– Está tão boa quanto a da Nanna Bella – Alícia estava mastigando outra almôndega. – Mas não contem que eu disse isso.
– Não vou contar, se você limpar o seu quarto antes de irmos ao jantar dela no domingo.
Nada como um bom suborno.
– Se você contar para ela, eu vou negar.
Apontei para o Alfonso com o garfo.
– Tenho uma testemunha.
Alfonso balançou a cabeça.
– Eu não ouvi nada. Alícia, você disse alguma coisa? Alícia mostrou as covinhas dela balançando a cabeça. – Não, não disse nada.
Os dois tinham se unido contra mim desde que saímos do apartamento. Eu não me importava, especialmente porque isso parecia distrair a Alícia depois daquele dia horrível que ela teve.
– Você também é descendente de italianos, Alfonso?
– Sou.
– A sua mãe costumava fazer um jantar de domingo, como a Nanna Bella?
– Não. Minha mãe ficou doente por muito tempo quando eu era criança.
– Ah, a minha também. Ela teve câncer. – Alícia estava me surpreendendo naquele dia, sendo tão aberta. – A sua mãe morreu?
– Alícia – tentei chamar a atenção dela para as regras básicas de boas maneiras. – Isso não é conversa para o jantar.
– Tudo bem, eu não ligo – Alfonso disse, voltando a atenção para a Alícia. – Ela morreu quando eu tinha dezessete anos.
– Ela ficou doente por muito tempo? A minha ficou doente por um ano. Ela teve carcinoma bronquíolo-alveolar. Eles chamam de câncer de células pequenas. Quase ninguém que não fuma tem isso. A minha mãe nunca fumou.
Aquele nome de doença não devia ser um vocabulário comum para uma menina de quinze anos.
– A minha mãe ficou doente por muitos anos. Mas ela não ia ao médico. Ela não se cuidou.
Alícia levantou o pulso para mostrar a ele a sua pulseira da sorte, que ela usava todo dia.
– Era da minha mãe. O meu pai comprou para ela. – E manuseou os pingentes da pulseira até achar um lacinho cor de pérola. – Este foi a Any que me deu no ano passado, no aniversário da minha mãe. É a fitinha que representa o câncer de pulmão. Tem uma fitinha para a doença que a sua mãe teve?
Alfonso olhou para o próprio pulso.
– Não que eu saiba. Mas a minha mãe que fez esta pulseira. – Ele usava uma pulseira de couro linda, com um fio prateado entrelaçado. Eu já tinha notado antes. – Ela fez muitos trabalhos manuais quando não conseguia mais sair da cama.
Meu Deus, esse estava sendo o encontro mais estranho da história. Estávamos em um restaurante italiano chique com uma adolescente de quinze anos e falando de morte. E... nem era para ser um encontro.
Alícia fez uma cara triste.
– A mãe do luke morreu também. E ela também não ia ao médico. Alfonso e eu nos entreolhamos.
– Vocês parecem bem próximos – ele disse.
– Nós éramos. Até ele decidir ir ao baile com a Brittany.
Alícia muito raramente me permitia acessar os seus sentimentos. Eu aproveitava qualquer oportunidade de entender o que se passava na sua cabecinha adolescente.
– Por que você não convidou o Luke para o baile, se queria ir com ele?
Ela enrolou o macarrão com o garfo. A voz dela ganhou um tom vulnerável que eu raramente ouvia.
– Fiquei com medo.
– Com medo de ele recusar?
Ela assentiu.
– E agora ele gosta da Brittany.
– Talvez não. Às vezes as pessoas aceitam só para poder ir a um encontro. Um brilhozinho de esperança cruzou os olhos da Alícia.
– Como com você e o Marcus?
Bati os olhos no sorrisinho do Alfonso. Suspirei.
– Sim, mais ou menos. Ele é legal, então saí com ele para dar uma chance. – Apertei a mão da Alícia. – Você é novinha. Não estou dizendo para você convidar todos os meninos bonitinhos da escola. Mas, já que era um baile em que meninas convidam meninos, e você gosta mesmo dele, devia tê-lo convidado. Não tenha medo de sofrer.
Quando olhei de volta para o Alfonso, ele estava me encarando. Ele falou com a Alicia sem parar de olhar para mim.
– Esse é um bom conselho, eu acho.
Depois do jantar, Alfonso voltou ao nosso apartamento para nos acompanhar. A Alícia agradeceu a ele pelo jantar e foi para o quarto assim que entramos.
Arranquei os sapatos de salto.
– Muito obrigada por hoje. Sei que não foi o que você tinha em mente para o encontro, mas agradeço. Você tem um lado doce, Sr. Herrera.
Ele olhou por cima do meu ombro, na direção do quarto da Alícia. Vendo que estávamos mesmo sozinhos, colocou as mãos em torno da minha cintura, entrelaçando os dedos nas minhas costas.
– Ao menos admita que era para ser um encontro.
Eu não tinha pensado direito nas palavras que usei. Mas eu podia ser sincera. Ele merecia.
– Coloquei este vestido pra você e também o perfume de que você disse que gostou quando nos conhecemos.
Um sorriso se abriu lentamente no rosto dele.
– Eu sei. Mas é bom ver você admitir a verdade uma vez na vida.
– Meu Deus, você é muito arrogante! Não consegue simplesmente aceitar um elogio?
Ele pegou o meu rosto com as duas mãos.
– Sexta à noite. Só nós dois.
Concordei com a cabeça. Em algum lugar entre a conversa aberta que ele teve com a Alícia no jantar e a nossa volta para casa, cedi.
Os olhos dele baixaram até os meus lábios.
– Agora me beije. Tô com saudade dessa boca.
Pela primeira vez, nem pensei a respeito. Eu o beijei – bom, pelo menos foi assim que começou. Alfonso assumiu o controle depois de uns três segundos. Foi menos selvagem do que os outros beijos, provavelmente porque sabíamos que a Alícia estava logo ali e podia sair do quarto a qualquer momento. Mas foi apaixonado. Antes de acabar, ele fez aquilo que me deixava louca – puxou de leve o meu lábio inferior com os dentes. Caramba, o homem beija bem.
– Às sete? – ele perguntou.
– Encontro marcado – assenti.
Ele sorriu e se inclinou para a frente, para dar mais um selinho na minha boca.
– Sim. Sempre foi um encontro.
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Sex without love? - AyA
Fanfictiono amor vai chegar e quando o amor chegar o amor vai te abraçar o amor vai dizer o seu nome e você vai derreter só que às vezes o amor vai te machucar mas o amor nunca faz por mal o amor não faz jogo porque o amor sabe que a vida já é difícil o basta...