Esperei tanto que a terça-feira chegasse logo para poder ver o Miguel e me desculpar com ele que não contei que justamente hoje iniciaria o primeiro dos quatro piores dias do mês pra mim. Odeio quando meus dias vêm. Eu mal consigo encostar no meu próprio corpo por causa da minha fobia. Droga!
Minha amiga teve que ir à faculdade sozinha, pois ela sabe que não tenho a mínima condição de ir com todos os reveses que a minha menstruação me traz. Passo a maior parte do tempo deitada, enjoada, enojada e sentindo dores por todo o meu corpo. Não sei se isso acontece com todas as mulheres, eu acho que não, já que nunca ouvi nenhum comentário desse tipo da minha minha amiga, ou das mulheres da minha família. Creio que devem sentir algo comum como uma cólica normal, mas no meu caso é um tormento. Ou eu sou muito fraca?
O pior de tudo é ter que lidar com o sangue. Por esse motivo, minha ginecologista me indicou um coletor menstrual e toda vez que tenho que trocar, faço com os olhos fechados, no chuveiro para não ter a visão do líquido vermelho cujo cheiro já me faz vomitar. Penso se um dia eu vou vencer isso.
Levanto-me da cama e decido ir até a cozinha. Ponho um casaco grande, uma pantufa e saio do quarto apenas com um coque desfeito no alto da minha cabeça. Caminho devagar sentindo as dores em meu ventre e costas me magoarem. Não nasci pra sentir dor, essa é a maior verdade da minha vida.
Tomo uma jarra de água em mãos, um copo grande e despejo o líquido dentro. Tiro a cartela de remédio para cólica do bolso do meu casaco junto com um relaxante muscular, retiro um comprimido de cada e os engulo rapidamente para evitar sentir o gosto que é horrível. Faço um esforço para engolir, mas eles param em minha garganta e não tem jeito, uma tosse me vem violenta, fazendo meu peito todo queimar e doer pela força que faço. Sem conseguir parar, já ficando nervosa por isso, acabo derrubando a jarra e o copo no chão da cozinha, quebrando-os em vários pedacinhos e molhando o cômodo todo.
Desastrada como sempre.
- Não se mexa, senhorita! - Ouço a voz que tanto queria ouvir, mas agora em advertência. É a voz de Miguel, mas não o respondo por ainda não conseguir falar, mal posso respirar. Ele percebe e vem me socorrer. O homem se põe atrás de mim, circulando os braços em meu tronco, na altura dos meus seios. - Vou desengasgá-la. Apenas confie em mim.
Diz e nem dá tempo de emitir qualquer resposta ao posso que ele começa alguns movimentos, pressionando minha caixa torácica como se fosse quebrá-las, mas rapidamente o remédio voa da minha boca, caindo no balcão da ilha, e minha respiração começa a ficar normalizada.
- Obrigada!
Minha voz sai um pouco rouca pelo engasgo. Olho para o homem que ainda está atrás de mim, com seus braços em torno do meu corpo e enrubesço. Seus olhos verdes escurecidos me fitam intrigados e só então percebo que senti sua falta de verdade. Pisco algumas vezes confusa com o que estou sentindo. É confuso. É estranho. Por longos segundos, não paramos de nos olhar e vejo que varre meu rosto com seus lindos olhos. Certamente, está reparando minhas olheiras.
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VITTORIA FONTINELLY -TRILOGIA IRMANDADE I
RomanceEsse livro contará a história da única filha mulher do grande Don Fontinelly. Com vinte anos de idade, Vittoria só quer conquistar a mesma liberdade que seus irmãos têm, porém precisará convencer seus pais, principalmente o grande Don, que tem capac...