Capítulo 48

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ANAHI

Eu tinha acabado de melhorar quando o fatídico dia chegou. Não estava ótima ainda – mas bem o suficiente para tomar um banho e passar um tempo em pé. Alfonso tinha ido me visitar algumas vezes depois daquela noite – tinha até levado pizza e um filme de terror para mim e para a Alícia um dia, sabendo que ela adorava filmes de terror.

Durante as últimas vinte e quatro horas, tentei evitar pensar em como me despedir dele, testando palavras diferentes.

Obrigada, foi superdivertido.

Vejo você por aí.

Sempre quando vier a Nova York, dê uma passadinha. A minha porta sempre estará aberta para você. Quero dizer, a minha vagina.

Cobro dez por cento de taxa de serviço.

Eu ia de triste a brava, depois ficava triste de novo. Era só uma questão de sorte – ou azar – qual Any ele encontraria quando chegasse.

Infelizmente para ele, quando o interfone tocou, eu estava brava. Não fui esperar na porta como costumava fazer, para não ter de olhá-lo pela última vez vindo pelo corredor até o meu apartamento. Em vez disso, deixei a porta aberta e voltei a ler o livro no qual não estava interessada, no sofá.

Alfonso bateu duas vezes antes de abrir a porta e entrar.

Acenei, mas não olhei para ele.

O constrangimento se instalou antes mesmo de ele fechar a porta – pelo menos para mim.

Ele se sentou na beira da mesinha e pegou os meus pés.

– Como a paciente está se sentindo?

– Melhor. – Agindo como uma adolescente insolente, eu ainda não tinha olhado para ele.

Ele ficou esperando – não disse nada por alguns minutos, até que eu finalmente olhei para ver o que ele estava fazendo. Ele me pegou no pulo.

– Aí está ela.

Ele sorriu, o que me deixou ainda mais irritada. Estava no seu estilo casual e lindo, e eu queria que ele estivesse como eu estava por dentro – uma bagunça. Eu odiava que ele parecesse tão pouco impactado pela nossa despedida.

– Não podemos simplesmente nos despedir e acabar logo com isso? – falei, com o máximo sarcasmo.

Ao menos ele parou de sorrir.

– Anahi...

– É sério. Nós dois somos adultos. Foi legal. Agora acabou. Não estou a fim de te chupar pela última vez, se é isso que você está esperando.

Alfonso baixou a cabeça e ficou olhando para o chão por um minuto. Quando voltou a olhar para mim e encontrou o meu olhar gélido, vi a dor nos olhos dele.

– Eu... Eu nunca quis magoar você, Anahi.

A minha boca começou a se mexer antes que o meu cérebro pudesse acompanhar.

– Pois magoou. E sabe por quê? Porque nunca foi só sexo. Você pode dizer o que quiser, mas você soube desde o primeiro dia também. Você não janta com a família de uma mulher, ajuda a filha dela com os arremessos de basquete e cuida dela quando ela está doente só para fazer sexo. E, a essa altura, acho ofensivo que você tente fingir que era só isso.

Alfonso passou os dedos pelo cabelo e respirou fundo.

– Você está certa. Sempre fomos mais do que isso. Mas isso não muda o fato de que preciso terminar.

Senti uma facada no meu coração. Engoli em seco.

– Talvez não tenha sido só isso. Mas sabe o que muda? – eu disse.

– O quê?

– O fato de que agora você me deve uma explicação.

Alfonso olhou diretamente nos meus olhos.

– Eu sinto muito, Any. Sinto mesmo.

Não consegui controlar as lágrimas. Mas ainda tinha um pouco de dignidade.

– Vá embora, por favor.

Eu o senti me olhando, mas não o encarei de volta. Por fim, ele ficou em pé. Fez um carinho no meu cabelo e beijou a minha testa. E saiu sem dizer palavra.

Chorei o choro mais horrível depois que ele fechou a porta. 

A coisa louca é que, mesmo com tudo o que eu havia passado com o Manuel, eu nunca tinha chorado por ele. Meu casamento implodiu em um instante. Depois do choque inicial de ver o meu marido ser preso e descobrir que ele não era o homem que eu imaginava, fui direto para a raiva – quase como se tivesse pulado toda a fase de perda e tristeza.

E, mesmo em meio ao caos em que o Manuel tinha me colocado, não perdi a esperança. Eu me senti decepcionada, maltratada, boba, enganada de milhões de formas, mas nunca duvidei de que eu merecia algo melhor, e que esse algo melhor um dia viria.

Naquele dia, porém, descobri por que me havia me sentido assim: porque tinha mesmo alguém melhor para mim, alguém que era perfeito para mim. O único problema é que esse alguém tinha acabado de sair pela porta, levando o meu último grão de esperança consigo.


Sex without love? - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora