Capítulo 33

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AMANDA

Naquela noite eu não pensei muito sobre  o que estava pensando, apenas agi por impulso e uma determinação incontrolável.

Poderia ter pensado com mais clareza, admito. Mas não acho que isso teria mudado meu raciocínio nem um pouco.

Ignorando as ligações de Maluma e Bryan sobre como eu estava, continuei a pingar vigorosamente as gotas do medicamento  de dormir que eu sempre deixava na minha bolsa. Não que eu estivesse ignorando-os propositadamente - okay, talvez eu realmente estivesse - mas o que eles esperavam que eu respondesse? Se as notícias sempre eram as mesmas. Que eles estavam tentando, que JB mudou de novo de esconderijo, que um capanga que eles sequestraram ainda não falou nada.

E o que eu responderia?

Que eu estou bem? Para não  se preocuparem?

Claro que não.

Até eu me preocupava comigo. Talvez eu tinha enlouquecido de vez e se eu realmente estivesse doida - sorrio ao terminar de pingar as gotinhas - isso não importaria muito na situação atual em que eu havia me imposto.

Enzo me encarava como se eu tivesse três mamilos mas por caridade ele decidiu tomar um chá comigo e assistir televisão. Parecia óbvio pra mim que ele estava odiando cada segundo não só  do programa florzinha que estávamos assistindo, como também ser minha babá.

Você não espera que um bandido do tráfico altamente treinado e equipado para matar qualquer intruso que invadisse aquela casa, apaixonado pela ideia de estar preso com uma mãe chorosa que esperava pela volta dos filhos.

Mas quando Maluma dava uma ordem, ele esperava ser seguido sem críticas e resmungos. E por isso Enzo estava  - vamos deixar bem esclarecido - a muito contragosto comigo nessa noite.

Já não me lembro muito bem como era o Maluma por quem me apaixonei.

Acho que ele era encantador e charmoso, tinha um lado frágil e perigoso. Esse Maluma de agora era apenas perigo e uma frieza calculada que eu não queria nem chegar perto.
Sinto falta da pessoa que fui, do casal que fomos por apenas um momento. Mas não vejo mais como isso parece ser importante agora.

O medicamento demorou muito pra fazer efeito. Enzo lutou até o último  minuto contra o sono implacável e quando tive a certeza que ele estava pra lá de baguida. Comecei a agir.

Amarrei seu corpo ao sofá com vários lençóis  que fui achando pelo caminho. Quando tive a certeza que mesmo que ele acordasse ele estaria bem preso para não ser um estrago. Peguei minha bolsa e saí escondida pela entrada dos empregados.

O taxi demorou mais do que achei que seria necessário e me deixou de frente com a boate em que uma vez eu e Maluma...

Não era hora para se pegar a esse tipo de pensamento.

As pessoas me olhavam como se eu não pertencesse ali. Talvez minha calça de moletom, camiseta de croche e sapatilhas com meias não fosse lá uma vestimenta adequada para aquele lugar.

O ambiente estava espesso de fumaça e cheirando a álcool, drogas e menta. Mulheres bonitas cheias de vida brotavam de todos os lugares, eu já fiz aquela vida, hoje eu preferia um sofá filme e meus filhos. Como eu pude ter envelhecido  tanto?

Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora