Capítulo 52

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ALFONSO

UMA SEMANA DEPOIS

Puta merda.

Sempre desconfiei que fosse ela.

Eu costumava visitar o túmulo do Jayce algumas vezes por ano. Mas, no aniversário dele, toda vez que eu chegava já havia flores lá. Era uma combinação muito estranha: uma violeta, um lírio, um cravo e talvez duas rosas, além de duas aves-do-paraíso. Não era um arranjo que um florista faria. E as flores não formavam um buquê também, eram apenas amarradas de forma desorganizada com um pedaço de juta. Elas me faziam pensar que alguém entrava em uma floricultura e pegava aleatoriamente algumas flores do seu gosto – ou do gosto da pessoa que seria presentada – sem tentar combinar uma com a outra.

E era por isso que eu suspeitava que fosse ela. Era a cara da Diana – ousado e lindo, fruto da visão dela.

Ela estava de costas, mas de longe eu sabia que era ela. Por puro hábito, parei e observei à distância. Eu fazia isso nos primeiros meses após nosso término – sem querer vê-la e, ao mesmo tempo, sem conseguir ficar longe.

Ela estava andando de um lado para o outro em frente ao túmulo do Jayce, e achei que talvez ela estivesse conversando com ele. Parecia mesmo. Sorri quando a vi apontar o dedo na direção da lápide. Depois de assistir àquilo por mais tempo do que deveria, eu me virei para ir embora. Voltaria mais tarde. Mas só tinha dado alguns passos quando a voz conhecida me chamou.

– Alfonso?

Merda. Congelei.

O que diabos eu fiz? Continuava andando e fingiria que não a ouvi? Eu já tinha sido babaca demais. Talvez fosse hora de dar a cara a bater. Respirando fundo, virei devagar.

Quanto tempo fazia? Jayce tinha morrido havia mais de sete anos. Todo esse tempo e ela estava exatamente igual e, ao mesmo tempo, totalmente diferente do que era. Ainda era linda, mas agora mais madura – mais reservada.

– Oi – eu disse.

Que jeito besta de começar a conversa depois de tanto tempo. Ela sorriu e inclinou a cabeça.

– Você estava indo embora porque me viu?

Os nossos olhares se encontraram.

– Verdade?

– Sempre.

Fiz que sim com a cabeça.

– Sim.

– Eu estava acabando. Venho todo ano no aniversário dele para dar uma bronca nele. Deixe só eu me despedir do Jayce, já vou embora. – Ela virou para o túmulo por um minuto e depois de volta para mim. Eu não tinha me movido um centímetro de onde eu estava. – Tudo pronto. Ele é todo seu para você dar uma bronca também. – Diana deu um passo em direção a um carro estacionado na viela do cemitério e olhou para mim de novo. – Você está com uma aparência boa, Alfonso. Espero que esteja feliz.

Ela estava quase entrando no carro quando finalmente tomei coragem – embora não tivesse ideia do que dizer a ela.

– Diana... espere.

Fui até o fim da fileira do túmulo do Jayce, onde ela estava. Mas fiquei mirando o chão, como um garotinho tímido.

– Você está com uma aparência boa – comentei.

– Como sabe, se não está olhando para mim? – ouvi o humor na voz dela. Ela não tinha mudado, mesmo depois de tantos anos.

Olhei para ela, e ela sorriu. Foi um sorriso verdadeiro. Ela não guardou rancor.

– Você está feliz? – perguntei.

A mão dela pousou sobre a barriga, que eu não tinha notado.

– Estou. Estou grávida de quatro meses e sofro com os enjoos matinais o dia todo. Mas estou feliz. – Ela apontou para o carro. – Aquele é o meu marido, o Alan.

Uau. Olhei para o carro estacionado. Eu não havia notado que tinha alguém sentado no banco do motorista. Que dia ótimo.

– Parabéns.

Ela olhou para mim. – Me dê um instante.

Assenti, mas principalmente porque eu não fazia ideia do que ela estava falando. Então, ela foi até o carro e falou com o marido. Inclinando-se na janela, ela o beijou, e ele ligou o motor.

Quando Diana voltou para onde eu estava, o carro já tinha ido embora.

– Vem, vamos dar uma volta. O Alan vai dar um tempinho para colocarmos a conversa em dia.

Comecei a andar ao lado dela, sem saber aonde estávamos indo ou o que ela poderia dizer.

– Você está casado? – ela perguntou. 

– Não.

– Divorciado?

– Não.

– Filhos?

– Não.

Ela me examinou.

– Você ainda não sabe, né?

A pergunta podia se referir a milhões de coisas, mas eu sabia exatamente do que ela estava falando.

– Não. Eu te falei, não quero saber.

– Você não apresentou nenhum sintoma ainda?

Balancei a cabeça.

– Ainda não.

Caminhamos em silêncio até chegar a uma encruzilhada. Fomos pela direita.

– Você se apaixonou de novo desde que terminamos? Nem precisei pensar.

– O nome dela é Anahi.

– O que ela acha da sua decisão de não fazer o exame?

Enquanto eu pensava em uma maneira de responder, Diana chegou à conclusão correta.

Ela assentiu.

– Você me largou porque não queria que eu o visse ficando doente. Tentei por meses te fazer mudar de ideia. Então estou imaginando que agora você acha que o melhor é nem contar sobre a possibilidade da doença para a mulher que ama. Só amá-la e largá-la sem dar nenhuma explicação, para assim ela te odiar. Estou certa? Ela não sabe que você tem chance de desenvolver a doença de Huntington. E que é teimoso demais para fazer o exame.

– Para que contar? Para ela se preocupar comigo? Diana parou.

– Achei que você a amasse.

– Eu amo.

– Mas então ela não merece a verdade e a chance de tomar a decisão?

– Não. Às vezes mentiras poupam as pessoas de muita dor. Você sabia, e ficou mais difícil para você superar. E se eu contasse para ela e a deixasse fazer parte da decisão, e ela me convencesse a fazer o exame? E se desse positivo, ela não me deixasse e me visse sofrer e morrer aos quarenta anos?

– E se der negativo e você tiver deixado de viver a vida com a Anahi?

Respirei fundo.

– É um risco grande demais. Ela tem um passado. Você não entende. Todos os homens que passaram na vida dela a decepcionaram. Não posso fazer isso com ela. Não posso ser mais um homem a decepcioná-la.

Ela me olhou nos olhos.

– Acho que você já é mais um, Alfonso.

Sex without love? - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora