Capítulo 14

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ANAHI

Um feixe de luz quente estava batendo diretamente nos meus olhos quando acordei. Desorientada, não tinha ideia de onde estava nem de que dia era. Sentei na cama confortável e dei uma olhada no quarto, que me pareceu familiar, até que o que havia acontecido de manhã me veio à cabeça. A casa do Alfonso. Tinha deixado o celular na minha bolsa, que ainda estava na cozinha – eu acho – e não havia nem sinal de relógio no quarto de hóspedes. Então, depois de passar no banheiro, saí para pegar o meu telefone, tentando não acordar o Alfonso caso ele ainda estivesse dormindo...

Só que... Alfonso definitivamente não estava dormindo.

Fiquei paralisada ao virar a esquina do corredor dos quartos para a cozinha e a sala. Ele estava de costas para mim, no fogão, fritando algo que parecia ser bacon – sem camisa e dançando ao som de Billy Joel.

Na categoria "melhor vista ao acordar", essa deveria ganhar o primeiro lugar. Ele estava de calça de moletom cinza, com o cós bem abaixo da cintura, e os músculos das costas dele formavam um V até os ombros largos. Não havia dúvidas de que o homem malhava – muito. Fiquei lá em silêncio, só o observando rebolar um pouco ao som da música, lembrando-me de como ele tinha uma ginga boa quando havíamos dançado juntos no casamento da Maite. Que merda.

- Espero que você não seja vegetariana. Não faço nada com tofu, especialmente bacon.

Dei um pulinho de susto ao som da voz dele. Ele não tinha se virado para ver que eu estava ali, e continuou sem se virar.

O meu coração acelerou.

- Você me deu um susto. Ele finalmente se virou.

- Eu? Não fui eu que fiquei espiando a sua bunda enquanto você fritava bacon.

Estreitei os olhos para fazer cara de brava:

- Eu não estava espiando a sua bunda.

- Tudo bem se estivesse, não ligo.

- Eu não estava espiando a sua bunda.

Alfonso voltou para o fogão, abriu o armário e tirou um prato, depois usou um pegador para tirar o bacon da frigideira.

- Quanto mais negamos a verdade, mais poder ela passa a exercer sobre nós.

Ele colocou o prato sobre a mesa antes de me olhar de novo com um sorriso divertido.

- Mas, pensando bem, pode continuar negando. Assim você vai ficar mais focada ainda.

- Que bundão você é, sabia?

Alfonso levou a mão à orelha, como se quisesse ouvir melhor.

- Que foi? Você elogiou o meu bundão?

- Você é sempre chato desse jeito pela manhã? Deve ser por isso que mora sozinho.

- Já faz tempo que não é mais de manhã. São quase três da tarde. Vem comer. O seu ovo vai ficar pronto num minuto.

- Três da tarde? – Me dirigi até a mesa, esquecendo o comentário sobre a bunda. – Dormi quase o dia todo.

- Você estava precisando.

Ele fez uma caneca de café para mim.

- Leite, açúcar?

- Sim, por favor. Não tô acreditando no tanto que dormi. A que horas você acordou?

- Umas onze horas. – Ele me entregou a caneca.

- Obrigada.

Quando me passou a caneca, olhei involuntariamente para o peito dele. Teria sido rápido e inofensivo, caso ele não tivesse percebido. Jesus, o homem não deixava passar nada! Ele levantou uma sobrancelha e sorriu.

- Cala a boca. Vá colocar uma camiseta, se não quer que eu olhe.

- Mas eu não disse que não queria que você olhasse.

- Qual é a sua? Você é um pavão? Exibindo por aí as suas penas para atrair fêmeas?

- Não é uma má ideia. Me permita te mostrar o meu rabo. Não aguentei e ri.

- Vamos começar tudo de novo. Bom dia, Alfonso. O sorriso dele foi genuíno. Ele assentiu.

- Bom dia, Anahi.

- Você dormiu bem?

- Dormi. E você?

- Eu não me lembro da última vez em que caí dura assim. A cama é muito confortável.

- Fico feliz que tenha gostado. Só para você saber, a do quarto principal é do mesmo modelo, caso você queira testá-la da próxima vez.

Balancei a cabeça.

- Você não consegue se controlar, né? Tudo é sempre sexo. Ele deu uma risadinha e foi para o fogão buscar os ovos.

- Falei com o Ucker agora há pouco. Ele disse que a Maite e a bebê estão ótimas, e que eles vão voltar para casa amanhã de manhã, provavelmente.

- Nossa, que rápido! Acho que eu ia preferir passar alguns dias no hospital para ser bem cuidada antes de voltar para casa.

- O Ucker vai cuidar bem dela.

- Sim, tem razão. Esqueço que ela tem um marido fantástico – eu disse e, depois, em tom de deboche: – Às vezes esqueço que esse tipo de marido existe.

- O Ucker me contou que você é divorciada. Foi só o que consegui arrancar dele.

- Ele é um cavalheiro. Prefere não dizer nada a dizer algo ruim, então tenho certeza de que ele não tem nada a dizer sobre o Manuel.

- Você falou algo sobre prisão. O que houve, se você não se importar de eu perguntar?

- Vou resumir para você. Eu me casei depois de seis meses de namoro. Vivi o perfeito sonho americano em uma cobertura com um homem lindo e rico. Ele foi preso três anos depois por fraude, e eu não tinha noção nenhuma disso. Fui enganada por todos os lados. Ele me deixou com uma dívida maior do que o que eu ganho com um ano de trabalho, porque tinha feito falcatruas em meu nome e me nomeou como a única responsável da filha dele de treze anos, que me odiava. Ainda estou tentando lidar com essas duas coisas dois anos depois.

- Jesus.

- Pois é. – Eu estava ansiosa para mudar de assunto. – Você sabe quais são os horários de visita?

- Das 15h30 às 17h30 e das 18h30 às 20h30. Mas o Ucker disse para tentarmos ir mais cedo porque ele encomendou um jantar no restaurante preferido da Maite, que será entregue às 18h30.

- Ele é um fofo. Então acho bom irmos logo. Estava querendo fazer check- in num hotel e tomar um banho antes de ir, mas acho que não temos tempo.

- Você pode tomar banho aqui. E fique o tempo que quiser. Tenho que viajar amanhã de manhã para o norte, a trabalho, então você vai poder ficar sozinha aqui.

- É muito gentil da sua parte. Mas talvez eu aceite só o banho, se estiver tudo bem para você. Depois da visita no hospital, vou procurar um hotel.

- Depois do jantar, você quer dizer?

- Jantar?

- Meu jantar de aniversário. Você aceitou jantar comigo.

- Meu Deus. Esqueci totalmente. Parece que aquela conversa aconteceu há uma semana, não nessa madrugada. Ainda é o seu aniversário?

- É. Mas vou passar a tocha para a bebê Caroline depois de hoje. Trinta é a última idade que vou comemorar. Depois de hoje, ela pode ficar com o aniversário só para ela. Então, você vai me ajudar a comemorar o meu último aniversário.

- Nossa, que pressão. Agora acho que tenho que colocar um vestido e ser superdivertida e inteligente.

Alfonso piscou.

- Fique à vontade para usar um vestido bem curto e decotado. 

Sex without love? - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora