EPILOGO

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ALGUNS ANOS DEPOIS...

Esperei que o agente abrisse mais uma cela. Confesso que estar aqui era uma sensação horrorosa e cada vez que precisava fazer uma visita a um cliente, o meu pânico só aumentava.

Porém, desta vez não era um cliente qualquer.

Nesse tempo que se passou, consegui me sobressair na profissão que me dediquei. Advogada criminalista e, diga-se de passagem, eu sou muito boa no que faço. Tanto que tenho chamado a atenção da família.

Com a ajuda de Douglas, consegui abrir meu escritório, e através dele também conquistei uma clientela oportuna. Digamos que já estava com a faca e o queijo na mão, só tive que aproveitar a oportunidade.

Sei que não foi esse meu sonho inicial, mas hoje estou confortável com minha profissão. A cada dia é um novo desafio.

Mais um cadeado era aberto e esse fez a minha pele arrepiar, mesmo a camisa social cobrindo todo meu braço não evitou que o calafrio percorresse meu corpo.

Quando chegamos à sala, me mantive em pé, esperando que ele aparecesse e fosse o mais breve possível. Não entendi quando me enviou um recado para que eu viesse quando eu já havia dito que não queria contato.

— Doutora!

Ouvi o agente me chamar e então virei. O mesmo segurava um homem que de pequeno não tinha nada. Logo, não entendi o seu vulgo. Sua aparência era quase semelhante a de Douglas, a não ser pela cabeça raspada e o porte bem mais malhado.

— Tem quinze minutos.

Após dizer tais palavras, o agente recebeu uma encarada que o fez tremer. Logo depois, apenas assentiu e saiu porta afora.

— Quer dizer que todos aqui te obedecem?

— Não todos, só os que me interessam. Então você é a famosa doutora Mariana?

— Famosa eu não sei, mas sim, doutora Mariana. A que devo a insistência?

Não foram uma, nem duas vezes que ele enviou alguma notificação de que desejava me ver, eu apenas ignorei todas.

— Dá pra ver porque meu sobrinho é parado na tua — disse sorrindo de lado e me analisando.

— Eu vim aqui para você me aprovar? Saiba que meus honorários são caros.

— Eu sei, foi eu que te colocou aí, né não, doutora?

— Você? Quer dizer, a minha competência!

— Soberba pra caralho. Bom, é o seguinte, doutora,sentindo que tem treta no escritório do meu advogado pra me tirar daqui e preciso de alguém de confiança nesse meio, e se meu sobrinho que é o cara mais egoísta que conheço foi capaz de botar o dele na reta por tu, significa que eu posso confiar. Quero tu no meu caso.

O encarei, analisando as minhas opções. Rogério tinha uma longa ficha criminal e... sabe quando a justiça brasileira o soltaria? Nunca! Sabendo da influência que ele exerce dentro e fora dos presídios, nunca seria solto, mas cá está ele, me pedindo o impossível para tentar descobrir se os seus advogados estão enganando ele.

— Não sei se posso fazer isso. Seu escritório é muito bom...

— Você também é. Quero tu no meio deles, vai ser meus olhos no que eles estão me cegando.

— Você é um homem inteligente, acho que sabe que não foram poucos os delitos que cometeu, acha mesmo que eles estão te enrolando? É só colocar a mente para funcionar.

— Tá funcionando, e por isso mesmo sei que estou sendo enganado, acredite doutora, minha intuição nunca falhou, não é à toa que tuviva hoje.

Quando ele falou isso, lembrei de tudo o que me aconteceu desde que Douglas entrou em nossas vidas, de lá para cá foram tantas situações conturbadas e ao mesmo tempo alegres. Obtive várias conquistas e hoje posso me sentir completa.

Meu filho, que está com quase dez anos, é um rapazinho, tão apegado a mim e a avó. Adriana, mesmo depois de todo esse tempo, ainda não é amigável comigo, entendo seus receios e tudo o que passou, é complicado deixar esses traumas de lado, ainda mais quando temos situações a nossa volta que fomentam esses sentimentos. O que foi o seu caso, por isso não forço situação. Ela não me trata mal, mas não é a mais pura simpatia. Já o seu filho, bom, digamos que eu e Douglas temos os nossos momentos, mas estamos juntos, porque segundo ele: não irá me deixar por nada nesse mundo. Confesso que suas atitudes me surpreendem a cada dia. Como quando ele me disse que não participaria mais desses assaltos, eu sei que ele consegue mais, sei também que não largou o trabalho ilegal, mas agora seu principal foco é nos estabelecimentos que tem aberto em vários ramos, desde posto de gasolina à bares e restaurantes. Se são para lavar dinheiro? Ele nunca me deixou suspeitar, mas infelizmente por causa do passado, sempre ando com um pé atrás.

Algo que aconteceu nesse período foi a morte de um dos meninos do bando. Paulo, aquele menino que enalteceu os meus tiros durante o assalto. Sim, ele estava em um momento de lazer quando alguns homens o jogou dentro de um carro e o levou, atrás do dinheiro. Infelizmente ele perdeu a vida pela lealdade ao bando. Douglas não ficou nada bem depois disso, porque nunca havia perdido nenhum deles, e todos se tratavam como família.

Depois disso, pairou um ar de insegurança sobre nós e houve retaliação. Uma ação que estava longe do meu querer, evitar. Eu estava no meio do fogo cruzado e havia feito a minha escolha de que lado ficaria.

Fechei os meus olhos, dissipando todas essas lembranças e encarei o homem a minha frente que não parou de me encarar esse tempo todo.

— Certo, eu farei.

— Sabia que tu não era burra, espero que faça valer a pena a morte de um dos meus melhores gerentes.

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