Capítulo 59

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Eu estava sentado nos degraus desde a madrugada.

Vi o céu azul-escuro mudar de cor para amarelo e laranja ao nascer do sol. Fazia anos que eu não via o sol nascer ou se pôr. Isso é que era viver – não comer todas as mulheres da Califórnia enquanto esperava uma tremedeira nas mãos me dizer se eu estava doente. Havia decidido, ao longo das três últimas horas, que, se eu tivesse a sorte de ter a Anahi na minha vida, ia querer acordar uma hora mais cedo todos os dias, só para ter uma hora a mais com ela.

Eram quase oito horas quando ouvi a porta se abrir atrás de mim. Fiquei em pé no segundo degrau e vi que era a Bella. Ela me olhou e fechou a porta atrás de si.

– A minha filha está sofrendo. Olhei para baixo.

– Eu sei. Desculpe.

– Tem outra mulher?

– Não, não tem outra mulher. Ela parou por um momento. – Você ama a minha filha?

– Amo.

– Você está aqui para acertar as coisas com ela?

– É complicado, Bella, não vou mentir para você. Espero que tudo dê certo.

Ela olhou para mim por um momento.

– Você sabe como as mães italianas fazem almôndega caseira?

Franzi a testa.

– Acho que sim.

– A gente coloca a carne no moedor. – Ela mostrou com as mãos.

– Sim...

Bella puxou a alça da bolsa sobre o ombro e endireitou as costas.

– É isso que eu vou fazer com o seu saco, se você magoar a minha filhinha de novo.

Daí ela beijou as minhas duas bochechas e foi embora, deixando-me ali na escada.

Ela gritou por cima do ombro, já na calçada:

– A porta está aberta. Ela está na cozinha. Sem fazer safadeza no meu sofá, hein? Acabei de trocar a capa.

Ri comigo mesmo e a observei ir embora. Respirei fundo e entrei na casa.

A Anahi gritou da cozinha.

– O que você esqueceu desta vez?

Ela estava de costas, colocando café em uma caneca e com o celular na outra mão, lendo algo.

Esperei até ela colocar o bule sobre a mesa para não a assustar e falei em voz baixa:

– Oi.

Ela deu um pulo e virou na mesma hora. Piscando várias vezes, como se achasse que estava alucinando, ela pressionou o celular contra o peito.

Dei um passo hesitante na direção dela.

– Desculpe, não quis assustar você.

– Alfonso? O que diabos você está fazendo aqui?

– A sua mãe me deixou entrar. Vim conversar com você.

A adrenalina inicial deu lugar a uma espécie de sombra sobre o rosto dela. Ela fechou melhor o robe que estava vestindo.

– Que engraçado. Tentei falar com você há algumas semanas e você não quis falar comigo. Você nem se deu ao trabalho de responder à minha mensagem. Não parecia ter muito a dizer no batizado também.

Coloquei as mãos nos bolsos e olhei para o chão.

– Vi o seu ex na TV, entrando no seu prédio.

Fazia vinte e quatro horas que eu estava acordado com nada para fazer a não ser pensar no que diria para ela, mas a forma como ela me olhou indicava que aquela não era a coisa certa a dizer. Ela ficou puta.

Sex without love? - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora