Capítulo 38

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— Vaza, sai agora da porra da minha quebrada. Virou advogado de polícia agora?

— Mano, nós vamos se desentender nessa porra e não vai dar bom pra ninguém.

— Vai me peitar agora, moleque? Acha que os caras vão gostar de saber que tudefendendo polícia? — disse partindo pra cima de Douglas.

— Os caras não têm que achar nada nessa merda, até porque, geral sabe que eu não arriscaria a família por causa de um merda, a minacomigo edo nosso lado nessa porra.

Olhando todos ao redor, estávamos em desvantagem, claramente ali, os homens do Rocha o defenderiam e estavam todos armados, quanto a nós... bom, se ele lutasse alguma coisa, poderíamos machucar alguém antes de sermos alvejados com vários tiros.

— Do meu lado não, que eu não sou comédia. Os cara vai saber dessa fita.

— Eu saí, Rocha. Não faço mais parte, preferi escolher meu filho, e se implica eu seguir o que vocês fazem, é isso que eu vou fazer. Mesmo morando aqui todo esse tempo, nunca passei nada para eles, tanto que lá, ninguém sabia que eu morava em comunidade e nem aqui ninguém sabia que eu estava tentando me tornar uma agente.

— Ninguém? E aquele mané ali?

Ele apontou com a cabeça na direção em que dois homens vinham trazendo um terceiro arrastado, pela escuridão não reconheci, mas quando se aproximaram eu vi que era o Anderson.

Tentei correr na direção deles, mas fui impedida.

— Ele também não sabia, nunca soube.

Vendo Anderson naquela situação, comecei a agradecer pela presença de Douglas aqui, e sei que se não estivesse, estaria bem pior do que meu amigo está agora. Ele estava desacordado e todo machucado. Justo ele, o mais inocente em toda essa história.

— Interessante. Tu sabia que ele era irmão, que ele entrou pra família, mas ele não sabia que tu era agente, é isso? Tenho cara de otário nessa porra?

— Não estou dizendo isso. Eu quis entrar para a polícia muito antes do Anderson entrar para essa vida. Você acha que foi fácil para mim, crescer numa casa em que a sua mãe dava mais importância para as drogas do que para as filhas? Que ela não se importava com as pessoas que colocava dentro de casa, desde que eles te levassem só mais uma carreira de pó? Eu cresci sabendo que teria que fazer alguma coisa para mudar tudo isso. Tinha potencial se usasse a minha mente, e foi o que fiz, mas aí eu me descobri cercada por todos vocês, mesmo não querendo me envolver, eu estava lá, atirando contra cinco policiais para defender o cabeça de um assalto, acha mesmo que depois da porra toda que passei, era isso que eu almejava para minha vida? — tentei soar calma, mas essa história sempre me tirava do sério, então no final acabei gritando.

— Abaixa a porra da bola que tu nãofalando com teus pau mandado não, caralho. — Ele segurou em meu pescoço apertando forte.

— Solta ela porra, solta a mina Rocha — ordenou Douglas.

— Você não vai tirar a minha moral nessa porra. Aqui quem dá as ordens sou eu, a mina estava na minha quebrada, eu que resolvo essa porra.

— Resolve o caralho, eu já resolvi. E acho bom tu pegar a visão, porque eu já permiti esse circo ir longe demais.

— Se acha o fodão, né? Eu também me sentiria, sendo sobrinho de quem tu é, só que essa parada nãona tua alçada. Teu tio não vai acobertar essa porra. Nem o que tu é vai tirar o alvo quenas costas dessa mina.

Ele deu as costas e mandou que os homens largassem o corpo de Anderson no chão, mas antes se virou para mim, com nojo estampado em seu rosto.

— Rala da minha quebrada, se eu te pegar, vai ser sem dó.

Quando eu achava que detinha algum conhecimento sobre quem era o quê aqui, algo novo surgia. Eu sabia que Douglas tinha bastante dinheiro, até porque ladrões de banco têm bastante conceito pelas facções, ainda mais quando são roubos grandes como os que eles fazem, mas agora, para o Rocha se dobrar diante dele? O que mais este homem é? E tantas outras perguntas como esta surgiram em minha mente enquanto ele me ajudava a colocar o corpo de Anderson na parte de trás do carro.

— Vamos deixar ele na casa da mãe, depois eu passo para recolher as minhas coisas.

— Certo.

Em silêncio rodamos até a parte mais movimentada da comunidade, que era onde Fernanda morava. Lembro das dificuldades que teve quando Anderson era apenas um garoto inconsequente e revoltado pelo abandono do pai. Ela, uma verdadeira guerreira, sempre batalhou para trazer o sustento para casa, mas não foi o suficiente par satisfazer o senso de justiça do filho, que sempre aparecia indignado por sua mãe se matar de trabalhar e sempre viverem na mesma situação. Foi doloroso deixá-lo ali daquela maneira, ainda mais sabendo que ele não merecia. Rocha é um filho da puta, ele não pode fazer isso, Anderson sempre foi certo em sua conduta e ele conhecia o menino, sabia que era puro.

Depois fomos para a minha casa, onde Douglas me pediu para entrar. Eu estava disposta a ir embora, pois estou cansada de tantos problema, mas ele me disse que era para ficar dentro de casa e que alguém traria Lucas até mim.

Nunca me imaginei nesse tipo de situação, mas agradeço por ter mudado a visão sobre mim e estar do meu lado agora.


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