Capítulo 25

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Era inquietante passar por toda essa situação e era mais perturbador ainda saber que Douglas esperava apenas um passo em falso meu para acabar com minha vida.

Até mesmo quando eu pensava que estava adquirindo sua confiança, lá estava ele para me torturar de alguma maneira e mostrar a minha insignificância naquela casa. Foi assim durante toda a semana e nas poucas vezes que fui a minha casa, tive que ir acompanhada. Essa parte está sendo degradante, ter alguém sempre no meu encalço, até mesmo quando deixo meu filho na escola.

Sem contar que não estou trabalhando. Como sempre fui uma pessoa ajuizada, tenho a minha poupança, mas não é nada que eu possa esbanjar, mesmo assim, ficar aqui e depender dele é horrível. Mostra que tem mais poder do que deveria sobre mim e isso me destrói.

Hoje, sexta-feira, assim que voltei da escola de Lucas ele me parou no corredor e disse que íamos a um aniversário de um amigo, que era para eu me arrumar. O medo de que possa querer me pregar alguma peça como fez com Rocha é enorme, porque meu instinto estava aguçado, e o conhecendo bem como o conheço não permitiria repetir mais essa humilhação, assim como não permiti mais me tocar nesses últimos dias.

Se ele acha que vai me tratar como um pedaço de carne e depois cuspir em cima, está muito enganado.

Percebi que ele descobriu meu ponto fraco, que é o amor incondicional pelo meu filho e sempre me mantenho ao redor disso. Volta e meia entendo as suas ameaças veladas e desde que me disse que pretendia tirar meu nome da certidão, tenho evitado qualquer conflito, apesar de ele estar preferindo me ignorar.

Ainda bem que Adriana tem sido uma ótima companhia e depois que soube que participei de uma reunião, adquiriu mais intimidade a ponto de me contar que é ela quem distribui e investe o dinheiro do filho e da maioria dos meninos do bando. Sem querer eu estava descobrindo tudo o que a Polícia Federal lutava há anos para saber, e o pior de tudo, não poderia entregar nada, para me manter a salvo e próxima do meu filho.

Era invisível, mas a cada descoberta eu percebia a arma engatilhada na direção da minha cabeça.

**********

— Uau!

Sem pedir licença, ele abriu a porta do meu quarto e me encarou, enquanto eu terminava de me arrumar.

Decidi ignorá-lo e voltar para a minha função. Mesmo que nos poucos segundos que o vi ele estivesse uma delícia de blusa da Armani de manga longa branca, calça jeans preta e tênis também preto, uma verdadeira perdição, mas jamais admitiria em voz alta, não quando meu ódio por ele era maior que tudo.

Depois de pronta, peguei a clutch vermelha que combinava com meu vestido e saí.

Ele veio logo atrás.

— Uau, que nora linda eu tenho.

Sorri sem graça, querendo corrigi-la, mas não perderia meu tempo e nem arrumaria confusão por isso.

— Mamãe está linda.

— Obrigada, meu amor, se comporta, viu.

— Mamãe também.

— Pode deixar que o papai cuida da mamãe.

O intruso parou ao meu lado, estava segurando em minha cintura. Se ele soubesse o quanto me odeio por me arrepiar por completo quando ele faz isso. Se bem que acho que ele sabe, pois sua mão apertou forte o meu quadril somente para me provocar.

Querendo me livrar de suas garras, caminhei com meu filho até onde Adriana estava e lhe entreguei meu precioso.

— Não se preocupem com a hora da volta e se quiserem dar mais um irmão para meu Luquinha, ficaremos muito felizes, não é neném de vó?

— Eu quero irmão.

Quanta inocência de ambas as partes, as vezes me pergunto se Douglas consegue fingir tão bem perante a mãe ou ela prefere acreditar que estamos vivendo nas mil e uma noite de amor.

Pelo sorriso que ela compartilhava com meu filho, a segunda opção era a mais viável.

Douglas segurou em minha mão até que chegamos na garagem onde ele pegou o SUV preto e abriu a porta para mim. O encarei assustada, seja lá o que esteja tramando, todo esse cortejo estava me dando calafrios.

Assim que já estávamos acomodados, ele puxou o meu queixo e me deu um beijo.

— Tá gostosa pra caralho, é uma pena tu ter fodido tudo.

**********

A festa acontecia em uma chácara em que eu não sabia a localização, já que Douglas não falou nada e nem mesmo o GPS ele consultou para chegarmos, mas percebi que estava muito bem vigiada, muitos seguranças na porta, diria que à paisana, no primeiro olhar, mas logo percebia-se o volume na cintura.

— De quem é a festa?

— Um amigo traficante, vai estar cheio aí dentro hoje.

Novamente segurou em minha mão e se pôs a andar em direção à entrada da casa. Ao que tudo indicava, a festa acontecia na área externa, na piscina, mas ele foi para dentro da casa, onde antes de entrar, tivemos que ser revistados para em seguida sermos liberados. Havia tantos outros homens que só pela imponência causavam medo em quem ousasse olhar na direção. O cheiro de maconha era tão forte que não precisava estar com o cigarro na boca para estar chapado, e como em uma cena de filme de Las Vegas, várias mulheres lindas cheirando carreiras infinitas de pó.

Não sei, mas acho que Douglas adorava me colocar em situações como esta, porque sabia que eu não suportava.

— Olha aquele homem ali que tem a loira chupando o pau. — Olhei na direção do homem que tinha a sua própria festa particular num canto com uma loira. — A Federal adoraria pôr as mãos nele, mas não coloca, sabe por quê? Dinheiro. Aquele ali arrumando a carreira para a ruiva, Barão do pó, não preciso nem falar. E sabe o que cada um aqui tem em comum, todos adorariam saber que você é um deles.

— Para com isso, Douglas, estou cansada de você querer me coagir dessa maneira. — Virei em sua direção cansada de toda essa opressão. — Se te fizer bem, me entrega logo, diz para eles quem eu estava tentando ser e que deixei tudo para trás pelo meu filho. Ou então, para com isso, porque eu já não suporto mais.


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