Capítulo 36

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Talvez pela adrenalina de tudo o que aconteceu, algo novo para mim, ou pelo meu coração estar realmente balançado por alguém pela primeira vez, a ponto de esquece meus princípios, me entreguei ao Douglas.

Ele tem sido uma surpresa, mesmo depois de tudo o que me fez passar. E não sei o que se passa em sua mente, mas das outras vezes em que transamos foi algo mais selvagem, diferente desta noite em que eu me senti amada. Não esperava metade do que fez comigo, isso porque pensei que ele me levaria a loucura quando gozasse, mas foi além disso e também o que me falou sobre sentir algo por mim, será que seu ódio provinha de eu querer ser policial e ele ter alguma história no passado contra esses. Se bem que vendo a situação em que eu o encontrei na noite passada, havia algum fundamento.

O fato de odiar a polícia me diz que passou por alguma coisa terrível, e se me lembro bem a Adriana também não gosta. Será por isso que ele me tratava tão mal? Estava em luta interna para não ceder ao que sentia?

Meus pensamentos me levaram longe, muitas teorias e nenhuma conclusão.

E foi assim que dormi e acordei no outro dia, pelada e sozinha na cama. Olhei ao redor para tentar me situar e colocar os pensamentos em ordem, porque foram muitas novidades acontecendo ao mesmo tempo.

Havia roupas masculinas em uma sacola no pé da cama e foi o que vesti depois de um banho para acordar. Segundo o que Douglas me deixou saber, ficaríamos algumas semanas off, isolados nesta casa no meio do nada, sem comunicação com ninguém. O dinheiro que foi levado em dois caminhões de lixo seria guardado até que estivesse irrastreável. Agora a segunda equipe que lavaria o dinheiro entraria em ação, e logo todos receberiam sua parte. A segunda equipe era formada por Adriana e alguns advogados que não cheguei a conhecer, apenas um, o idiota que estava seguindo as ordens de Douglas para tirar meu nome do registro. Se ele ousar, já sei quem será meu próximo alvo.

Saí do quarto e ouvi vozes, mais do que as pessoas que estavam conosco na noite passada.

Logo vi todos os homens que participaram do assalto, rindo, comentando sobre as suas ações e eufóricos por mais um êxito. Olhei ao redor e agora com mais clareza a única coisa que conseguia enxergar era mato, mato e mais mato.

Douglas estava à vontade apenas com um short de moletom e descalço, sentado numa poltrona cercado por seis homens, todos sorrindo, comentando sobre a última explosão, já que Tróia dava detalhes.

— O prefeito vai me agradecer no final. Filho da puta vai ter uma reforma e vai poder, como é que eles fazem lá pra aumentar o preço das coisas?

— Superfaturar.

Recebi vários pares de olhos sobre mim.

— Então quer dizer que além de atirar bem, sabe falar bonito?

Douglas ainda com um sorriso no rosto, algo muito novo para mim, estendeu a mão para que eu fosse até ele. Não me objetando, fui. Ali na presença de todos ele me colocou em seu colo, enquanto o idiota que derrubou dois falava mais uma vez como tudo aconteceu.

— Na moral, de onde tu veio tem mais? Precisa ver essa mina atirando.

Ah, se ele soubesse. A equipe da qual eu fazia parte havia mulheres maravilhosas e bem treinadas, nada frágeis quando seguravam uma arma na mão, a não ser quando eram vistas por homens que nos objetificavam e nos tratavam como fracas. Até ver o nosso potencial, mas é obvio que eu não falaria. Senti que não deveria responder quando a mão de Douglas segurou forte meu quadril.

— Não acho que elas vão te dar moral.

— Então tem mais?

Participei da conversa deles naquele meio leve, pois agora que tudo havia dado certo e perceberam que eu não era uma ameaça, se mostraram mais amigáveis. Mesmo não se tratando pelos nomes, conversavam como se conhecessem um ao outro há muito tempo.

O assunto fluiu até que cada um foi saindo aos poucos e restou apenas eu e Douglas ali naquela varanda.

Estava sentada em seu colo, meu corpo ainda sentindo tudo o que aconteceu na noite que tivemos, por suas caricias sutis em minhas costas, e também surpresa por ele ter me puxado aqui na frente de todos.

Senti a sua mão se arrastar por minhas costas e depois na minha nuca.

— Que foi? — perguntei.

— Nada, só estou descobrindo que aquilo que te deixa fraca está me atingindo também.

Encarei confusa. Ele está me dizendo que... não, não o Douglas que eu conheço.

Mal tive tempo de pensar, ele tomou meus lábios em um beijo lento. Tão lento que me fez desejar mudar de posição e montá-lo ali mesmo.

Porém o desejo foi aplacado por um balde de água fria, sim, estávamos literalmente molhados.

— Qual foi, porra! Vamo passar uma cota nesse fim de mundo e vocês vem fazer essa porra na frente de geral? Se vamo ficar sem foder, é geral — disse Tróia.

Em seguida, vi a risada de vários homens, e para a minha surpresa, de Douglas também. O som de sua risada era uma melodia maravilhosa, uma pena ele ser sempre sério e fazer isso poucas vezes, era a segunda vez em minha presença. E aparentemente o tal Rambo notou, pois o encarou surpreso.

**********

Permanecemos naquela casa por uma semana, depois formaram duplas e cada um seguiu para o seu destino. Era mais uma semana sem comunicação em locais predestinados a cada um, mas antes de nos isolarmos, eu pedi ao Douglas que entrasse em contato com a sua mãe para saber do meu filho.

Em uma cidade do interior de São Paulo, ele parou uma moça que estava acompanhada de uma criança em uniforme escolar e contou uma história sobre estarmos indo para a capital e que o nosso celular descarregou, e que queria entrar em contato com a mãe.

A mulher cedeu, depois dele deixar uma nota de cem reais em sua mão. Ele trouxe o celular até o carro onde estava e fez a ligação restrita para o número de Adriana.

— Mãe.

— Eu espero que aquela vadia tenha morrido, porque se não morreu eu vou picotar essa desgraçada quando chegar aqui. Porque você deixou que uma maldita polícia pisasse na minha casa, Douglas Richarlysson? O que eu passei com essa corja não é exemplo suficiente para você? Os irmãos sabem que você colocou uma dessas no bonde? Que desgraça! Eu vou matar essa maldita. É melhor ela nem voltar.


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