Capítulo 56

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ALFONSO

– Liga a TV na NBC.

Sem "oi". Sem "como vai, amigão".

Peguei o controle remoto, liguei a TV e coloquei no canal em que o Ucker mandou colocar. Estava passando um comercial de xampu para calvície. Tirei o som e disse:

– Não tem acontecido muita coisa comigo nos últimos tempos, mas ainda tenho o meu cabelo todo.

– Espere.

– Você não vai me fazer assistir a um filme B de terror de novo, só para no final me mostrar o seu nome na consultoria de robótica, né?

– Cala a boca e olha a TV.

Eu tinha acabado de chegar de uma reunião, então tirei os sapatos e puxei a camisa de dentro da calça. Estava começando a desabotoar a camisa, com o meu celular pressionado entre a orelha e o ombro, quando começou o noticiário.

Aumentei o som da TV sem notar que o celular acabou caindo no sofá.

Que porra era aquela?

A tela estava mostrando um homem passando por entre repórteres a caminho de um prédio de apartamentos. Na legenda, lia-se "CONDENADO POR COMANDAR ESQUEMA DE PIRÂMIDE, MANUEL VELASCO  FOI LIBERADO HOJE". Um bando de repórteres estava colocando o microfone na cara dele, perguntando sobre a restituição das vítimas, enquanto ele tentava andar.

Manuel levantou a mão, claramente já experiente com esse tipo de situação, e disse:

– Gente, só quero ir para casa e ficar com a minha família. Responderei às perguntas de vocês amanhã.

Mas não foi isso que me fez pressionar o controle remoto tão forte que

quebrei a tampa de onde se colocam as pilhas. Era o prédio que ele chamou de casa.

Era o prédio da Anahi.

A reportagem não durou mais que um minuto. Em seguida, o noticiário continuou com uma matéria sobre assaltos a casas. Fiquei lá, parado na frente da TV. Me esqueci do Ucker, até que ouvi meu nome sendo chamado. A voz vinha do meu celular no sofá.

– Merda. – Peguei o celular. – Desculpe, cara. Derrubei o celular. – Você viu?

– Por que diabos ela está deixando o cara ficar na casa dela?

– Não sei. Mas sei um jeito de descobrir.

Ucker vinha me enchendo o saco para ligar para a Anahi desde que terminamos. Mas, desde que contei que tinha feito o exame, ele havia se tornado incansável.

– Você sabe que o resultado só sai na sexta.

– Tá, acho que a Any vai ser obrigada a dormir com o ex dela até sexta, então. Quer dizer, se o resultado for o que você deseja. Você não se importa de dividir ela com ele, né?

– Porra, o que você quer que eu faça?

– Pra começar, supere essas porras de "mas isso, mas aquilo". – Ele fez uma pausa. – São duas da tarde lá. Se você for para o aeroporto agora, consegue chegar por volta da meia-noite.

O meu coração começou a bater forte dentro do peito. Eu não conseguiria fazer aquilo.

Ou conseguiria?

Voar para Nova York a fim de dizer a uma mulher que eu tinha basicamente largado que ela não podia voltar com o ex-marido?

Haja colhão para isso.

Andando de um lado para outro, esqueci que ainda estava ao telefone, embora o aparelho continuasse na minha mão, até que Ucker falou de novo.

– Você vai se arrepender disso, cara. Você tá demorando demais pra tomar essa decisão.

Passei a mão pela cabeça. Merda. Ele estava certo.

– Preciso ir.

– Vai atrás dela, cara. Já passou da hora.

Sex without love? - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora