Capítulo 22

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DANIELA

Havia momentos em que eu pensava: A vida é um suspiro de paz em meio à tormenta. E nem sempre – eu quero dizer isso – nem sempre às coisas acontecem como queremos ou planejamos e mesmo assim, elas não deveriam ser tão difíceis. Poderíamos culpar a Deus? Ao destino? Ou a nós mesmos? E se mesmo assim a escolha é nossa, por que o fardo também não seria? Chegaria a ser cômico se a vida não fosse na verdade, cruel. Viver era cruel. Amar era cruel. Perder a si mesma, era cruel.

Deus não brinca com a vida das pessoas, seres humanos sim. Foi assim no passado e seria assim no presente. A culpada daquilo era eu, sempre seria eu. O mundo e as pessoas enxergam o que querem e sempre seria assim.

A porta da frente se fecha com um baque surdo. Não preciso virar-me para saber que ele esta ali, meu passado, atual presente, nunca um futuro. Engulo rapidamente minha cerveja e dou uma ultima fungada no cigarro. O ar sai lentamente por meus lábios e as ondas, as ondas parecem severas ao beijar meu rosto. Apenas um fragmento do que eu era antes.

_Quando você começou a fumar? – a pergunta parece distante e por apenas um momento perco-me em minha respiração. Confundo-me com o vazio e não sei se sou eu ou ele fazendo essa pergunta tão tola.

Pego minha arma e a alojo em minha cintura, confiro novamente meu colete e amarro minhas botas em silêncio. _Eu estava me perguntando – comento com o fantasma a minha frente – Como você consegue gostar dos cigarros? São amargos, fazem doer seus pulmões, um acesso de tosse incontrolável e então depois, o êxtase, o prazer puro e a paz vêm depois do sofrimento.

Seus olhos me encaram com certa distância, parece quase frio ao toque. _Não estou te cobrando nada Maluma – sorrio, sorrir era tão mais fácil agora – Foi apenas um joguete, então me explique o porquê – encaro o relógio – você faz em minha casa as três da manhã?

Maluma apenas permanece em silêncio e direciona-se para o sofá. Parece cansado, como se o fardo fosse maior do que pudesse suportar. Mas eu não poderia, não mais, esquecer meus fragmentos para juntar os dele. _Eu não sou ela Maluma.

_Eu sei.

_Então por que estás em minha casa?

_Porque eu não posso estar na dela.

Então era isso. Simples, cortante e vazio. _Também não pode estar na minha.

_É mesmo? – ele sorri, como um verdadeiro jogador de poker.

_Estou saindo, tenho trabalho a fazer na delegacia.

_As 3 horas da manhã?

Em qualquer hora, se eu posso ficar longe de você. _ Estou fazendo horas extras, vou fazer um cruzeiro no final de semana.

_Entendo.

_Até logo.

Escuto apenas um "Okay", antes de minhas pernas levarem-me para fora de minha própria casa. Era a minha casa então por que? Por que eu estava fugindo? Porque em realidade – fungo para evitar as lágrimas – em verdade eu ainda o amava. Eu o amava mais do que podia suportar.

Todas as barreiras que eu construí, todas as vezes que me permiti curtir o passeio sabendo que teria um fim, tudo já estava fadado para aquele momento.

Meus pés  se arrastam pelas ruas em direção ao meu carro. Entro no carro e afundo no banco da viatura. Me permito chorar até o soluço  ser calado pelo barulho das sirenes tocando pela avenida, enquanto dirijo em alta velocidade.

Não havia redenção.

A dor sempre seria a mesma, ele sempre tinha a tendência  de destruir o que tocava. E agora eu teria que reunir meus cacos novamente.

Outra vez.

Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora