Capitulo 46

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                      DANIELA

É estranho como as coisas mudam de sentido e como encaramos a realidade de forma diferente conforme passamos por processos de dor, mágoa e cura. Aquele sentimento de amor ainda estava presente mas já não era... necessário. As prioridades haviam mudado e eu havia me tornado  minha própria  prioridade.

Perdi tudo o que eu tinha conseguido lutar na minha vida. Pra uma pessoa  como eu, que foi criada para não manter laços significativos com ninguém  é  difícil. É  difícil se importar, consequentemente quando nos importamos com alguém é  mais difícil ainda largar.

Pessoas como eu, não medem consequências, nós  somente realizamos nosso trabalho com excelência. Tudo pela Federação, pelo nosso "governo".

Fui treinada para dar a minha vida ao meu país, seja na guerra, com uma amizade sem valor ou em um casamento fracassado como o da minha mãe. Peões  não, uma peça. Por gerações  pessoas de linhagem familiar a minha foram "criadas" e moldadas o poder e a força do Império. Antes para a segurança da milícia aristocrática e hoje se pensarmos por um lado esse legado ainda precede, sem títulos de barão, rei ou conde, mas ainda assim, empresários, CEO, políticos e presidentes. O que é  um título quando a geopolítica é  a mesma?

E quando eu, uma peça  sem importância foi descartada sem o menor cerimônia eu já não sabia. Não sabia o que fazer da minha vida, pois tudo até agora desde a escolha de meu pai, a meu relacionamento com os Londoños, tudo, tudo foi estrategicamente pensado.

O objetivo da Federação nesse país era o controle do tráfico. Não acho que, olhando por sobre a superfície, isso seja um ato de bondade, como eu bem sei e como Maluma bem aponta. Tudo é  comércio. Tudo é  dinheiro. E dinheiro, é  poder. Só  que agora a minha vida vale mais, pra mim, do que a ordem dos meus superiores.

Eu só quero viver.

Eu só quero sobreviver.

As vezes eu só queria chorar, mas eu não conseguia. Fui criada para ser tão forte que nem meu subconsciente  me permitia esse momento de Redenção. Eu nunca seria perdoada. Sempre seria mais uma e do começo ao fim, as coisas tinham sido planejadas para não dar certo. Pessoas como eu não podem amar ou ainda, serem amadas.

Se eu queria voltar? Pra isso, pra essa vida? Não.  Mas isso, essas pessoas eram tudo o que eu tinha. E dessa vez, eu não jogaria o jogo deles, faria meu próprio jogo. No entanto, o perigo de ir contra a maré é  somente o sacrifício. Se eu começasse isso  eles iriam me matar. Mas que diferença faria viver ou morrer  se não há ninguém importante para  ficar.

_Bem você parece mais baixa do que eu me lembrava - disse um cara de óculos com um Laptop sentando ao meu lado na mesa do café.

Estava pronta para mandá-lo para fora quando encaro atentantamente o pior caso de pessoa infiltrada na minha vida. Sua peruca estava torta e seu moletom estava do avesso. Ele parecia magro sobre todo aquele pano. E me encarava com extrema soberba e curiosidade.

_E você seria?

_Me chame de Diego - ele arruma seus óculos. Ele precisava daquilo ou nao? - Eu sou o gênio de TI infeliz  que trabalha pro Senhor Londoño.

Senhor, mas que merda - rio - como um cara assim trabalha pra Maluma?

_Enfim, vamos logo por isso que não gosto de aparecer em público - seu desgosto era evidente, o que Maluma tinha feito pra ele vir até aqui? - Temos que alinhar algumas ideias, para darmos início ao projeto melancia.

Ele enruga seu nariz.

_Desculpe... projeto melancia? - beberico meu copo de café, duplo, sem açúcar e sem vida.

Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora