Capítulo 33

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Conseguia ouvir a pulsação do meu coração em meus ouvidos. A expectativa estava me sufocando e a espera para que cada ação seja no momento exato me dilacera em milhões de pedaços.

Espera!

Foi isso que fizemos após saltar do caminhão de lixo para um caminhão baú embaixo de uma ponte que interligava as cidades, foram coisas de minutos para que 15 pessoas, contando comigo, fizessem essa locomoção e também para que não levantassem suspeita, os caminhões de lixo circulando pelas estradas fora das cidades.

Desde então estamos aguardando às 00:00 cravadas no relógio para que possamos nos posicionar em nossos devidos lugares.

Douglas me colocou junto com um outro homem que eu não sei o nome. Não sabia o de quase ninguém ali, porque aparentemente, ninguém confiava em uma mulher para estar aqui, e também porque eles não eram quaisquer assaltantes. Percebi pela maneira de agir de cada um. Eram treinados, preparados e capacitados, e isso era perceptível quando Douglas dizia algo e eles só opinavam quando tinham uma opção melhor, e então havia o estudo de campo. Tudo isso percebi nas poucas reuniões que estive e no planejamento que li e fui obrigada a queimar, depois de ter decorado.

A minha parte era apenas me certificar de que não haveria qualquer movimentação estranha, além do que o planejado, do contrário, eu estaria livre para atirar em quem eu quisesse. Os caras do bando sabiam que não poderiam voltar atrás ou dar um passo fora do quadrado, logo, a minha obrigação era atirar, se alguém resolvesse bancar o herói, cinegrafista, ou qualquer outra coisa que comprometesse a ação.

Douglas estava me testando, ou ele leu todos os meus relatórios e estava depositando tamanha confiança em mim, para ser os olhos enquanto eles trabalham. De qualquer maneira, eu precisava ser cuidadosa.

Meus pensamentos estavam repassando cada canto em que iríamos visitar hoje, quando ouvi a porta ser aberta.

Estava na hora.

As ruas estavam vazias, apenas o som de grilos e mais nada. A cada passo para o nosso primeiro alvo meu coração parecia que ia parar.

Não demorou muito para que cada um fizesse sua parte inicial e o primeiro estrondo fosse ouvido. Não tínhamos mais delegacia e nem comunicação.

Logo foram mais cinco bombas sendo explodidas, o acesso ao tesouro. Não sabia quanto eles pretendiam levar dessa ação, mas a expectativa era grande, por uma verba que a cidade estaria recebendo para a reforma de algumas unidades públicas.

Bom, se a prefeitura contava com algum desvio, teriam que repensar.

Observava tudo em êxtase, eles realmente sabiam o que fazia e era de uma agilidade ímpar, mas como nada é perfeito, em determinado ponto um grupo e pessoas foram abordados por estarem onde não deveria estar. No primeiro momento não sabia o que fazer e se não fosse o Anderson passando por ali e os abordando, eles teriam fugido e colocado tudo a perder. Logo estavam todos vendados e amarrados em grupos de três.

Os homens souberam desenrolar, mas em determinado momento eu senti falta de alguém. Absolutamente todos estavam em suas demandas. Todos recolhendo o que viemos buscar, mas alguém não dava nenhum sinal de vida.

Corri pelas ruas que havia decorado bem pelo mapa e vi Tróia armando uma de suas armadilhas após um carro passar em alta velocidade com uma parte do dinheiro.

— Mestre?

Ele apenas balançou a cabeça em negativo.

Fui até a rua seguinte, e mais cabeças em movimentos negativos. A ordem era para atirar sob qualquer movimento suspeito, e minha mente automaticamente pensou se eu seria capaz de atirar nele se por acaso estivesse traindo a equipe, porém, meu coração idiota pressupôs o pior, ele havia sido pego ou estava ferido com uma das bombas.

Em duas agencias que eu passei, nada dele. Comecei a realmente me preocupar, já que não sabia se esse era seu modus operandi. Até que por sorte achei Anderson acompanhado de um homem.

— Mestre desapareceu.

— Ele estaria na prefeitura.

— Não está.

— Como não está? Vamos.

Mal demos alguns passos e ouvimos uma troca de tiro. Uma rajada muito forte e muito próxima.

— Furaram o bloqueio. Fica preparada neguinha, sabe atirar com essa coisa aí?

Dei-lhe um aceno, que por sua vez me olhou desconfiado.

Eu não queria matar ninguém, nunca foram meus planos e nem sei se tinha estômago para isso. Só queria que tudo terminasse e Douglas me deixasse em paz. Desejos que por ora não seriam atendidos, já que Anderson não confiando muito em minhas habilidades me colocou escondida atrás de uma mureta e foi em direção aos tiros. Eles estavam treinados, eles estavam preparados.

A troca de tiros durou por mais algum tempo, enquanto eu permaneci abaixada atrás da parede do coreto na praça que ficava em frente à prefeitura. Abaixada ali ninguém me via, mas eu via o que a luz da lua e alguns postes que não haviam sido desligados me permitiam.

Cinco homens também de preto carregando arrastado um homem amarrado.

Queria acreditar que não, mas aquela estrutura eu conhecia muito bem, pois pertencia à pessoa que ultimamente balançava meus nervos.

Conseguia ouvir alguns tiros distantes, e isso significava que eles estavam saindo da cidade, mas como eles poderiam ir se Douglas ainda estava aqui?

Não sei porque, mas as minhas pernas começaram a ir na direção em que estavam arrastando Douglas. Silenciosamente observei enquanto eles o levavam para o interior de uma escola. Era em torno de sete homens e eu sabia que corria o risco de levar um tiro ou até mesmo eles acabarem com esse idiota ali mesmo.

Quando alcançaram a quadra, eu procurei um lugar para me esconder e procurei observar o que estava acontecendo, para então agir.

— Acorda ele, acorda que eu quero saber quem ele é.

Um deles saiu para buscar água e então depois, jogou no rosto de Douglas, que acordou sobressaltado.

Todos estavam bem posicionados, pareciam treinados para esta situação, então pensei que estes homens não poderiam ser qualquer um.

— Quem é você? Pela maneiraque os outros te obedeciam deve ser o chefe? Tem um delegado lá de São Paulo quedaria tudo pela cabeça de um de vocês.

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