Capítulo 26

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Alguns anos depois.

AMANDA

Já imaginei vários finais para os rumos dessa história, mas eu não estava preparada para as marcas que ela deixaria. Viver com seus frequentes lembretes estava enlouquecendo-me aos poucos - mas ainda assim - ele causava o mesmo efeito que sempre causou. Enlouquecia-me só de olhar para ele. E era isso, o fim de cada barreira que eu erguia para me afastar daquele olhar penetrante de quem teria minha calcinha e destruiria meu coração em dois segundos.

Esse era Maluma, o supremo cantor, comestível e pai dos meus filhos.

_Você está fazendo essa cara de novo - disse Carol, balançando uma folha de pedidos na minha frente - E agora esta ficando brava de novo, não entendo como você pode não gostar desse Deus! Quer que eu troque de canal?

Para que? Era a pergunta. Já haviam se passado anos. Anos! Anos que eu voltei do coma. E a reviravolta era tanta que eu não conseguia nem pensar. E apesar disso suas músicas ainda pareciam lembretes afiados para mim.

Algo sobre alguém ter me roubado de seu amor ou seria algo sobre eu ter roubado seu coração e não querer devolver. Cretino. Como ele podia escrever sobre tantas mentiras?

_Mulher eu não tô aguentando essa sua cara, cruzes - Carol troca a música do pequeno rádio clandestino que tínhamos no pequeno laboratório onde trabalhávamos.

Nesses anos eu só tenho a agradecer Bryan, por ter incentivado em meus estudos, me ajudado a criar meus lindos babys e ter me amparado quando eu mais precisei.

E mesmo assim suspiro focando-me nas inúmeras colônias bacterianas que eu tinha que inocular em meus ágar, ele ainda era uma bomba relógio dentro da minha mente. Nenhuma maldita ligação, nenhuma mísera mensagem, nada, nada, nada. Nunca em três anos e cinco meses! Ele não se interessou por nada, nem nos seus filhos até ontem.

_Filho da puta! - xinguei e Carol me dá um olhar atravessado.

Eu estava vivendo sozinha com os gêmeos desde que eu me formei, foi chato desfazer-me de Bryan. Éramos amigos mas eu sentia que ele queria mais e eu não poderia dar mais para ninguém. Oh não eu não poderia fazer aquilo, Maluma arruinou-me para os homens, para todos os homens. Como eu posso confiar em algum deles? Eles mentem.

E para piorar meus filhos estavam tão inteligentes que chegava a doer - solto um gemido exasperado - Isabela era como um pesadelo em cachos e Miguel era como um pequeno conquistador mirim.

Recebi três - exatamente três gigantescos - bilhetes da direção. Como uma criança de quase seis anos recebe tantos bilhetes? O primeiro era para avisar que Isabela "fez" o coleguinha na sala de aula cair. O segundo e o terceiro também era sobre isso e quando eu pedi explicações ela disse como se não fosse nada:

_Eu mal toquei nele mamãe.

_Você não pode empurrar os coleguinhas Isabela.

_Ele estava implicando com o Miguel mamãe e eu ameacei bater nele.

_Não pode ameaçar Isabela, você não tem nem idade para saber o que é isso. Como ele caiu se você não encostou nele?

_Não encostei nele mamãe - ela deu de ombros continuando a montar seu lego - não tenho culpa que ele cai toda vez que chego perto, sou apenas uma criança não controlo os fenômenos da natureza.

Ah sim, "os fenômenos da natureza" e quando pedi explicações para Miguel, ele apenas sorriu e me deu uma flor e beijou minha bochecha e disse:

_Eu te amo mamãe.

E foi isso, todo o DNA do Maluma nos meus filhos! O homem me roubou tudo, inclusive o DNA. Eu tinha crianças encantadoras que nunca me fariam esquecer do pai delas, os meus genes tinham que batalhar melhor para conseguir um espaço em toda aquela cadeia de aminoácidos.

Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora