Capítulo 46

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MARIANA


Destroçada!

Era assim que eu me encontrava enquanto Dudu estacionava o carro dentro da garagem.

Seguindo as instruções de Douglas, me preparei para ir me encontrar com meu amigo. Queria lhe pedir desculpas por ter apanhado de maneira covarde sendo inocente em toda essa história, por eu ter escondido esse tempo todo o que realmente estava fazendo, mas não tive tempo.

A roupa mais discreta possível, cabelo dentro de um boné e rosto para baixo, foi assim que saí do estacionamento e consegui ver o carro que Anderson usava poucas vezes, porque a sua paixão era a adrenalina que a moto trazia, segundo ele, não era bicho para ficar preso, e se passar por uma rua sem dar um grau, está dirigindo errado.

Estava próxima do carro, cerca de dez passos e eu alcançaria, mas uma moto parou do lado do motorista e uma sequência de tiros foi ouvida por todos que passavam. Foram tantos tiros que meu ouvido zuniu e me deixou sem ação. Senti quando alguém me abraçou, eu iria fugir, não queria ser sequestrada, porém era Dudu, ali me levando daquele cenário o qual tenho certeza de que me traumatizaria para o resto da vida.

Desci do carro em modo automático, até sentir mãos em meus braços me sacudindo.

— Onde caralho você estava, Mariana?

— Mataram o Anderson.

— Eu vi, pensei que você tinha ido junto, porra! Deu na TV que foi um casal.

Casal? Não, Anderson estava me esperando para que pudéssemos ter uma conversa como sempre tivemos. De amigo para amigo.

Tentando me recuperar, fui para dentro de casa, ainda podia ouvir o barulho dos disparos, e o homem que estava na garupa sabia bem o que estava fazendo, porque subiu na calçada e atirou diretamente em quem estava ali. A morte havia sido encomendada.

Minha preocupação neste momento foi avisar a sua mãe, mas como não tínhamos certeza do porquê essa morte foi encomendada, a regra foi que ninguém do bando saísse de suas casas até haver alguma explicação.

Douglas estava furioso no celular, falando com um e com outro, tentando descobrir algo sobre. O momento em que ele ficou mais irritado foi quando falava com o padrinho, um dos homens que eu sei que existe, mas também sei que nunca vou conhecer.

— Ele comeu merda?me achando com cara de otário? O quê? Quem era? — Neste momento, a conversa chamou minha atenção, porque meu faro me dizia que ele estava ligando os pontos e desvendando o motivo e a pessoa que estava com Anderson. — Que pau no cu. Ele acha que é quem nessa porra? Eu vou descobrir se foi ele mesmo, essa parada não vai ficar assim. Tranquilo.

Ele desligou e ainda assim permaneceu enviando mensagens para quem quer que fosse.

— Papai tá bavo, mamãe.

Abracei o meu pequeno que apareceu do meu lado enquanto esperava por alguma notícia.

— Aconteceu um problema meu amor. Alguém fez mal para o tio Anderson e o papai está tentando saber quem foi.

— Fez maldade? Mas, o tio sabe lutar.

— Mesmo assim, meu amor. Ele não conseguiu se defender.

Como que explica para uma criança de cinco anos que a pessoa que mais se aproximava de um pai, em seus primeiros anos de vida, partiu? Não sabia nem como iniciar essa conversa.

Da minha forma, procurei colocar em palavras para que ele entendesse que o Anderson não deitaria mais com ele para assistir os filmes dos carrinhos e nem levaria para ver jogo no bar do Ceará. Sendo criança, ele não assimilou bem as palavras, mas eu sei que fará uma falta enorme, porque meu amigo foi uma pessoa incrível e sempre esteve comigo, me incentivando na minha caminhada. Sempre me dizia que eu seria mais do que as pessoas esperavam de mim, nessa parte, sinto que o decepcionei.

Depois de distrair meu príncipe, dei banho nele e o carreguei até o meu quarto, era ali que ele ficaria. Meu porto seguro, meu alicerce.

Agora foi a minha vez de dissipar esse peso em meu corpo. Porra, Anderson.

Os jatos quentes que vinham forte sobre meu corpo não levavam embora aquela cena maldita. Nada nunca levaria.

— Como você está?

Não percebi quando ele entrou no box, estava distraída demais, encarando o vaso de shampoo, para perceber qualquer coisa.

— Vou ficar bem.

— Preciso que você fique, a merda só fede, quanto mais mexe. — O encarei confusa. — Não sei que porra que aconteceu, mas você precisa ir até o IML fazer o reconhecimento de um corpo.

— Eu já liguei para a mãe do Anderson, expliquei toda a situação e como ela deve prosseguir.

— Não é o corpo do Anderson que tem que reconhecer. É da mulher que estava com ele no carro.

Agora a confusão me pegou completamente, como eu saberia quem estava acompanhando Anderson naquele carro, quando combinamos de nos encontrar a sós.

Deixando-me mais confusa ainda, Douglas me abraçou, sei que nesses últimos dias temos nos aproximado e criado uma conexão que nunca imaginei ter com ninguém, sei também que ele tem me surpreendido na maneira como me trata, mas esse afeto foi diferente. Ele alisou as minhas costas e beijou a minha testa.

Sinceramente, não sabia o que fazer ou até mesmo como agir. Sei que tinha conhecimento da minha amizade com Anderson, e que ele era apaixonado por mim, mas nada que resuma a me tratar dessa maneira.

Que merda está acontecendo?

— Raissa voltou para o Brasil alguns dias atrás e pediu pro Vampeta te levar até ela. Era a Raissa que estava no carro.

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