Capítulo 40

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DOUGLAS


Nós achamos que quando um problema for resolvido tudo vai ficar em paz, mas aí aparece outro para testar nossa fé.

Sabia desde o início que essa história de Mariana daria merda, sabia que ela não sobreviveria um minuto no meio dos meus, ainda mais sabendo quem ela é.

Só que, porra, um polícia de verdade jamais mataria um dos seus para provar lealdade a vagabundo, E ela? Matou cinco! Sabe no que isso implica?

Até Rambo veio me dar o papo de que se um dia suspeitou que ela fosse alguma ameaça, já tinha descartado.

Dona Adriana seria a mais casca grossa de todas. Eu era pequeno quando tivemos nossa casa invadida por policiais, estavam à procura do meu pai, que havia participado de um assalto a carro forte e havia baleado um dos seguranças, naquele tempo era difícil bolar um plano seguro, e como ele estava no início, precisou atirar num dos seguranças que quis dar uma de herói. Pro azar dele, o segurança era polícia.

Lembro dessa noite todas as vezes que fecho os olhos. Três homens invadindo nossa casa e minha mãe me acordando para eu ir para o esconderijo dentro do armário da cozinha, meu irmão era grande e estava nessa treta com meu pai, infelizmente não se livrou.

Os desgraçados torturaram meu pai e meu irmão ali na cozinha, enquanto eu ouvia e via tudo pelo pequeno buraco daquele armário. Os gritos estão na minha mente, aqui agora, se eu fechar os olhos, meu coroa implorando para poupar o filho, que se fosse para ir preso ele ia, enquanto os desgraçados riam. A pior parte de tudo aquilo, em que eu tive que me segurar sendo apenas um moleque de dez anos, foi quando um dos filhos da puta pegou uma faca de cozinha e começou a arrancar o couro cabeludo do meu pai, querendo saber onde estava a coragem que ele teve quando ousou pensar em roubar um banco.

"Um preto fodido como você tem que ter muita coragem pra tentar contra nós"

Hoje eu tento, seus desgraçados, e provo que sou capaz. Pelo meu pai, pelo meu irmão, pela minha coroa, que mesmo que tenha sobrevivido até hoje, sofre as consequências.

Eles torturaram minha mãe, a sufocaram com saco plástico, esfaquearam a sua perna, tanto que se reparar bem, ela manca até hoje por causa dessa parada. E eu até entendo o seu ódio, eles foram covardes, foram baixos, e cada vez que tenho que lidar com qualquer um deles a hostilidade é presente.

E então, a pior pessoa que Mariana poderia escolher ser, era policial. Desde o primeiro momento em que a vi, a filha da puta estava toda gostosa em uma calça jeans subindo com um moleque quando cumprimentou o Vampeta, não olharia se não fosse aquela bunda, só que o conjunto da obra me chamou a atenção. E quando o moleque pediu para subir na moto, eu encarei e me vi quando tinha aquela idade.

Não achava ser possível uma criança ser tão parecida comigo, ainda mais andando com uma mulher que não passaria despercebido por mim, sendo gostosa daquele jeito.

Corri atrás da parada e descobri que ela era irmã da garota que tinha gerado problemas em uma das festas do Santista, no passado, a mina entrou dizendo ter dezoito e no final era menor, quase fui de ralo nessa porra.

Fiquei mais surpreso ainda quando descobri que ela cogitou abortar o menino. Vi bicho quando soube. Porra, nunca me imaginei sendo pai, até porque quem eu sou e o que eu faço não me permite ter laço afetivo com ninguém, a não ser a minha mãe que já tem a experiência necessária para sair de qualquer situação.

A verdade é que não queria passar pelo mesmo que meu coroa passou, mas aí o moleque é foda demais, me cativou de uma maneira que eu sentia que precisava protegê-lo, precisava dele debaixo das minhas asas para que nenhum filho da puta colocasse as mãos sobre ele.

Falando em verdades, devo confessar que de princípio comecei a fuçar a vida de Mariana para achar uma brecha da minha coroa tirar a criança dela, não confiava, vai que ela fosse igual a irmã? Quando um dos advogados que faz sempre um trabalho por fora me trouxe o relatório, eu só queria matar, minha visão era sangue, não acreditava que meu filho estava sobre a responsabilidade de alguém que eu repulsava. Porém, a filha da puta insistia em ficar ao redor e eu não sei o que me impedia de puxar o gatilho enquanto ela estava próxima.

Porra, como eu sabia. Aprendi a camuflar o que sinto porque sei que é o que sempre vai me proteger, até porque a minha caminhada até aqui não foi fácil. Mas ela? Estava fora de cogitação, jamais assumiria estar apaixonado por um inimigo, jamais admitira sentimento por alguém desta corja. Foi aí que começaram os maus tratos, como eu não tinha coragem de puxar o gatilho, comecei a maltratar, aloprei pesadamente em sua mente para que essa mulher desaparecesse. Era fodido ter que falar certas coisas para ela, ainda mais que eu sabia do amor que sentia pelo menino. A irmã foi filha da puta, até porque eu descobri que tinha ido pra Espanha de mula de um parceiro do Vampeta, mas ela permaneceu, se fodeu bonito conciliando faculdade e a criação do menor. O Lucas também é paradão na dela e eu sei que esse tipo de relacionamento com criança não nasce da noite para o dia.

Então eu decidi colocá-la no assalto que estava para acontecer. O plano inicial era levar ela de bucha, para morrer ali mesmo, só que a maldita sabe manusear uma arma, as mais brabas, eu coloquei três na frente dela e montou fácil. Fiquei surpreso quando foi ela quem me salvou ali, armei para a mina e eu cai na armadilha.

Ali eu vi, que apesar do coração mole que eu havia jogado na sua cara, era mulher pra caralho por aqueles que ela ama, e pra minha sorte, ela me amava, eu não precisava de palavras. Nas poucas vezes que tivemos relações eu percebi como se entregava e por mais que eu quisesse negar, a nossa conexão era foda, porque nós dois entrava numa sintonia de outro mundo.

Fui obrigado a concordar. Insisti para ela dizer e ao mesmo tempo saiu de mim. Agora sabe quando que eu deixo essa mulher ir? Nunca, parceiro!


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