na pia falando com a tia Ruth.

— Você ficou retardado, João? Quer me matar do coração? — João gargalhava enquanto Marília apoiava-se na pia, com a mão no coração.

— Também... Também te amo, maninha. — Não conseguia conter as risadas, a expressão da mais velha se suavizava, conforme a vontade de rir crescia nela também.

— Ai, eu te odeio! Peste. — Jogou um pano de prato no rosto de João, já rindo. — Que saudade maninho. — abraçou o irmão.

Ela não me olhava, estava chateada pelo que falei, mais ela também precisa me entender, o almoço seguiu em um clima tenso entre mim e Marília, estávamos todos na sala conversando sobre coisas aleatórias, Léo dormia no colo da mãe, eu bebia enquanto observava Marília falar.

— Mãe vou pra casa, levar Léo para descansar, podemos jantar todos juntos amanhã o que acham?

— Será ótimo minha filha, não quer deixar Léo aqui? Parecem precisar de um tempo a sós. — tia Ruth disse.

— Não mãe, está tudo bem. — ela me olhou. —Quero passar um tempo com ele.

— Tá precisando mesmo. — a encarei.

— Maraisa. — minha irmã falou me alertando.

— Só estou dizendo a verdade Maiara, ele está com saudade dela.

— Afinal qual o problema Maraisa? — Marília me olhou bufando.

— Ah, então você não sabe? Deixa-me esclarecer: você não fica mais em casa Marília, esperava o que?

— Maraisa, eu não estou te entendendo.

— O que você não está entendo Marília? Eu sinto sua falta, Léo sente sua falta, você passa mais tempo fazendo shows, do que com sua família.

— Eu não acredito que estou ouvindo isso, justo de você. O que você quer que eu faça Maraisa?

— Nos colocar em primeiro lugar já seria o suficiente. — Marília ficou visivelmente chateada.

— Maraisaa. — Maiara exclamou, balançando a cabeça em negação.

— Eu estou mentindo por acaso? — perguntei olhando nos olhos dela.

A sala ficou em um silêncio pesado, minha sogra tirou os outros da sala, pegando Léo dos braços de Marília, e agora estávamos apenas nós duas ali.

— Você tem certeza que quer fazer isso aqui Maraisa?

— E temos tempo de fazer em outro lugar Marília?

— Bom, me desculpe se fazer o que sempre amei é egoísmo da minha parte, eu achei que pudesse contar com você.

— Você pode Marília, quem não pode sou eu pelo visto né. — soltei uma risadinha irônica.

Marília direcionou o olhar para mim, seus olhos marejados me encarando.

— Eu fiquei mais de um ano longe dos palcos, cuidando do nosso filho, não me venha com essa sua ironia, como você soube sobre o primeiro passo dele? Sobre a primeira vez que ele falou mamãe? Você só soube porque eu te mandava vídeos, você sabe porque Maraisa, porque você não ficava com a gente...

— Marília...

— Quem vai falar sou eu, não faz nem um ano que voltei a fazer shows Maraisa, e o tempo que eu fiquei com o Léo em casa, você estava viajando, mau pisava em nossa casa, e eu sempre te apoiei nisso, sempre entendi o seu lado, então não use nosso filho para fazer chantagem emocional comigo. — ela soltou tudo de uma vez com raiva.

— Marília você não entende.

— Eu já conversei no escritório para diminuírem a agenda a partir do mês que vem.

— Diminuir quanto?

— E isso importa Maraisa?

— Óbvio Marília, se você diminuir apenas 2 shows que diferença vai fazer?

Marília bufou e passou as mãos pelo rosto.

— Depois não reclame. — sussurrei não passando despercebido por ela.

— Maraisa pare de me provocar desse jeito. — notei o ciúmes em sua voz.

— Ou o que Marília?

— Você quer me fazer escolher entre você e meu trabalho, é isso? — ela me encarou com descrença.

— A questão não é essa Marília. — revirei os olhos.

— Você está sendo egoísta Maraisa.

— Egoísta por querer minha mulher comigo?

Marília levantou andando de um lado para o outro, enquanto passava as mãos pelo cabelo.

— O que você quer que eu faça?

— Que seja presente.

— Maraisa eu sou presente, é impossível estar aqui todos os dias, mais sempre que possível estou com vocês.

Me levantei e fui saindo da sala.

— Como eu disse, só não reclame quando Maiara arrumar outra cunhada.

Percebi Marília vir em minha direção, suas mãos fechadas, ela me pressionou na parede mais próxima.

— Se você deixar outra mulher te tocar eu não respondo por mim, está entendendo? — seus olhos escuros, o ciúmes tão visível. — Não brinque comigo dessa forma.

— Mamã? — ouvi a voz manhosa de Léo a chamando, e seu rosto se suavizando.

— Oi meu amor. — ela foi até ele o pegando no colo.

Nos despedimos de todos e entramos no carro ainda em um clima pesado, Marília continuava a olhar a estrada e assim eu também fiz.

De quem é a culpa?Onde histórias criam vida. Descubra agora