Capítulo 16

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Bryan

Estive sentado naquele lugar há algum tempo, apesar de parte de mim querer estar ali, não achava que isso faria algum sentido ou que eu teria algum direito de participar de suas vidas. E imaginar que antes, muito antes, eu poderia ter me livrado dessa sensação. Incapacidade. Desconfiança. Desespero. Preocupação. Se eu apenas tivesse embarcado naquele avião as coisas poderiam ter sido diferentes, ou não - nego a pensar - ainda continuo com o mesmo pensamento, batendo no fundo de minha mente uma e outra vez. Eu faria outra escolha se me fosse dado à oportunidade? Provavelmente não.

Se eu tivesse ficado com ela naquele momento, retirado suas mãos das dele e prendido nas minhas, as coisas ainda seriam iguais? Provavelmente não. Se eu apenas tivesse - suspiro, eu odiava aquele sentimento - minhas mãos são tão grandes e ao mesmo tempo tão pequenas como naquele dia, se o bastardo do meu irmão eu tinha... Eu tinha. O peso em meus ombros é maior do que antes, mas não é um fardo que eu queira reclamar. Você nunca está pronto para cuidar de alguém, dizia minha mãe. Eu poderia ter acreditado nela, mas sempre fui um filho da puta teimoso e um objetivo dado era um objetivo concluído. Eu poderia plantar uma árvore com aquelas mãos e tirar a vida de alguém instantes depois, mas eu nunca imaginei que estaria trocando fraldas, dando de mama e cantando algo sobre uma galinha.

Era uma péssima ideia, eu sabia disso, Deus sabia disso e lá estava eu, dia após dia. Parece o típico de ideia bizarra de uma autora sem coração. O que eu estava pensando? Era um pouco paranoico imaginar um ser humano escrevendo sobre algo tão infeliz. E ainda sim, não seria Deus o pior autor clichê dos últimos tempos? Não era de todo ruim, uma onda tem tantas versões de si mesmo, que seria impulsivo julgar uma situação só porque não sou capaz de ver sua outra face ainda.

Minhas botas batem no chão atraindo olhares por onde passo, eu poderia caminhar por esses corredores de olhos fechados. Eu tentaria ignorar que um cara do meu tamanho chamava muita atenção nos meus melhores dias, mas Isabela não tinha passado bem pela manhã e não importa o quanto eu falasse para Miguel não puxar a chupeta dela, o garoto continuava tentando e viviam no limite.

Isabela me olha chateada, obviamente ela quer que eu tome providências quanto a sua chupeta, a garotinha tinha três meses de muita sabedoria e era obvio que iria começar a berrar a plenos pulmões se eu não alcançasse sua chupeta antes de Miguel abocanha-la.

_Um homem não chupa chupetas cor de rosas garoto - aviso a Miguel antes de pegar a chupeta, mas não antes de ver seu bico formando-se, ele era um menino exigente que não desiste fácil, seu lindo rosto inocente de bebê já estava maquinando em como pegar a chupeta de volta - Esta não é sua chupeta, não roube sua irmã, garotas são bruxas más vingativas.

Uma senhora extremamente peituda para sua idade faz cara feia para meu nobre comentário, mas ninguém conhecia Miguel como eu, ao final termino por levar Isabela em meus braços enquanto Miguel fica rabugento no carrinho, admitir a derrota não era fácil para o pequeno bárbaro.

_Um dia você entenderá amigão - digo a ele ao dar sua chupeta azul - O melhor movimento contra uma garota é o não movimento.

Isabela parece não entender que meu comunicador interno deve ficar dentro de meu ouvido e sou obrigado a ajeita-lo novamente antes de abrir o quarto de Amanda. Isso me dá um tempo para pensar, a reação sempre era a mesma e mesmo assim cada vez ficava pior, eu me perguntava se esse seria seu desejo também? Queria ela que eu cuidasse de seus filhos? Ou ainda. Eles cresceriam comigo trazendo-os para ver a mãe deles toda manhã em coma?

Eles precisam de você - murmuro em meus próprios pensamentos - E Miguel gorfa em sua blusa de guerra trazendo-me a realidade novamente.

_Um homem guarda seus miolos garoto - aviso enquanto ele começa a gritar irritado, com o rosto extremamente vermelho - Já entendi um cara não gosta de ficar molhado.

Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora