Capítulo 44

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ANAHI

A cama estava vazia.

Eu devia ter adormecido em meio à plenitude pós-sexo. Erguendo a cabeça, virei para pegar o meu celular do criado-mudo e quase morri de susto quando vi o Alfonso sentado na cadeira de balanço em frente à cama.

Sentei e puxei o lençol para cobrir o peito.

– Não tinha te visto aí.

– Desculpe. Não quis te assustar.

Ele tinha colocado a calça jeans, mas não fechou o botão. Estava sem camisa e sem sapatos.

– O que você está fazendo?

Ele franziu o canto da boca.

– Observando você dormir.

– Que estranho. Foi interessante?

– Hipnotizante. – Ele se pôs de pé, veio até mim e beijou a minha testa. – Preciso ir. Preciso me reunir com o departamento de construção daqui a pouco, e você tem uma consulta daqui a uma hora.

– Ah. Tá bom.

Ele me olhou e falou com calma:

– Está arrependida?

Eu não sabia se ele estava se referindo àquela manhã ou à nossa relação como um todo.

– De hoje ou de nós?

– Você me diz.

Ponderei com sinceridade sobre a questão antes de responder. Eu podia estar decepcionada, mas não arrependida do tempo que passei com ele.

– Não, não me arrependo.

– Jantar neste fim de semana?

– Sim, vai ser legal.

Ele me beijou de leve e foi embora.

Era eu quem deveria pagar para a Minnie dessa vez. No mínimo, não deveria cobrar dela. Nós tínhamos acabado a nossa sessão de terapia, mas ficamos batendo papo enquanto eu fazia um curativo nela.

Estava preocupada que os ferimentos nos seus dedos – resultado de sua obsessão de checar se a porta estava fechada, se o fogão estava desligado, entre outras – pudessem infeccionar. Coloquei luvas e limpei as feridas, depois fiz curativos enquanto falávamos da minha vida. Ao longo dos últimos dois meses, eu havia contado tudo sobre o Alfonso para ela.

– Há apenas três razões para esse homem não querer um relacionamento. Ou ele é um pescador, um leiteiro ou um padre.

Olhei para ela, espantada.

– Você vai ter de me explicar isso.

– Um pescador sabe que há muito peixe no mar, então não quer passar a vida pescando bacalhau, pois sabe que pode pegar também um atum ou um robalo que nunca provou.

Eu não tinha certeza se Minnie sabia que o eufemismo dela para falar do mulherengo era nojento – comedor de peixe. Mas entendi a ideia.

– Tenho a impressão de que esse não é o problema do Alfonso. Embora talvez eu só não queira acreditar que ele é desse jeito. O meu instinto me diz que não tem a ver com querer experimentar outra mulher logo depois de mim.

– Ok. Então talvez ele seja um leiteiro. Boa mulher em casa, mas continua fazendo entregas a donas de casas que nem desconfiam que ele é casado.

Eu ri.

– Não acho que isso seja possível. Fui à casa dele, e não tinha nem sinal de mulher por lá. Além disso, o Ucker e a Maite saberiam se ele estivesse em uma relação séria.

– Então ele é um padre.

Cortei o esparadrapo no último dedo e o alisei de maneira bem delicada a

fim de fechar o curativo.

– Definitivamente, ele não faz o tipo padre.

– Não quero dizer que ele seja recatado. Um padre se sacrifica pelo benefício dos outros – Minnie disse. – Abre mão da sua felicidade para que a comunidade não sofra.

Hmmm.

– Mas por quê? Ele estaria me protegendo do quê?

– Ele conhece a sua história. Talvez ele esteja com medo de decepcionar você, ou de não ser bom o suficiente para você.

Debochei da última parte.

– O Alfonso tem mais autoconfiança no dedo mindinho dele do que tenho no meu corpo inteiro.

– Às vezes a autoconfiança é uma máscara para que as pessoas não vejam as suas inseguranças.

– Talvez. Mas... esse perfil também não parece ser o dele.

– Vai ver a última namorada o fez sofrer. Ele já teve um relacionamento sério?

– Sim, um.

– Ele te contou o que aconteceu?

– Não. Ele deu uma resposta bem vaga, e não tenho ideia do porquê eles terminaram.

Minnie ergueu os dedos com curativo e os mexeu no ar.

– Talvez você devesse ir atrás de mais informação sobre isso.

Sex without love? - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora