IV - Tudo Em Dobro

403 33 10
                                    

Jake narrando:

Assim que Júnior caminha em passos acelerados para o banheiro, Amanda cruza os braços e olha para mim.
Respiro fundo e levanto meus olhos até ela, aguardando mais uma de suas frases que com certeza mexerá com a minha consciência, mas que eu jamais assumiria ou voltaria atrás.

- Você não vai sentir falta disso? - Pergunta.

Com os braços descansados sobre a mesa, deslizo e afasto minimamente o caderno de Júnior.
Volto meus olhos para cima, em direção aos dela e pergunto... - Falta do que?

Ela sorrir sarcasticamente, como se eu soubesse bem do que ela se referia, e eu sabia.
- De ficarmos nós três conversando, rindo e planejando coisas. - Amanda responde.
- Semana passada passamos o final de semana inteira assistindo filme aqui na sala, juntos no sofá. - Ela completa.

Rosno e solto ar.
- Essa foi a sua percepção. Para mim, eu estava assistindo um desenho com o meu filho, e você estava do outro lado assistindo também. - Falo.

- Eu não vi diferença. - Ela responde ainda de braços cruzados.

- Você se faz de cega. - Respondo grosseiramente.
- Eu não sentirei falta de nada, porque tudo isso não passa de um fingimento para que o Júnior ache que está tudo bem, para que todos achem o mesmo. Não vou sentir falta de fingir. - Finalizo.

- Está fazendo isso pra curtir sua vida de solteiro de vez, ou você a ama? - Ela pergunta.

Travo minha garganta, ela Amanda está se referindo a Mariana, e a falta dela ainda mexe muito comigo.

É claro que eu a amo, mas do que isso adiantaria se já acabou há tempos?
Sei que não teremos volta, e eu não vou insistir.

- Eu não tenho que te justificar nada. - Respondo.
- Meu dever com você é falarmos da educação do nosso filho e te prover nos gastos. - Finalizo com convicção.

- Você já me declara a sua ex esposa. - Diz.

- Por que você está surpresa? Tem sido assim há quatro anos. - Respondo.

Ela empurra a cadeira em sua frente e sai do meu campo de visão batendo o pé firme.

Eu poderia simplesmente deixar como está e ir ajudar meu filho no banho. Não tenho saco pra ficar repetindo as mesmas coisas pra Amanda.
Mas seria bom enfrentar tudo agora, pra nunca mais ter que perder o meu precioso tempo.

Me levanto da cadeira e bufo. Sigo-a mesmo que contra a minha vontade.
Eu sabia que iria ter esse estresse todo ao ir contra os seus desejos, mas eu preciso pelo menos dessa vez, dar valor ao que eu realmente quero também.

Seguindo seus passos, chegamos até a cozinha. Ela gira o corpo para mim de forma raivosa e eu começo a falar...
- Talvez não hoje, mas um dia você vai entender que isso vai ser o melhor para o Júnior.

- Isso vai ser péssimo para ele, porque vai ver o quão infeliz eu ficarei! - Ela responde com a voz alterada.

- Você é uma boa mãe, e eu sei que não vai expressar esse mal estar a ele. - Afirmo e ela engole seco.

- Você nem tentou... Cansou de me deixar falando sozinha, me dava foras e me tratava com indiferença. - Acrescenta.

- Tentei. - Afirmo.
- Mas eu não fui o único errado nessa história e o Júnior já presenciou muita coisa. Sempre que eu pensava na possibilidade de ficar, eu me recordava do Junior pedindo pra nós dois pararmos de gritar. - Acrescento.
- Ele ficava assustado, você sabe disso. Uma criança não tem que viver em uma situação dessas. Nós como adultos e mais conscientes devemos colocar um encerramento em um casamento falido! - Finalizo.

Reinventei Você (PARTE 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora