Alta

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Sarah entrou no quarto ansiosa, Nick encarava a janela e o dia que ia anoitecendo lá fora.

– Oi filho... – Ela disse incerta.

– Oi. – Ele tentou sorrir.

– Você se lembra de mim? –Nick encarou as mãos e desviou o olhar.

– Sinto muito. – Nick encarou a mulher com lágrimas nos olhos. – Eu não lembro, mas meu coração está feliz por vê-la.

As lágrimas caíram e Sarah o abraçou.

– Oh meu filho, que susto você me deu. Eu te amo, Nicolas. O médico disse que sua memória vai voltar gradualmente, não tenha medo ou pressa. Estarei sempre ao seu lado.

– Eu sofri um acidente? – Perguntou confuso. – Tudo parece tão estranho e fora do lugar, eu não sei quem eu sou e eu não me lembro de nada... Quando me esforço, dói.

Sarah segurou em sua mão e beijou. Sorriu para o filho e sentou-se ao lado dele.

– Não se esforce, tem que ser natural. E sim, um motorista avançou a preferencial e bateu na lateral do nosso carro, você estava dirigindo. Você estava sozinho no carro no momento do acidente.

– Mãe, eu estou com a sensação de que eu preciso ver alguém, mas que eu não sei quem é... Eu sinto que é muito importante pra mim. Além de você, claro. – Ele tentou sorrir. – Estou preocupado com o bem-estar de alguém que eu sequer lembro. – Lágrimas caíram dos olhos do garoto.

– Ele está no corredor, aguardando a sua vez de entrar. – Sorriu. – Você vai se lembrar de tudo, querido, não chore.

Nick assentiu.

– Obrigado por me abraçar, eu estava com medo.

– Vou te abraçar a vida toda, meu filho.

Sarah ficou ao lado do filho explicando sobre o seu estado clínico e sobre quem ele é. Nick ouviu tudo e tentou se situar em seu próprio corpo. À medida que Sarah ia falando ele tinha flashs do acidente, mas nada sobre antes dele.

– Vou sair para que Charlie possa entrar, ele está ansioso e preocupado com você. – Disse a mulher se afastando do filho.

"Charlie"...

Nick pensou naquele nome e imediatamente seu coração acelerou. Ele não sabia o porquê, talvez Charlie fosse um amigo muito importante.

Nick ouviu as batidas na porta e em seguida um garoto entrar no quarto. Charlie era lindo, os cachinhos, a estatura, o rosto fofo. Nick encarou seus olhos e não gostou de vê-los vermelhos e inchados.

– Oi.

– Oi. – Nick sorriu. – Charlie... – Repetiu o nome como que para provar que era dele.

– Sou eu. – Sorriu se aproximando. – Você quer me matar de susto?! Não pode fazer isso Nick, eu não posso perder você.

E de repente Charlie estava chorando outra vez.

– Desculpa...

– Não podemos usar essa palavra. – Sorriu. – Eu não deveria estar chorando agora, você precisa de cuidados e eu...

– Você é tão lindo e doce... – Nick disse tocando o rosto de Charlie.

– Eu amo você, Nick, não me deixe preocupado assim de novo. Eu surtaria se perdesse você para sempre. Eu não sei como eu poderia viver sem você por perto.

Nick ficou sem reação por alguns segundos.

– Você poderia me abraçar? Eu preciso muito que você me abrace, preciso que fique perto de mim.

Charlie o abraçou, depois deitou ao seu lado e o abraçou novamente.

– Charlie, o que somos? Eu não me lembro de você, mas o meu corpo lembra e o meu coração também. – Nick pegou a mão de Charlie e pôs sobre o seu peito, onde o coração batia frenético.

– Somos namorados.

– UAU. Então tá explicado o porquê meu coração parece que vai sair do peito. Eu não sei como explicar isso, mas eu sinto fortes sentimentos por você.

Minutos depois os pais de Charlie também entraram, o médico permitiu que Sarah entrasse para que todos se despedissem de Nick. Ele ficaria no hospital até o dia seguinte. Charlie hesitou muito em deixa-lo sozinho, mas não tem muitos argumentos contra os procedimentos do hospital.

– Amanhã eu estarei aqui cedinho para buscar você, prometo. – Charlie disse se despedindo de Nick.

– Já estou ansioso por isso. – Respondeu com um sorriso ladino.

As famílias voltaram juntas para casa, Sarah combinou o horário com Nick e seu pai para que fosse junto buscar Nick no dia seguinte.

Charlie jogou-se na cama sentindo todo o seu corpo tremer, depois da notícia e do calor do momento ele estava sentindo o nervosismo tomar conta do si. Nick era tudo que Charlie sonhou todos esses anos, ele o amava demais, a possibilidade de perdê-lo para sempre o paralisou.

Ele abraçou o travesseiro e enxugou as lágrimas, Nick não se lembrava dos dois e de tudo que viveram até o dia do acidente. Em meio ao medo de perder Nick para o esquecimento Charlie decidiu editar um vídeo com fotos e pequenos textos falando sobre os dois. Tinha muito trabalho a fazer, queria surpreender Nicolas e talvez ajudá-lo a se lembrar deles.

Charlie acordou apressado, rapidamente se ajeitou e desceu para encontrar o pai e Sarah. Ele vestiu uma camisa que Nick gostava e deixou seus cachinhos na testa, da forma que Nick dizia ser fofo. Esperou impacientemente o trajeto inteiro e todos os protocolos hospitalares até estar abrindo a porta do quarto do namorado.

– Oi, bom dia! – Disse ao se aproximar.

Nick estava sentando na cama já vestido com suas roupas casuais e pronto para ir embora daquele lugar.

– Oi, como seu cabelo tá fofo. Aliás, você. – Sorriu envergonhado e desviou o olhar. – Onde está Sarah? Quer dizer, minha mãe...

– Está assinando os papéis da sua Alta. – Charlie sentou-se ao lado do garoto e encarou as próprias mãos. – Fiz algo para você... Vou te enviar no caminho, assisti quando chegar em casa... O médico disse que era melhor eu te deixar descansar por hoje.

Charlie disse indicando o celular.

– Obrigado. Bom, sobre o que o médico disse... eu não gostei. – Sorriu fazendo Charlie sorrir também.

– Eu odiei o que ele disse, mas não quero forçar você a nada. Você precisa se recuperar gradativamente. Se acontecer alguma coisa por excesso meu vou me culpar para sempre. – Confessou.

– Não vejo como qualquer excesso seu seja prejudicial para mim. Você não me parece tóxico.

– Eu não sou.

– Isso é óbvio. – Nick sorriu outra vez. – Se você por acaso quiser desrespeitar as ordens médicas, eu adoraria conversar mais com você. Eu não sei se lembro como se usa o celular...

– Oh Deus! Vou deixar o que fiz pronto para você, te mostro como acessar. Me desculpa, eu esqueci esse detalhe.

Depois de resolvida a parte burocrática, os quatro saíram do hospital e foram para a casa de Nick. Sarah agradeceu ao pai de Charles pela gentileza e deixou os meninos a sós para se despedirem.

– Bom, chegamos.

– Podemos nos falar pelo celular?

– Óbvio! – Charlie sorriu.

Nick o abraçou forte, por um tempo significativo.

– Não esquece que eu te amo. – Charlie sussurrou e Nick o abraçou ainda mais.

Charlie entrou no carro e Nick o viu partir.

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