Capítulo 30

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São exatamente duas semanas. Duas fodidas semanas em que se aquele homem der um único vacilo, sou capaz de descarregar uma arma em sua cabeça de tanto ódio que sinto pelo que está me fazendo. E não só isso, não bastou me deixar aqui dentro de casa sem comunicação, ele também não me deixa ver meu filho.

Douglas sabe que essa é a pior forma de me torturar, eu demonstrei a minha fraqueza e agora ele tenta me atingir. A única pessoa que vejo, é Tróia, se contar na única vez em que ele veio me falar que o plano deu prosseguimento e que agora eu fazia parte do bando. O que Douglas pretendia com isso não sei. Talvez esteja procurando uma oportunidade para acabar com minha vida, e se alguma bala me acertar durante o assalto, não vai ter muito o que contestar.

Ele havia dito que levaria alguns meses, mas aparentemente está próximo, já que Tróia me disse para ficar alerta, que a qualquer instante poderia ser o momento.

Eu sempre batalhei para que a minha vida fosse a mais honesta possível, sempre estive do lado errado e tive a pior visão que um ser humano pode ter da vida na infância, por isso tinha o sonho de um dia poder acabar com as drogas. Porém, o nosso destino não nos pertence, sempre acreditei que o certo era o melhor caminho, e agora eu estava aqui sendo coagida a participar de algo errado contra a minha vontade. Eu posso ir, mas ele terá a absoluta certeza de que não seguirei suas regras e muito menos participarei desse crime.

Não tenho coragem de denunciar por amor ao meu filho, que nesses dias ganhou um amor imenso pelo pai. E apesar de como me trata, com relação a Lucas, ele é outra pessoa. Talvez seu ódio por polícia tenha feito me tratar como faz, sempre duvidando, suspeitando o pior, quando não há o que fazer, mas então por que não me mata logo?

Se ele se diz tão impiedoso, por que não desapareceu com a minha vida, por que essa tortura? Seria tão sádico a ponto de gostar de me ver sofrer?

O desgraçado parece que não respeita nem a privacidade da minha mente.

Eu estava com os papéis que Tróia me deixou três dias atrás, quando a porta da sala foi aberta.

Percebi que meu coração errou uma batida, mas tratei de me recompor. Não, por este homem, não.

Lembre-se de que ele te odeia e que seu lábio ainda carrega uma lembrança do que ele é capaz de fazer.

— Veio para a próxima seção de tortura?

Ignorando-me, ele caminhou até a mesa que estava entre a sala e a cozinha e jogou uma mala preta sobre ela. Atenta, vi quando ele tirou várias partes de fuzis, todos desmontados, e de cara reconheci as características de uma Parafal e uma G3.

— Reconhece algumas dessas armas? — Apenas assenti com a cabeça. — Quero que me mostre o que sabe, monta elas — completou em um tom autoritário.

— Eu não vou atirar em ninguém, Douglas, você está me fazendo participar disso sem a minha vontade.

— Você não tem escolha, aliás, tem sim. Quer ir? A porta está aberta, pode desaparecer de nossas vidas e fica tudo bem.

Suas palavras eram como sinfonia, porém, uma sinfonia dolorosa. Ele sabe que não sou capaz de ir sem meu filho.

Vendo que eu não me movi, ele voltou-se para a mesa.

— Monta as armas!

Em tempo recorde eu montei duas G3 e uma Parafal e coloquei todas elas à sua frente. Se o impressionou, não deixou transparecer, mas eu sei que ninguém me bateria nesse quesito. Eu realmente era boa no que fazia, uma pena esse conflito de interesses.

Ele pegou cada uma e analisou o meu trabalho em busca de algo imperfeito, porque não importa o que eu fizesse, para ele nunca estava bom.

— Não seja tão exibida assim na frente dos caras, eles não gostam de mulheres no bando e ainda mais que saibam manusear armas desse porte, mais rápido que eles.

— Como está o meu filho?

Não aguentei de saudade. Porém ele me ignorou, continuou analisando as armas e depois as desmontou e guardou dentro da mala novamente.

— Só me diz se ele está bem, Douglas, por favor, se está se alimentando, dormindo direito.

Não sei explicar, mas quando Raissa me entregou aquele pequeno ser em meus braços, eu recebi um novo gás para lutar. Sempre mantive em minha cabeça que não viveria a vida que minha mãe e irmã viveram, sempre almejei algo melhor para mim, porém era tudo um borrão, e quando aquele chorinho encheu meus ouvidos eu encontrei meu propósito, sabia que daquele momento em diante seria minha vida pela dele. Desde então não passou um segundo sequer que eu não tenha deixado de pensar nele. Lucas é a minha vida, meu fôlego, eu o amei desde o início eu o protegi desde quando soube que estava vindo.

Em sua primeira ultrassonografia, quando ouvi seus batimentos, parecia que estava sendo gerado dentro de mim. Fiz questão de pagar tudo no particular para que ele tivesse o melhor.

A infância fodida que eu tive, eu não permitiria que ele tivesse. Raissa o renegou desde o princípio, mas eu o amei desde então, e permanecerá assim até meu último sopro de vida.

— Eu vou trazer ele pra dormir aqui hoje à noite. Amanhã nós viajamos.

— Amanhã? Não era mês que vem? – perguntei surpresa por ser uma ação tão repentina para mim, porque para eles, com certeza já sabiam desde sempre quando aconteceria.

— E te dar a oportunidade de ser x-9 e foder com o plano? Nunca.


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