Não, por mais que tentasse buscar uma alternativa para o problema, nada aparecia em minha mente. Eu mesma sabia que quando fui aceita na academia não poderia nunca mais pisar na favela, e tinha planos de me mudar com meu filho. Desaparecer para que ninguém mais soubesse de nossas vidas.
Porém agora, agora não faz mais sentido. Eu sozinha não faria sentido. Sem o meu bebê não viveria, era como se metade de mim estivesse sendo arrancada.
— Eu deixo.
Não me importando com a minha humilhação, me pendurei em seu pescoço, mesmo ele tentando me afastar. Segurei o mais forte que conseguia.
— Eu deixo a academia, eu desisto de ser agente, por favor. Não me afasta do meu filho, Douglas.
A minhas lágrimas se tornavam em um choro doloroso, não me importava sobre como estava me humilhando, só não poderia aceitar que ele fizesse isso comigo, não.
— Me larga, filha da puta. Tira essas mãos sujas de mim.
— Não Douglas, por favor. Eu prometo que não vou mais, eu vou desistir, eu vou sair. Meu filho é mais importante.
— Sai caralho.
— Filho? Está aí com quem? — Ela apareceu no portão e provavelmente nos olhava.
Não me reconheceu, pois eu estava pendurada no pescoço de Douglas, implorando pela sua misericórdia e que não me afastasse do meu filho.
Ergui minha cabeça e me afastei dele, e então ela pode me ver. O rosto vermelho pelo choro e olhos inchados.
— Mariana, o que houve? Ah, vocês dois, quando vão se acertar? Entre amada, Lucas me perguntou agora a pouco quando ia te ver novamente.
Tirando meu olhar dela, encarei Douglas para saber o que ele decidiu. Ainda fui capaz de derramar mais algumas lágrimas, implorando para que me desse essa chance, e ele nada respondeu. O olhar de ódio permanecia, mas eu precisava lutar pelo meu direito de ser mãe do meu bebê, e se fosse meu último ato de coragem, desafiando o perigo de toda aquela situação, eu fui até onde Adriana estava parada no portão.
Se ele não me aceitasse, teria valido a pena, eu abraçaria e beijaria Lucas como se não houvesse amanhã, pois sei que não haveria sonho, se ele não estivesse presente em minha vida.
Foi o que fiz, assim que cheguei na sala, meu bebê estava lá, assistindo ao seu desenho favorito. Com lágrimas incessantes o peguei e o abracei com a desculpa de que estava com saudade, mas sabendo dentro de mim que poderia ser meus últimos momentos ao seu lado, porque Douglas não me respondeu sim ou não sobre sua misericórdia.
Fiquei com ele ali por um bom tempo, agarrada ao meu ursinho, brincado com seus novos carrinhos que ganhou de presente das pessoas nesta casa e Adriana sempre me encarando.
Percebi que ela estava meio receosa e até ressabida por meu comportamento com meu filho, e por alguns momentos me passou na cabeça algumas palavras de Douglas. Quem ele era? O que essa mulher era? Porque pelo que eu pude entender, Adriana tinha alguns empreendimentos, mas o filho era totalmente envolvido com o crime, pelas amizades, e como foram suas palavras: "Eu não me tornei o que sou, sendo misericordioso". Quem ele era? Novamente alguns quebra-cabeças foram se juntando e o fato de Anderson estar entrando para o seu bando, fazendo o que fazia, será que ele seria algum estelionatário? Ou até mesmo laranja, que lava o dinheiro para o tráfico? Se as respostas forem sim, e Adriana estiver tão envolvida quanto o filho, eu estava em um ninho de cobras e se descobrissem quem eu estava tentando me tornar, poderia dar adeus a minha vida.
Estava na sala dando atenção para o meu filho quando Douglas passou sem falar com ninguém em direção à garagem. Saiu sem dizer uma palavra e isso me deixou em alerta.
— O que aconteceu entre vocês dois? — Adriana me perguntou enquanto eu ajudava ela com a janta.
— Nada, tivemos um desentendimento e eu errei, agora espero que ele me perdoe – disse, assumindo a minha derrota.
— Cabeça dura igual meu filho? Duvido, aquilo ali é rancor em pessoa. Mas, seja lá o que tenha acontecido, espero que ele pondere, pelo menino. Agora que descobri que tenho um neto, não suportaria me afastar dele por desentendimento de vocês.
— Pedi perdão, Adriana, não quero me afastar do meu filho e nem afastá-lo de vocês.
— Acho bom querida. Eu gosto de você, lamentaria que algo ruim pudesse quebrar essa afeição que temos.
Mesmo não percebendo, suas palavras me atingiram. Ela seria capaz de acabar com minha vida se soubesse quem eu me tornaria?
Preferi acreditar que não, pois a sua simpatia era algo a se destacar. O sorriso apaziguador estava sempre lá, as palavras calmas e coerentes. Ela não seria capaz de me fazer mal.
Depois do jantar e de deixar tudo organizado, subimos para os quartos. Coloquei Lucas na cama e depois relutei em ir ao quarto que estava disponível para mim.
— Quer alguma coisa, amada?
Ela me assustou, pois eu estava parada segurando a maçaneta da porta do meu quarto e encarando a porta do quarto de Douglas. Estava colocando a mente para funcionar, pois precisava dobrá-lo e fazê-lo me aceitar.
— Nada.
— Ele ainda não chegou, e pelo humor que estava quando saiu, duvido que volte hoje. Meu filho as vezes é cabeça dura e precisa de muito para ser dobrado.
— Sim, obrigada.
— Foi traição?
De certa maneira sim, mas não da qual ela estava pensando.
— Não.
— Então surpreenda ele, vocês vão ficar bem, boa noite.
Despedi-me dela e observei enquanto entrava em seu quarto.
Por fim, decidida que queria manter a minha vida e a permanência ao lado do meu filho, fui até seu quarto. Nenhuma surpresa por estar vazio.
Arrumei os cobertores e me deiteiali, esperando até que ele chegasse.
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VIDA REAL
RomanceAmores impossíveis são impossíveis de acontecer. Nada que começa mal, tem a probabilidade de terminar bem. Com Mariana e Douglas não poderia ser diferente, mas sempre há aquela exceção as regras. Douglas será capaz de superar seu ódio? Mariana será...