Capítulo 28

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Eu estava zonza, como nunca aconteceu antes, até porque não me permito extrapolar na bebida. Porém, ultimamente as coisas têm sido fora de controle, fazendo com que meu lado racional esteja sobrecarregado demais para dominar.

E digamos que meu lado emocional é fodido demais para manter qualquer controle.

Percebendo que estava fora de mim, me mantive calada até que estivesse sentada no banco do carro, onde Douglas assumia o volante.

— Me deixa na minha casa. — Pedi de olhos fechados, implorando internamente para que ele não discutisse.

— Na tua casa?

— Sim, por favor, eu não estou bem.

— Eu te levo pra minha mãe.

— Por favor, Douglas.

Não sabia como estava sua expressão, porque estava sem coragem, sem capacidade de encará-lo. E agora um pouco mais lúcida, ou talvez seja somente um golpe da mesma, reconheci que prestei um papel deplorável há pouco, debochando de sua outra mulher. Como se ele fosse alguma coisa minha, ou como se tivéssemos algo.

Limites, Mariana. Essa palavra sempre foi tua companheira, e você sempre soube usá-la, não se esqueça agora.

O silêncio foi preenchido com o barulho do carro.

Percebendo que estava mais em mim, abri os olhos e vi as ruas da madrugada, me distrairia com a viagem se não fosse um bip de celular.

— Oi, lindo. — A voz da Barbie soou do outro lado da linha.

— Me espera aí que eu já volto pra te pegar.

Que desgraçado! Incrédula, eu o encarei, porém nem um milésimo de sua atenção me foi dado. Não iria surtar, não iria tão baixo quanto ele.

Você acha que pode ser ruim, Douglas? Acha que pode me destruir? Você não sabe da minha história a metade, não sabe o que tive que suportar para ser a mulher que sou, e realmente, agora eu não me reconheço, mas você não perde por esperar.

Mal ele parou no meu portão, eu desci do carro sem dar uma palavra, porque não merecia. Não merecia nada de mim. E para descontar um pouco de minha raiva, eu bati a porta do carro com toda a força possível, não sei porque fiz, mas aliviou alguns níveis do ódio que estava em mim.

Controle-se Mariana. Porque está deixando ele te afetar? Esqueceu de todo controle emocional que teve que praticar até aqui? Sangue frio para lidar com aqueles que a ameaçam.

Respirei fundo, e depois de um banho gelado, fui me deitar.

No outro dia acordei cedo, decidi que reagiria, não vou permitir Douglas me dominar, assim como ele descobriu onde eu trabalhava, tenho certeza que ele sabe que abandonei absolutamente tudo, então não tinha por que temer. Vou buscar meu filho e o trarei para a nossa casa, como sempre foi. Amanhã acordarei e depois de deixá-lo na escolinha, vou entregar currículos, ainda tenho meu diploma, mesmo que eu não realize meu sonho, ainda posso fazer algo de útil por aquilo que acredito.

Eu me formei com honras e agora usufruirei deste benefício.

**********

— Vamos para casa, meu amor? — disse, lhe abraçando.

Quando cheguei aqui, somente Adriana e um homem que ela me disse ser advogado da família estavam em casa. Meu sangue deixou de bombear com a possibilidade de ele estar aqui para fazer a alteração da qual Douglas me ameaçou, mas o medo foi somente por dentro. Por fora, eu o cumprimentei como uma pessoa calma e serena e depois fui recolher as coisas do meu filho, tudo o que eu havia trazido, coloquei numa mala e depois as minhas coisas. Se Douglas acha que pode ser louco, serei igualmente, porque como o ditado diz "para um louco, outro".

— Meu filho sabe que você está levando o Lucas? — perguntou, aparecendo na porta do quarto.

— Se ele não sabe, vai saber quando chegar.

Não fiz questão de olhar em sua direção, apenas me mantive ocupada em minha tarefa, que era algo mais importante. Se eu saísse enquanto ele não estivesse, seria mais fácil, pois se ele aparecer, eu estarei em seu território, e de todas as maneiras possíveis tentaria me coibir.

— Brigaram? Só não afasta meu neto de mim, Mariana. Deixe-o dormir aqui alguns dias da semana.

— Não tenho a intenção de afastar o Lucas de vocês, Adriana, só que aqui não é nossa casa, não foi aqui que eu criei ele.

— Uma mãe sempre sabe o que é bom para o seu filho. Não te julgo. Espero que a sua porta esteja aberta para mim, assim como as dessa casa estão para você.

— Sempre estará. Isso não é uma despedida.

— Eu já estou tão acostumada com meu neném aqui que vai ser estranho.

Percebi o quanto ela ficou apegada ao meu filho, e isso adoçava a minha boca, sabia que se um dia eu faltasse, ela substituiria o meu lugar com louvor. Foi pensando nisso que cheguei à conclusão de que não posso abaixar a cabeça para este homem, não vou perder mais um pingo da minha dignidade.

Quando enfim, abri a porta da minha casa com meu filho, pude respirar aliviada como se há semanas estivesse sufocada. Ele desceu do meu colo e foi correndo para a caixa que fica ao lado da mesa, onde guarda seus carrinhos preferidos.

De volta à minha rotina normal, preparei um macarrão à bolonhesa que era sua comida preferida, abri as janelas e coloquei Alcione para tocar em som ambiente. Essa mulher é a única capaz de despertar sentimentos em mim.

"Você me vira a cabeça
Me tira do sério
Destrói os planos que um dia eu fiz pra mim
Me faz pensar porque que a vida é assim
Eu sempre vou e volto pros teus braços

Você não me quer de verdade
No fundo eu sou tua vaidade
Eu vivo seguindo teus passos
Eu sempre estou presa em teus laços
É só você chamar que eu vou"

Enquanto o molho não ficava pronto, fui até a sala observar Lucas brincar com seus carros. Sorri com a cena, uma sensação de paz indescritível, tomei coragem e decidi quebrar as correntes, agora não abaixaria mais a cabeça. Suspirei saboreando mais um pouco da sensação até que decidi verificar minhas panelas. Porém, meus olhos sempre atentos, capturaram a frente de um carro preto parado na minha porta. Não querendo acreditar, eu os fechei. Respirei. Inspirei. Respirei novamente.

Ele não seria capaz d

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