Capitulo 37

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                           MALUMA   

Se tem algo nessa vida que odeio mais do que JB, era esperar. Esperar não era uma arte, ou uma filosofia de vida pra mim. Era apenas mais uma forma da vida me mostrar que eu estava na merda e  que em instantes eu poderia perder tudo de novo.

Perder-me de novo, perder o que sempre deveria ter sido meu, perder a única sombra de amor e de paz que já tive em minha vida.

Pra mim Amanda era tudo. E eu era péssimo demonstrando isso, mas em minha defesa eu nunca fui ensinado sobre o amor, ser amado era uma fraqueza, mas foi sempre ela, sempre foi ela. Amanda era minha melhor defesa, minha força, meu escudo.

Pensei que deixa-la ter uma vida longe de mim, com uma pessoa  mais decente do que eu, fosse o melhor pra ela. Não que Bryan seja um homem decente. Ninguém que está preso nessa vida, nesse jogo vicioso pode se quer pensar em ser uma pessoa decente. O mal acaba habitando em todos nós. Aqui não existe o cara bom e o cara ruim, existem apenas pessoas fazendo o pior umas para as outras, afim de que o lado feio de suas vidas não ultrapasse a corda.

E isso seria literalmente a corda que protege seus amigos, seus compatriotas e o mais importante, a sua família.

"La  ley es dura, pero es ley".

Ou ainda outros diriam: "La sangre se paga con la sangre".

Mas ninguém, nenhum deles consegue saber o peso que é  estar em meus ombros agora.
Deixei a água correr pelo meu corpo, hoje marcado com cicatrizes e tatuagens. Já não me lembrava da dor de possuí-las ou do momento  em que elas começaram a me esconder do mundo. Nada doía  mais do que o medo que eu sentia em meu coração.

Maluma com medo? Que piada, diriam. Pensar em Amanda sendo abusada, torturada e os meus filhos - engulo em seco, abaixando minha cabeça contra a água - fazia meu sangue gelar.

_Maluma cara, é foda mano, mas você precisa ver isso aqui - escuto a voz de Diego.

Nem penso em que estou fazendo, apenas saio para fora e encaro Diego boquiaberto na frente de seu computador.

_Porra cara, põe uma roupa - chiou Diego voltando para o computador - Mafiosos de merda.

_Não sou um mafioso - informo-o, assumindo uma postura firme atrás de sua cadeira - Você me pegou desprevenido, o que diabos você encontrou?

_Primeiro que não quero nem pensar no teu pau no encosto  da minha cadeira, um pouco de respeito por quem está trabalhando por favor - diz Diego me indicando com as mãos que me afaste um pouco - Segundo, você ainda tem os contatos antigos do seu pai?

Não.

_Posso conseguir, continue - encaro seu computador e não consigo entender nada dos vários símbolos que sobem continuamente na sua tela.

Ela digita mais alguns códigos estranhos e faz uma cara feia pra mim, algumas telas de câmeras se abrem e observo alguns caras mal afeiçoado trocarem malotes.

Dinheiro ou drogas.

_O que isso tem haver com o sumiço da minha mulher? - questiono.

_Minha mulher - riu Jhonas entrando com um grande copo de cerveja - Ela não quer ver suas bolas tão cedo mijo.

Ignorando Jhonas continuo a olhar Dioga puxar transações  de rotas, veículos e bordéis.

_Quem fez essa merda é  um cretino meio louco - disse ele - Mas meio burro também.

_Explique - Diego tinha a a capacidade de me enfurecer rapidamente, eu odiava esperar.

_Digamos que seu pai era um homem organizado e patriota. - ele deu de ombros - Antigamente era difícil, cargas externas de outros países navegarem em nosso país, muito menos Gangues locais agirem de forma tão idiota. Seu pai não admitia merda.

_Com certeza não- usou Jhonas, sentando-se no sofá e cursando suas pernas - Seu pai era um velho maquiavélico com certeza mas ele tinha um código de conduta.

_Ele não tinha nenhum escrúpulo - não é  porque morreu que vai virar um santo. Não mesmo.

