Capítulo 14

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Assim que amanheceu, esperei meu filho acordar e procurei o rumo da minha casa. Aparentemente Douglas não dormiu em casa e fez com que parecêssemos intrusos aqui, pois foi assim que eu me senti.

Ele nos traz para dormir com o filho e passa a noite fora? Só me mostra que eu fiz mais do que certo em não lhe dar liberdades, pois a sua imaturidade não aceitou a rejeição.

Pedi um carro no aplicativo particular e fui até onde ele considerava seguro, de lá até a minha casa é um grande percurso a ser seguido. Pelo caminho, vi vários adolescentes que saiam do baile, ou até mesmo motos, passando para lá e para cá. Sete e meia da manhã e as pessoas neste ritmo alucinado.

Mesmo parecendo loucura, nesta altura do campeonato, não vejo a hora de conseguir minha aprovação e me despedir deste lugar.

Lucas estava amando toda esta animação logo cedo, até uma moto parar do nosso lado. Conhecia bem quem era, pois ninguém aqui é tão audacioso para parar a moto ao meu lado, não dou abertura para qualquer um.

— Aindabolada, vacilona?

— Não quero papo com você, foi muito arrogante, quando eu sempre sou um amor.

Lucas, que não aguenta ver uma moto, foi logo estendendo os braços para ser colocado no tanque.

— Dormiu fora, né? Te vi saindo acompanhada.

— Está me vigiando para qual finalidade, Anderson?

— Cuidando do que é meu. Tu só me maltrata porque sabe que sou paradão na tua, até o dia que eu morrer, depois fica aí chorando arrependida.

— Que papo ruim logo de manhã, se está cansado dessa vida, é só abandonar.

— Estou envolvido demais pra isso, ainda mais agora que estou subindo de nível.

O encarei, esperando que me desse mais detalhes, e ao mesmo tempo não querendo saber o que aquelas palavras significavam.

— Anda, sobe ai que eu te deixo em casa.

Mesmo intrigada, subi na moto e esperei ele acelerar, não fez até que eu estivesse abraçada em seu corpo.

— Abraça teu homem direito.

— Não me cansa logo cedo não, que quero ter pique para fazer minhas coisas ainda hoje.

Cheio de graça, ele correu pelas ruas e logo chegou no meu portão.

— Vai me deixar dormir aí?

— Que dormir, Anderson? Você que passou a noite na gandaia, eu estava linda dormindo, agora segura tua responsa, e não, porque você não está merecendo.

— Isso, continua me maltratando, até eu aparecer com outra.

Sem dar importância para o seu drama, fui com Lucas para dentro de casa e assim, me preparei para enfrentar mais um dia. Adiantei tudo o que pude para a semana e no final da tarde coloquei a cara nos livros, enquanto meu bebê brincava no tapete. Era finzinho de tarde quando bateram no meu portão, e eu não precisava ser um gênio para saber quem era.

Estava de semblante fechado, mal trocou duas palavras comigo, pediu para levar Lucas na rua e eu deixei, salientando para não perder o horário.

E lá estava eu em mais uma tarde de estudos sozinha.

Não queria ser hipócrita em negar o óbvio. Para mim, Douglas poderia ser uma pedra no sapato, alguém que eu queira evitar, mas para o filho está sendo o melhor pai do mundo. E isso é o que importa. Não precisamos ter contato, somente uma boa convivência para que nosso Lucas viva bem, como tem acontecido nessas últimas semanas.

Acordei na segunda, mais cansada que o habitual. Com muito sacrifício arrumei o meu bebê e fomos para a casa de dona Miranda deixar as coisas da semana, e depois, com a animação dos raios de sol, seguimos para a aula.

Douglas pediu a transferência dele imediatamente, mas outra vez eu consegui convencê-lo de que forçar uma nova readaptação poderia ser problemático para ele que é uma criança e poderia afetar em seu desenvolvimento social, já que estava acostumado com aquele ambiente. Porém, ele não aceitou bem e contra argumentou, então ficamos acordados de que na metade do ano, quando saírem as férias de julho, eu faria a transferência. Só precisava ganhar tempo, para evitar que ele seja tão intrometido em nossas vidas.

Naquele mesmo dia, durante a noite, quando chegamos em casa meu telefone fixo tocou. Era algo que tinha apenas por ter, já que não utilizo, pago apenas pelo serviço de internet que é essencial para mim.

De maneira desastrosa deixei as bolsas no canto da porta, enquanto Lucas corria até a caixa de brinquedos.

— Alô?

— Mana.

— Raissa? É você?

Parece que estava sentindo tudo o que estava acontecendo por aqui. Por que depois de tanto tempo ela volta a me contatar dessa maneira?

— Oi, Mari, sou eu. Senti tanta saudade.

Sua voz chorosa estava naquele modo "tenham pena de mim". A minha mãe usava essa tática com os homens para conseguir o que queria, normalmente o resultado era positivo, e agora a minha irmã faz o mesmo, só que depois de tudo que eu fui forçada a descobrir sobre ela, não tenho mais tanta confiança assim.

— Sim, o que você quer agora?

— Nossa, Mariana, eu digo que estou com saudade e você é rude comigo?

— Não fui rude, só perguntei o que você quer?

— Dizer que estou com saudade e queria muito estar com você novamente.

— Bom, não sei se será possível, eu e meu filho em breve estaremos de mudança, e a não ser que você viaje e comece a pagar o seu aluguel, é melhor continuar onde está. Sem contar também que o pai do nosso filho está com sede de seu sangue, por descobrir que você cogitou um aborto.

— O quê? Que mentiras você tem inventado em meu nome, Mariana? Se eu me lembro bem, foi você quem pagou para eu me afastar do meu filho, foi você quem me mandou para fora do Brasil para tê-lo só para você? Porque eu era só uma adolescente.

Eu não acredito que ela estava jogando tão baixo comigo, justo comigo que estive sempre lá para ajudá-la.

— Não seja suja, Raissa, eu sei do que aconteceu, você sabe do que aconteceu. Sempre foi isso, não é? Você faz merda e não tem peito para assumir as consequências, deixa eu te falar, acordei para a vida, não vou mais me sacrificar para consertar seus erros, já está adulta o suficiente para entender o que é irresponsabilidade, só dou um conselho, se puder evitar o Brasil fará bem para a sua vida, tanto pelo pai do meu filho quanto por mim. Passar bem.

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