Capítulo 1

1.8K 72 15
                                    


Anahi

- Você acha que há alguma relação entre ser inteligente e bom de cama? - eu disse. Traguei do toquinho que sobrou de papel enrolado e segurei a fumaça no pulmão ao passar o baseado para a minha melhor amiga. Pelo menos nessa rodada eu não tinha engasgado nem tossido por cinco minutos. Nenhuma de nós fumou maconha nos últimos dez anos, desde a época da escola. Parecia oportuno marcar o fim oficial da nossa juventude fumando esse, que Maite confiscou do seu irmão de dezesseis anos ontem.

- Estou prestes a me casar com um homem que cria robôs capazes de aprender como pensamos. É claro que eu vou dizer que caras inteligentes são sem sombra de dúvidas os melhores na cama. Bom, o Ucker consegue solucionar um cubo mágico em menos de trinta segundos. A vagina é bem menos complicada.

- Aquele amigo dele, o James, é fofo. Mas passou a última hora contando sobre um algoritmo que ele está criando para um robô de inteligência artificial chamado Lindsey. A minha contribuição na conversa se resumiu a "nossa!" e "que interessante". Você pode dizer ao Ucker que ele precisa arranjar amigos mais burrinhos?

Maite tragou e falou enquanto tentava segurar a fumaça, o que fez com que a voz dela subisse duas oitavas.

- Ele estudou no MIT e trabalha em uma empresa de tecnologia... Vai ser difícil achar amigos burrinhos. - Ela me cutucou com o ombro - É por isso que preciso que você se mude pra cá. Não aguento ficar cercada de gente inteligente o tempo todo.

- Que fofa você - suspirei – o James até que é bonintinho, pelo menos.

- Então estou entendendo que é hoje que você sai dessa seca?

- Talvez amanhã à noite, logo depois do casamento – disse com um sorriso metido – Se ele der sorte. Ainda estou no horário Nova York. Hoje à noite já estarei caindo de sono na mesa quando estiverem servindo a sobremesa.

A futura noiva e eu estávamos nos escondendo do restante dos convidados do jantar de pré-casamento, atrás de um arco de treliça coberto por uma trepadeira, no pátio do restaurante. De repente, uma voz profunda e rouca me deu um susto, e quase derrubei o tal arco.

- Se ele der sorte, é? Você é tão bonita de frente como é de costas, ou é só convencida mesmo?

- Mas o que ... - Virei para o homem vindo na nossa direção, no escuro – Por que não vai cuidar da sua vida?

O cara deu mais alguns passos largos e pôs-se sob a luz do refletor de teto que Maite e eu estávamos tentando evitar. Meus olhos quase se esbugalharam. Alto, bem alto – eu tenho um e sessenta e três e estava com um salto de doze centímetros, mas mesmo assim tinha de esticar o pescoço para olhar no rosto dele. Cabelo escuro, sensual, como se precisasse de um corte, mas que ainda assim ficava bem pra ele. Pele bronzeada, mandíbula quadrada e bem definida, e uma barba rala que devia ter crescido em duas horas, de tanta testosterona que o cara exalava. Os olhos dele eram de um verde claro que se destacava no rosto moreno e algumas ruguinhas marcavam a pele ao redor dos olhos, o que me fez pensar que ele devia sorrir com frequência. E que sorriso. Não era bem um sorriso completo – era mais como um sorrisinho dissimulado, de gato que acabou de engolir o passarinho.

Todo aquele conjunto de homem era meio que demais para absorver de uma só vez. Mas enquanto fiquei ali parada, muda, Maite o abraçou.

Tomara que ela o conheça mesmo, pensei, e não que esteja mais chapada do que eu imaginava.

- Alfonso! Você conseguiu vir.

Ufa.

- Claro que sim. Eu não perderia o casamento do meu amigão. Desculpe o atraso. Estava em Sacramento a trabalho e tive de alugar um carro e vir dirigindo, porque cancelaram meu voo hoje à tarde.

Sex without love? - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora