Capítulo 41

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Mariana me provou ser mais capaz do que aparenta. A mulher é foda e balançou o coração de vagabundo. Essa é minha para sempre.

Foda vai ser agora que eu vou ter que entrar num miolo grande pra livrar o dela. Não que a família não lida com esses porcos, até porque tem uns que são corruptos demais para se satisfazerem com o lado que escolheram. O caso de Mariana só é mais complicado porque ela é a mãe do meu filho, neto da dona Adriana, e esse tempo todo estava na encolha dentro da favela. Óbvio que os caras vão pensar merda.

E o fato da dona Adriana ter passado tudo o que passou, fez com que meu tio a acolhesse. Basta um pedido e eu sei que Mariana deixa de respirar.

Agora estou indo até ela, contar o que não sabe e tentar fazer enxergar a mina da mesma maneira que eu estou enxergando.

Porra, lembro como meu pai era paradão na minha coroa, os dois dançando juntos, curtindo um Black Charm enquanto eu e meu irmão se acabava de rir, achava pagação de mico. As promessas dele, de que daria um futuro bom para ela e que um dia eles seriam alguém. Os dois eram muito apaixonados, tanto que até hoje minha coroa não arrumou ninguém para colocar no lugar dele, está lá, o negão dela se foi e ela espera o seu dia, cumprindo o seu papel aqui na terra.

Hoje, sendo adulto, por mais que sempre tenha uma para estar junto, eu sempre tive a mente de que queria uma mina fechamento comigo, e eu sei que encontrei, sabe aquela porra de quando é para ser seu, é?

**********

— Eu espero que o Rocha tenha dado um fim naquela garota, eu já falei com o Baixinho, essa mulher não vai fazer parte da minha família.

— Porra mãe, porra mãe. O que meu tio tem a ver com isso? A senhora sabe ao menos da história praaí com essas ideias?

— Eu vi, estava lá a matrícula dela, foi aprovada em primeiro lugar, a vagabunda. Não aceito essa gente em minha casa! Não aceito essa gente em minha vida!

Sua voz estava alterada, ela estava nervosa, eu podia ver. Se eu fosse conferir o cinzeiro estaria abarrotado de bitucas, vício foda.

— Mariana estava treinando para entrar, mas não entrou. Eu disse que se ela se tornasse polícia nunca mais veria meu filho.

— Foda-se, ela não entra mais na minha casa, ela não vê mais o meu neto.

— A senhora não vai fazer isso, porra mãe. Ela não chegou a concluir, sabe o que ela fez nesse trabalho? A mulher que a senhora está desejando a morte foi quem me livrou dela!

As minhas palavras pareceram acalmá-la, ou apenas a pegaram de surpresa. O maior medo da minha mãe era eu sair para uma dessas operações e não voltar, porque sempre dizia que já perdeu gente demais e não suportaria a minha morte. Talvez isso a tenha acalmado.

— Tinha polícia à paisana dentro de um dos locais e eles me levaram porque eu estava sozinho, ela foi quem deu falta de mim e foi atrás, alvejou cinco deles pra me livrar, acha mesmo que se ela fosse um deles faria isso por mim? Agora é questão de honra, não posso deixar fazerem mal pra mina, pela gratidão, pelo meu filho e também porque foi ela que meu coração escolheu.

Tentando absorver o que eu disse, ela sentou na cadeira ali da área, em frente a piscina, onde a encontrei quando cheguei e ascendeu mais um cigarro, assim como eu, ela estava ponderando toda a situação, eu sabia como dona Adriana era maternal, sei que como mãe entenderia essa parada e aplacaria um pouco desse ódio desnecessário que eu também senti pela pessoa errada.

Eu me sentei ao seu lado e fiquei ali em silêncio, porque se ela estava surpresa, eu estava duas vezes mais, porque eu sentia na pele, sentia em meu peito.

— Papai, você voltou! — Ele apareceu de surpresa com o pijama de carrinhos.

— E aí garotão, como você tá? Senti saudades.

— Eu também, cadê a mamãe, eu quero ver ela?

— Vou te levar. Vai lá pegar as suas coisas que eu te levo pra ver ela.

A minha mãe me encarou séria, enquanto Lucas saiu em disparado.

— Você não vai levar meu neto pra perto daquela mulher.

— A senhora é mãe, dona Adriana, quando que foi legal pra senhora ser separada de um filho? Esse sentimento foda pode estar aí dentro da senhora, mas porra, Mariana sempre cuidou bem do Lucas, antes mesmo da nossa presença na vida dele. E acho bom a senhora desfazer as merdas que fez, pode ligar pro meu tio, e se o Rocha ameaçar ela novamente a conversa vai ser eu e ele. — Falei serinho, porque a nega é caprichosa quando quer.

Meu tio passa a mão na cabeça dela para o que precisar, se sente culpado porque lá atrás foi ele quem convenceu meu pai a entrar para essa vida. Hoje ele está preso, mas está com vida, é chefe dessa porra toda, mas está respirando, e o meu pai não.

Assim que Lucas voltou com o sapato no pé e uma sacola com alguns carrinhos, coloquei ele no carro e fui em direção a casa da garota filha da puta que veio bagunçar aquilo que já estava ajustado.

Bagunçou toda a minha vida.


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