O olhar de Jhonas tornou-se um pouco sombrio. Ele já trabalhou muitas vezes pro meu pai, o velho tinha conseguido arrancar dele o mais importante. Respeito.

_Não estou dizendo que ele era um bom samaritano - Jhonas praticamente rosnou - Mas seu pai mantinha as coisas em ordem. Ele não admitia tráfico de crianças e mulheres, tráfico de prostituição, escravidão e ele encarava as drogas como um comércio. Ninguém é obrigado a comprar essa merda, assim como ninguém é  obrigado a comer chocolates. Mas se existe um comércio, que ele seja o mais organizado. Ele comandava todas as rotas e nada acontecia sem ele saber.

_Quando seu pai morreu, apareceu várias facções. Alguns comércios de mafia estrangeira e bem... tem seu irm...  digo o Balvin né, o cara parece o Joker. - suspirou Diego - Bem, temos duas opções.

_Fale - se ele enrolasse mais um pouco.

_A gente pode chegar explodindo cada maldito cartel da minha hum... pequena  lista. Ou... você pode fazer umas ligações.... - sorriu Diego - As ligações que deveriam ter sido feitas, quando seu pai morreu.

_Escolho a primeira opção - informei a eles e fui pegar uma toalha.

Nem fudendo eu iria ser aquilo que meu pai era.

_É  sério isso? Vai cair seu pau ou algo assim? - disse Charles chegando com uma bacia de burritos - Hermano, pensa por só um fodido momento.  Nós  somos bons, mas somos poucos. Quantos malditos cartéis tem nessa merda? Vai demorar um tempo e vai alertar o palhaço de que você está chegando.

_Você  precisa estabelecer prioridades - concordou Jhonas dando seu último gole  e acendendo um charuto - Você pode fazer umas ligações ou... enterrar alguns corpos.

_Jhonas - sorri.

Jhonas levanta  as sobrancelhas vagarosamente para mim e da uma baforada em seu charuto barato e fedorento.

_Vá buscar meu terno, eu tenho algumas  visitas para fazer.

_Eu acho que vocês não entenderam que existem 56 cartéis na minha lista e hum... eu esqueci de falar do pen drive. Porra, traga uísque.

Mas que merda era agora.

_Cuspa fora.

_Olha cara eu não quero ser aquele a te dar a noticia - disse Diego se afastando do computador - No pen-drive tinha apenas um documento muito específico.

_ Que era? - rosnei indo em sua direção.

_Um teste de DNA, ao parecer um dos gêmeos não é  seu... parabéns? - tentou ele com os braços abertos.

Voo em sua direção e o agarro  pelo colarinho, ele não pode estar falando sério. Quais eram as chances.

_Acontece o tempo todo e...cla-claro que também pode ser uma mentira pra te tirar do sério. Mas esse laboratório  é  bem credenciado - murmurou Diego rapidamente enquanto o suspendo pelo ar - Em todo o caso é  apenas uma vantagem. Bryan já foi buscar a menina.

Bryan. Foi. Buscar. A. Menina.

_O que você quer dizer com Bryan  foi buscar minha filha? - rosnei pra ele mostrando  os dentes.

_Ele estava comigo quando eu estava decodificando os códigos e ele leu primeiro que JB só quer a mulher e o filho dele, a sua filha ele meio que está devolvendo. Deixou ela em uma sorveteria.

_Você deixou Bryan buscar a minha filha? -gritei erguendo-o ainda mais de encontro a parede.

_Cara - silvou  Charles com uma mão em meus ombros- Você tem um problema de raiva e tudo mais, mas o foco tá em outras bolas na sorveteria.

Charles ergueu a chave de uma de suas motos para mim e solto Diego  para pegá-las.

_Mandarei o endereço pro seu celular - informou Diego massageando  seu pescoço - Porra, acho que urinei em minhas malditas calças.

Colocando o primeiro conjunto de roupas que encontro pelo caminho, saio rua a fora para buscar um dos meus pedaços soltos.

Apartir dali nunca mais ninguém teria o que era meu. Ninguém estaria em meu lugar e quem não entendesse isso.

Saberia rapidamente de outra forma.

Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora